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Uma oração intercessória pela Igreja (77) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (77)

         7.3.1.4. A Sabedoria do Espírito em nossa cotidianidade (Continuação)

        O salmista cantando as maravilhas da Lei de Deus, escreve: “…. o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria (~k;x’) (chakam) aos símplices (ytiP.) (pethiy) (= mente aberta) (Sl 19.7).

            O simples por não perceber o mal do qual se aproxima, conduz-se perigosamente: “O prudente vê o mal e esconde-se; mas os simples (ytiP.) (pethiy) passam adiante e sofrem a pena” (Pv 22.3).

            Deus deseja produzir em seus servos aspectos do seu caráter. A sabedoria consiste em subordinar a nossa vontade aos preceitos de Deus, reconhecendo neles o caminho de uma vida com sábio discernimento na presença de Deus. “Ser sábio é dominar a arte do viver diário por intermédio do conhecimento da Palavra de Deus e sabendo aplicá-la em toda situação”, conclui MacArthur.[1]

            Deus concede este discernimento “aos símplices (ytiP.) (pethiy) (= ingênuo, tolo, mente aberta), sendo aqui aplicada a palavra às pessoas ingênuas que por não terem desenvolvido uma mente discernidora, é aberta à qualquer conceito,[2] não percebendo as armadilhas e contradições do seu mosaico inconsistente de pensamento.

            A Palavra nos conduz à maturidade, ao discernimento para que não mais tenhamos uma “mente aberta” onde tudo passe sem fronteira, sendo suscetível a todo tipo de sedução e engano.[3] Faz-se necessário que pensemos e, como nosso pensamento também foi afetado pelo pecado, pensemos sobre o nosso pensamento, rogando o Espírito de sabedoria concedido por Deus (Ef 1.17).[4]

            Deus, por intermédio da sua Palavra,  dá-nos sabedoria espiritual e discernimento para que possamos reconhecer nos seus testemunhos – a Palavra de vida eterna a fim de que vejamos com clareza os sinais dos tempos, sem nos deixar levar por falsas doutrinas engenhosamente criadas pelos homens, seguindo sabiamente o caminho de Deus.

            Como escreve Piper, “pensar intensamente sobre a verdade bíblica é o meio pelo qual o Espírito nos mostra a verdade”.[5]  Devemos, portanto, aprender a refletir sobre o ensino bíblico, suplicando o discernimento do Espírito.

            Quem anda em sabedoria não caminha de forma cambaleante (Sl 107.27).

            Paradoxalmente, o que tem faltado à Igreja é sabedoria para discernir, por intermédio da Palavra de Deus, o que está acontecendo.  Muitas vezes, temos sido iludidos, enganados e espoliados espiritualmente, justamente porque nos tem faltado a meditação na Palavra de Deus, acompanhada pela oração para que Deus nos dê a compreensão dos fatos, da sua vontade para o nosso momento presente.

            Deus não deseja um povo ingênuo, imaturo quanto à interpretação da realidade. Ele quer que sejamos maduros, aptos para discernir, interpretar os acontecimentos e que, sem titubear, sigamos os seus preceitos.

            A sabedoria propiciada por Deus  dá-nos discernimento para que possamos nos valer do que for útil em todos os conhecimentos sem nos perder em meio às suas contradições, tendo como elemento avaliador a Palavra de Deus.

            A sabedoria divina oferece-nos um quadro de referência que nos conduz cada vez à gratidão a Deus por tão grandiosa bênção. Para que possamos emitir um juízo de valor é preciso ter valores e um quadro coerente de interpretação a partir de determinado valor ou de um conjunto de valores. Notemos, portanto, que pensar com clareza é uma grande bênção de Deus.[6]

            Jesus Cristo afirma que aquele que deseja fazer a vontade de Deus deve examinar a doutrina: “Se alguém quiser fazer a vontade (Qe/lhma)dele (Deus), conhecerá (ginw/skw) a respeito da doutrina (didaxh/), se ela é de Deus” (Jo 7.17).

            É necessário discernimento para interpretar as doutrinas que nos são transmitidas a fim de saber se são de Deus ou não. Portanto, devemos desejar conhecer a vontade de Deus (Ef 5.17). 

        A esperteza dos falsos mestres

            Conforme vimos, os falsos mestres ensinam mentiras que se parecem com a verdade. O seu avanço é progressivo (2Pe 2.1). Com essa estratégia, seduzirão a muitos. Por causa do testemunho deles e de seus seguidores, o evangelho será caluniado.

            Por isso, como destacamos, precisamos treinar os nossos ouvidos: “Porque o ouvido prova  (!x;B’)(bahan)(examina, testa) as palavras, como o paladar, a comida” (Jó 34.3/Jó 12.11).

            O caminho da sabedoria é o caminho da santidade. Se nós queremos ser santos, devemos buscar na Palavra de Deus a coragem para cumprir os seus decretos, o ânimo para não nos abatermos com as ciladas do diabo, e o discernimento e sabedoria para que possamos interpretar a Palavra de Deus, avaliando os fatos, e aplicando os princípios eternos de Deus à nossa realidade cotidiana.

 

Maringá, 13 de junho de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]John MacArthur, Adotando a Autoridade e a Suficiência das Escrituras. In: John MacArthur, ed. ger., Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 39.

[2]“O simples (ytiP.) (pethiy) dá crédito a toda palavra, mas o prudente atenta  (yBi) (biyn) para os seus passos” (Pv 14.15).

[3] Cf. Louis Goldberg, Petî: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1249. Para um estudo mais detalhado da palavra, veja-se: M. Saebo, Pth: In: E. Jenni; C. Westermann, eds., Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1985, v. 2, p. 624-628.

[4] “Os cristãos precisam pensar sobre o pensamento. (…) A maioria dos seres humanos, contudo, nunca pensa profundamente sobre o ato de pensar. (…) Devido à devastação intelectual causada pela queda, temos a obrigação de pensar sobre o ato de pensar. Essa é a razão pela qual o discipulado cristão é, também, uma atividade intelectual” (R. Albert Mohler Jr., O modo como o mundo pensa: Um encontro com a mente natural no espelho e no mercado. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 44,45,54).

            “Você não precisa acreditar em tudo o que pensa, e a razão é simples: nós vemos o que queremos ver. (…) O nervo óptico, o único nervo com ligação direta com o cérebro, na verdade transmite mais impulsos do cérebro para o olho do que vice-versa. Isto significa que se cérebro determina o que o olho vê. Você já está precondicionado. É por isso que, se quatro pessoas presenciarem um acidente, cada uma vai relatar algo diferente. Precisamos nos lembrar, e ensinar aos outros, que não devemos acreditar em tudo o que pensamos” (Rick Waren, A batalha pela sua mente. In: John Piper; David Mathis, orgs. Pensar – Amar – Fazer, São Paulo: Cultura Cristã, 2013, p. 27).

[5] John Piper: In: John Piper; D.A. Carson, O Pastor Mestre e O Mestre Pastor, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 64.

[6]Veja-se: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 32.

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