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Uma oração intercessória pela Igreja (41) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (41)

            4.1.5.3.      Manifestações do Senhorio Pastoral de Cristo (Continuação)

L. Concede-nos dons para servi-lo por meio da igreja

             “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. 5E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. 6E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. 7 A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso”, orienta Paulo à igreja de Corinto (1Co 12.4-7).

            A Igreja é uma, porque há um só Espírito, um só Senhor, um só Deus. O Cristo encarnado só tem um corpo. Deus como Senhor da Igreja, por meio do Espírito, concede talentos aos seus servos para servirem à Igreja. Todos os crentes recebem do Senhor talentos para servir nessa igreja. A concessão graciosa de talentos, não elimina nem diminui a nossa responsabilidade de agir como servos (escravos) de Cristo.[1]

            Os dons concedidos pelo Espírito, longe de servirem para confusão ou vanglória, devem ser utilizados com humildade (1Co 4.7/2Co 5.18),[2] para a edificação e aperfeiçoamento dos santos (1Co 12.1-31/Ef 4.11-14/Rm 12.3-8).[3]

            Calvino (1509-1564) acertadamente diz que “se a igreja é edificada por Cristo, prescrever o modo como ela deve ser edificada é também prerrogativa dele”.[4]

            Kuyper (1837-1920) acentua que “Os carismata ou dons espirituais são os meios e o poder divinamente ordenados pelos quais o Rei habilita a sua Igreja a realizar sua tarefa na terra”.[5] O Carisma tem sempre um fim social: a Igreja; a comunhão dos santos.[6] E também, como elemento de ajuda na proclamação do Evangelho (Hb 2.3-4).[7]

            O Espírito é soberano na distribuição dos dons. Eles não podem ser reivindicados (1Co 12.11,18), antes, devem ser recebidos como manifestação da graça de Deus e utilizados para a glória de Deus e o serviço da Igreja.[8] Desta forma, estamos cumprindo o nosso papel conforme o Senhor nos chamou e capacitou a desempenhá-lo em sua Igreja em determinadas circunstâncias, por maior ou menor tempo, conforme a designação do Senhor dentro de seu propósito santo.

            A Igreja é a comunidade formada pelo próprio Deus, sendo constituída por pessoas que tiveram e têm, pela graça de Deus, a fé salvadora depositada unicamente em Jesus Cristo.

            De fato, todos os crentes recebem do Senhor talentos para servir nessa igreja. Por sua vez, os dons recebidos têm muito a ver com as habilidades com as quais nascemos, mas que na realidade, foram dadas também por Deus (graça comum). Os nossos dons não são motivo de vanglória, antes de responsabilidade diante de Deus e da Igreja de Cristo.[9]

            “No Novo Testamento, ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas para ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter diante de nós, o benefício que recebemos de servir e trabalhar na Igreja”, acentua Karl Barth (1886-1968).[10] 

            No capítulo 4 da Epístola aos Efésios, Paulo trata de modo especial da unidade da Igreja dentro da variedade de funções. Assim, está implícita a figura tão cara ao apóstolo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom funcionamento do corpo é a utilização de todas as suas partes de forma harmoniosa.

            Organicamente, cada membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel importante a desempenhar dentro do equilíbrio do todo. Certamente, existem diferenças de beleza e elegância entre nossos órgãos, todavia, todos são essenciais.

            Do mesmo modo, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenças entre nós, e, por vezes, não sejamos considerados pelos homens como dignos de algum valor, todos igualmente fomos criados à Imagem de Deus e, o fato é que todos somos essenciais no serviço do Reino: Devemos frisar no entanto, que não somos ontologicamente essenciais; antes, Deus, por graça nos tornou essenciais no seu Reino e, por isso, agora o somos.

Maringá, 07 de maio de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Quanto à questão bíblica de que todos nós somos escravos de Cristo, veja-se o excelente livro: John MacArthur, Escravo: A verdade escondida sobre nossa identidade em Cristo, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2012.

[2] “Ninguém possui coisa alguma, em seus próprios recursos, que o faça superior; portanto, quem quer que se ponha num nível mais elevado não passa de imbecil e impertinente. A genuína base da humildade cristã consiste, de um lado, em não ser presumido, porque sabemos que nada possuímos de bom em nós mesmos; e, de outro, se Deus implantou algum bem em nós, que o mesmo seja, por esta razão, totalmente debitado à conta da divina graça” (João Calvino,Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 4.7), p. 134-135).

[3]Obviamente, não estamos trabalhando aqui com as categorias de Max Weber (1864-1920), que define Carisma como             “…uma qualidade pessoal considerada extracotidiana (…) e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extracotidianos específicos ou então se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como ‘líder’”  (Max Weber, Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva,Brasília, DF.: Editora Universidade de Brasília, 1991, v. 1, p. 158-159). Como o próprio Weber explica, “O conceito de ‘carisma’ (‘graça’) foi tomado da terminologia do cristianismo primitivo” (Ibidem., p. 141). Weber tomou a palavra emprestada em Rudolph Sohm (1841-1917), da sua obra Direito Eclesiástico para a Antiga Comunidade Cristã (Cf. Ibidem.,p. 141). A análise das questões relativas ao domínio carismático, “estão no centro das reflexões de Weber” (Julien Freund, A Sociologia de Max Weber,Rio de Janeiro: Forense, 1980, p. 184). Sobre o conceito de Sohm, veja-se: https://www.jstor.org/stable/1202395 (Consultado em 07.05.2023).

[4]João Calvino, Efésios,São Paulo: Paracletos, 1998, (Ef 4.12), p. 125.

[5] Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chattanooga: AMG. Publishers, 1995, p. 196.

[6] Veja-se: Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 229.

[7] Vejam-se: João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 2.4), p. 56; João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã,São Paulo: Novo Século, 2000, p. 36.

[8] Veja-se: Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 207-208.

[9] Veja-se: João Calvino, Efésios, (Ef 4.7), p. 113.

[10]Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostle’s Creed according to Calvin’s Catechism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.

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