Uma oração intercessória pela Igreja (37)
4.1.5.3. Manifestações do Senhorio Pastoral de Cristo (Continuação)
D. Manifesta a sua Graça concedendo-nos a Paz
Nós, inimigos de Deus, fomos declarados justos em Cristo Jesus, nosso Senhor, encontrando, assim, a paz com Deus.
Na justificação Deus, Senhor e Rei, nos declara justos, perdoando todos os nossos pecados, os quais foram pagos definitivamente por Cristo. Por isso, já não há nenhuma condenação sobre nós; estamos em paz com Deus, amparados pela justiça de Cristo (Vejam-se: Rm 8.1,31-33).[1]
Deste modo, o Pai decretou nos justificar por meio dos méritos de Cristo, os quais são aplicados pelo Espírito Santo. O Senhor, no legítimo uso de seus direitos e prerrogativas, mudou o nosso status de condenados para declarados justos.
Deus em seu amor eterno e insondável, escolheu-nos em Cristo, transformando totalmente a nossa situação: de condenados passamos a filhos e herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).
É neste sentido que Paulo escreve aos Romanos:
Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; 2 por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus. (…) 11 e não apenas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação (Rm 5.1,2,11/Rm 1.7; 16.20,24; 1Co 1.3).
E. Justificou e Santifica os seus
A justificação que trouxe a paz, traz também como implicação necessária, a nossa santificação. O Senhor está comprometido também com o nosso crescimento espiritual.
Nosso Senhor declara que já não há mais culpa em nós; na santificação Ele nos purifica da corrupção. Na justificação temos uma mudança em nossa condição legal; a santificação envolve uma transformação moral.[2]
Paulo relembra aos crentes coríntios, qual era a vida deles antes de conhecerem a Cristo. Agora, lhes mostra que o mesmo Deus que os declarou justos também os santifica. Deus cuida de sua igreja também desta maneira, nos fazendo progredir, crescer, amadurecer em nossa fé: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11).
A justificação subjetiva marca o nosso novo itinerário de vida conforme o decreto eterno de Deus. Esse novo caminhar dirige-se à glorificação com o Senhor, vivendo conforme o propósito de Deus, para as boas obras, fruto da fé,[3] preparadas pelo próprio Deus para o seu povo (Ef 2.10). A justificação é frutuosa.
A graça justificadora jamais é estéril. A justificação implica necessariamente em santificação. A santificação pressupõe essencialmente a justificação. Não pode haver justificação sem que ela seja seguida pela santificação.[4]
Não ousemos dividir o indivisível. A separação destas duas verdades de nossa salvação, propicia cair no equívoco da anomia, declarando que já não há mais lei. Assim sendo, não precisaríamos de santificação visto que, considerados salvos, podemos fazer o que bem entendermos. No entanto, a verdade bíblica é outra: somos declarados justos para vivermos em santidade.[5] Como escreve Packer: “Na realidade, a santidade é o alvo da nossa redenção. Assim como Cristo morreu para que pudéssemos ser justificados, também somos justificados para que possamos ser santificados e santos”.[6] “Portanto, continua à frente, o plano divino para o resto da minha vida na terra é a minha santificação”.[7]
A nossa real justificação tem implicações éticas. A santificação é a grande evidência de nossa nova relação com Deus. A nossa justificação (subjetiva) nos dá o status de filhos. Como tais, salvos para sempre (Ef 1.5,13-14).[8]
O desafio para nós hoje é viver em harmonia com a nossa nova natureza e condição, andando nas obras preparadas por Deus para nós (justificação demonstrativa) (Ef 2.8-10).[9] Enquanto a justificação se ocupa com a culpa do pecado, a santificação se ocupa com a sua corrupção.[10] Fomos libertos da condenação. Agora, estamos sendo progressivamente libertos da contaminação.
Essa purificação gradativa e intensiva dá-se pela nossa obediência à Palavra de Deus, que é a verdade, como escreve Pedro: “Tendo purificado as vossas almas, pela vossa obediência à verdade….” (1Pe 1.22). A santificação consiste na aplicação honesta e piedosa da verdade, não da experiência. A experiência cristã é resultante do aprendizado e prática da Palavra.
A santificação é um processo que tem início no ato de Deus. Em outras palavras, estamos dizendo que fomos separados do mundo (sendo santificados), para crescermos, progredirmos em nossa fé (santificação).
O Espírito opera em nós a salvação a qual se evidencia em santificação (1Co 6.11; 2Co 3.18; 1Pe 1.2/Jo 17.17). O mesmo Espírito que nos regenerou por meio da Palavra (Tg 1.18; 1Pe 1.23), age mediante esta mesma Palavra, para que vivamos de fato, como novas criaturas que somos.
A Bíblia é o instrumento eficaz do Espírito, porque Ela foi inspirada pelo Espírito Santo (2Pe 1.21). Portanto, o Espírito não somente testifica que somos filhos de Deus, mas, também, nos ensina pela Palavra a nos comportar como filhos (Rm 8.14),[11] desenvolvendo em nós, ou seja, em todos os cristãos, o caráter de Cristo que consiste no fruto do Espírito.[12]
O propósito de Deus é reunir ao longo da história o seu povo a fim de constituir na eternidade, de forma definitiva a sua Igreja, remida em Cristo, santificada em Cristo e que se assemelhe ao seu Senhor.
Maringá, 01 de maio de 2023.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). “31 Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8. 31-33).
[2] Veja-se: Francisco L. Patton, Compendio de Doutrina e a Egreja, Lisboa: Typ. A Vapor de Eduardo Rosa, 1909, p. 96.
[3]Vejam-se: Catecismo de Heidelberg, p. 86; Confissão Belga, Art. 24; Segunda Confissão Helvética, XVI.2; Confissão de Westminster, XVI.2.
[4] Veja-se: R.C. Sproul, O Mistério do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p.123.
[5]“…. nunca se deve abrir uma lacuna entre a justificação e a santificação. (…) Você não pode, você não deve tentar dividir Cristo. É falsa a doutrina que diz que você pode ser justificado sem ser santificado. É impossível; você é ‘santo’ antes de ser ‘fiel’. Você foi separado. É por isso que você crê. Estas coisas estão entrelaçadas indissoluvelmente. Não permita Deus que as separemos ou que as dividamos, jamais!” (D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 33). Sobre esta correta ênfase de Lloyd-Jones, veja-se: Iain H. Murray, A vida de D. Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 331-332.
[6] J.I. Packer, A Redescoberta da santidade, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 28.
[7] J.I. Packer, A Redescoberta da santidade, 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2018, p. 49.
[8]“5 nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, (…) 13 em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1.5,13-14).
[9]“8Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie. 10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.8-10).
[10]Cf. François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 2, p. 825.
[11]Veja-se: Hendrikus Berkhof, La Doctrina del Espíritu Santo,Buenos Aires: Junta de Publicaciones de las Iglesias Reformadas; Editorial La Aurora, (1969), p. 80. Do mesmo modo, A.A. Hoekema, Salvos pela Graça,São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 37.
[12]Veja-se: James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 330-333.