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Uma oração intercessória pela Igreja (36) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (36)

4.1.5.3. Manifestações do Senhorio Pastoral de Cristo

             O senhorio de Deus sobre a sua igreja é desde a eternidade. A igreja sempre fez parte do plano divino. O propósito eterno de Deus envolve os fins e os meios para atingir os seus santos propósitos. Ele salvará todo o seu povo; preservará a sua igreja até o fim.

            Dentro deste plano majestoso no qual vemos estampada de forma especial a sabedoria de Deus no seu governo providencial, fica evidente, ainda que não entendamos todos os detalhes, a consecução dos meios por Ele organizado na concretização de sua santa e sábia vontade. Deste modo, podemos perceber biblicamente alguns aspectos do senhorio pastoral de Cristo para com a sua Igreja, da seguinte forma:

A. Salvou-nos conforme o Decreto Eterno de Deus

             Fomos destinados à salvação eterna em Cristo, nosso Senhor. De eternidade à eternidade fazemos parte do propósito glorioso de Deus. Paulo fala aos irmãos de Tessalônica a respeito de nossa eleição eterna: “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.9).

            Dentro desse plano soberano e majestoso de Deus, várias etapas são cumpridas na história.

B. Concedeu-nos o dom da vida

              Escrituras nos ensinam que estávamos mortos como consequência dos nossos pecados (Rm 3.23; Ef 2.1). Nessa condição, éramos, por natureza, inimigos de Deus e de sua Palavra. Entretanto, o nosso Senhor veio para nos conceder vida em abundância que começa agora, mas, que se estende por toda a eternidade: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23/Rm 6.11; Jo 10.10).

C. Abre o nosso coração para entender salvadoramente a Mensagem do Evangelho

            Paulo chegou a Filipos por volta do ano 49, em companhia de Silas, Timóteo e Lucas (At 16.1-3,10-12; 1Ts 1.1/2.2). Assim pôde pregar naquela colônia romana, evangelizando a Lídia, a vendedora de púrpura, e a todos os seus familiares (At 16.14,15).Poucos judeus residiam na cidade.

            O “lugar de oração” (At 16.13) indica a presença de alguns judeus, porém, em número inferior a dez homens, quantidade mínima considerada para se formar uma sinagoga. De acordo com a lei da Mishná, era permitido que dez homens judeus formassem, em qualquer lugar, uma sinagoga.[1] Havia cidades, inclusive, que possuíam várias. Estima-se que em Jerusalém houvesse cerca de 500 delas.[2]

            O auditório para o qual Paulo pregou era constituído de mulheres (At 16.11-13). Narra Lucas:

14 Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia. 15 Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso (At 16.14-15).

Notemos dois detalhes em especial:

            1) Lídia era uma mulher rica. Onde por vezes não esperamos boa receptividade, é quando nos surpreendemos.[3] Ela ouvia com atenção e prazer o que Paulo pregava: “nos escutava(a)kou/w)[4](At 16.14).

            2) Foi o Senhor quem abriu o coração de Lídia para compreender a mensagem do Evangelho. Sem esta ação de Deus a Boa Nova de salvação jamais seria compreendida salvadoramente: “O Senhor (ku/rioj) lhe abriu (dianoi/gw = abrir completamente)[5]o coração para atender(prose/xw)[6] às coisas que Paulo dizia” (At 16.14). Portanto, ela só conseguiu dar atenção significativa à mensagem, inclinando-se para a mesma, porque o Senhor abriu completamente o seu coração.

            Pelo Espírito, a exposição de Paulo se tornava compreensível, “abria o significado” do texto, evidenciado a sua aplicabilidade ao contexto de seus ouvintes. As pessoas poderiam não crer no que foi proclamado; contudo, não poderiam alegar falta de compreensão.

            Comentando At 16.14, Stott escreve:

Percebemos que a mensagem era de Paulo, mas a iniciativa salvadora vinha de Deus. A pregação de Paulo não era efetiva em si mesma; o Senhor operava através dela. E a obra do Senhor não era direta em si; Ele preferiu operar por intermédio da pregação de Paulo. Sempre é assim.[7]

            Este é o modo essencial do Senhor agir. Lídia, não foi uma exceção, antes, uma demonstração do que Deus faz no processo de constituir a sua igreja. Ele nos alcança pela graça que nos advém pela Palavra, nos fazendo entender a sua mensagem, e a confessar a Cristo como nosso Senhor.

            Paulo trataria posteriormente deste assunto: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Rm 10.9-10).

            Quando o carcereiro de Filipos fez a pergunta mais significativa de toda a sua vida: “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?” (At 16.30), ouviu a resposta de alcance temporal e eterno: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Assim como Lídia, ele e sua família creram no Senhor. Isso, foi pela graça.

            Nestes episódios constatamos o eco do que Pedro dissera no início do Concílio de Jerusalém, afirmando a necessidade da graça do Senhor para a salvação tanto de gentios como de judeus: “Cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At 15.11).

            Ele não estava teorizando sobre teologia. Na realidade, apresentou a sua convicção conforme o próprio Senhor lhe demonstrara ao levá-lo à casa de Cornélio (At 10.1-43; 11.1-18).

Maringá, 01 de maio de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: Philip Schaff,History of the Christian Church,Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 1, p. 456.

[2]Broadus B. Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento,Rio de Janeiro: JUERP., 1983, p. 17. Variando as estimativas entre 394 e 480 (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church,Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 1, p. 457).

[3] Veja-se o comentário de Johann Spangenberg In: Esther Chung Kim; Todd R. Hains, Comentário Bíblico da Reforma – Atos, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 276.

[4] Ver: Mc 6.20; 12.37; Lc 10.39.

[5]A palavra tem o sentido de “expor” (Lc 24.32) e, especialmente, de “abrir”: abrir o ventre (Lc 2.23); abrir o céu (At 7.56). No sentido figurado: abrir os ouvidos (Mc 7.34-35); abrir os olhos para que compreenda (Lc 24.31/Gn 3.5,7); abrir o coração (At 16.14); abrir a mente (Lc 24.45).

[6] A palavra pode ser traduzida também por: dar ouvidos (At 8.10); aderir (At 8.11); ocupar-se (1Tm 1.4; Tt 1.14); inclinar-se (1Tm 3.8); obedecer (1Tm 4.1); apegar-se (Hb 2.1).

[7]John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da Terra, São Paulo: ABU Editora, 1994, (At 16.13-15), p. 296.

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