Uma oração intercessória pela Igreja (26)
4.1.3.2. A Sua Humanidade demonstrada (Continuação)
D. Necessidades, características e sentimentos humanos
1) Teve fome
“E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome” (Mt 4.2).
2) Teve sede
“Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: Tenho sede!” (Jo 19.28).
3) Sentiu cansaço
“Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta” (Jo 4.6).
4) Sentiu sono
“E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia” (Mt 8.24).
5) Chorou
“41 Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou 42 e dizia: Ah! Se conheceras por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto aos teus olhos” (Lc 19.41-42).
32 Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-lo, lançou-se-lhe aos pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido. 33 Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se. 34 E perguntou: Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê! 35 Jesus chorou. 36 Então, disseram os judeus: Vede quanto o amava. (Lc 11.32-36).
6) Foi tentado
“A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1).
17 Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo. 18 Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados (Hb 2.17-18).
Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hb 4.15).
O Espírito guiou [“impeliu”[1] (Mc 1.12)] Jesus ao deserto para ser tentado, permanecendo com Ele durante todos os quarenta dias (Lc 4.1,2). O relato de Lucas nos dá entender que Jesus foi tentado desde a sua chegada. As tentações Messiânicas, incluindo a dor e a humilhação, fazem parte essencial dos preparativos para o Ministério que o Pai lhe confiara.
A tentação é muito penosa, contudo, quando a vencemos, convictos da sustentação de Deus (1Co 10.13), podemos perceber o quão enriquecedora ela pode ser para a nossa vida espiritual.[2]
O primeiro Adão sucumbiu à tentação, desobedecendo a Deus. Jesus Cristo, o último Adão deve ser tentado para poder levar sobre si o pecado dos eleitos. A tentação foi crucial para o seu Ministério. Se Cristo não vencesse o presunçoso tentador,[3] jamais poderia ser o Salvador daqueles que estavam sob o “domínio” de Satanás. É relevante observar, que o seu ministério público teve início após este episódio, começando com um sermão (Lc 4.16-21/Is 61.1-2).
A tentação promovida por satanás contra Jesus Cristo indica a sua convicção de que Ele era realmente homem, portanto, passível de queda. Jamais encontramos nas Escrituras satanás desafiando diretamente a Deus. Ele age ordinariamente tentando os servos de Deus a desobedecerem a Deus e, consequentemente, a se afastarem do Senhor. Porém, não o vemos provocando um confronto direto.
Satanás parcialmente descrente ou ignorante quanto ao significado da encarnação de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, convicto de sua humanidade, o tenta, como fizera com Adão e continua fazendo com os homens durante todo o tempo que Deus lhe tem permitido agir dentro de uma esfera restrita.
O seu desejo é fazer com que Jesus duvide da sua filiação divina ou, que tente prová-la por meio de algum sinal maravilhoso, sucumbindo assim, à tentação. Aliás, este foi um desafio comum a Jesus Cristo: usar de seu poder eterno para fazer o que desejasse à revelia de sua missão. No entanto, em tudo ele se submeteu ao Pai conforme o pacto eterno (Mt 26.29; Jo 8.28, 29,42; 17.1-6).
Na realidade, satanás podia, como de fato fez, tentar a Jesus de forma externa, contudo, não podia fazê-lo internalizar a tentação. Ele foi tentado, mas, nunca se sentiu tentado. Ele viveu sempre na plenitude do Espírito. O que, sob a perspectiva de satanás foi tentação, pela perspectiva correta e toda abrangente de Deus, foi provação.[4] onisciente nem onipotente.[5]
7) Orou
“E, despedidas as multidões, subiu ao monte, a fim de orar sozinho. Em caindo a tarde, lá estava ele, só” (Mt 14.23).
“Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1).[6]
“Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade” (Hb 5.7).
Grudem comenta:
Ele era tão plenamente humano que mesmo os que viveram e trabalharam com ele por trinta anos, mesmo os irmãos que cresceram na casa dele, não percebiam que era um tanto superior a outros seres humanos muito bons. Ao que parece, não tinham ideia de que fosse Deus vindo em carne.[7]
São Paulo, 21 de abril de 2023.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] E)kba/llw. A palavra tem o sentido de “tirar”, “expelir”. (Mt 7.22; 8.16,31; Mc 1.34,39; 3.15, etc.). “Jesus, sendo cheio do Espírito, sentia a sua força no íntimo da Sua alma” (Abraham Kuyper, The Work of the Holy Spirit, Chaattanooga: AMG. Publishers, 1995, p. 108).
[2]“O homem que ainda não descobriu o poder da tentação é o mais típico novato em questões espirituais. (…) O poder do inimigo contra nós somente é inferior ao poder de Deus. Ele é mais poderoso que qualquer homem que jamais viveu; e os santos do Velho Testamento caíram diante dele” (D.M. Lloyd-Jones, Por Que Prosperam os Ímpios?, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 16-17).
[3] “Talvez a prova cabal do poder, da autoconfiança e da habilidade do diabo se ache no fato de que ele não hesitou em tentar e atacar até mesmo o Filho de Deus. Ele O abordou confiantemente, seguro de si, pois havia derrotado todos os outros” (D.M. Lloyd-Jones, O Combate Cristão,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 73).
[4] Veja-se: Geerhardus Vos, Teologia Bíblica, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 402.
[5] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso, São Paulo: Cultura Cristã, 2001. “Satanás (ainda que, sem dúvida, ele nunca o tenha admitido, nem jamais admitirá) é uma ferramenta de Deus. Ao conceder a Satanás tanto poder, Deus se utiliza dele para executar o juízo divino sobre um mundo rebelde” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus,São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 81).
[6] “Se alguma vez você tiver dificuldade sobre a encarnação, só esta oração, a oração da vida do nosso Senhor em geral deveria colocá-lo imediatamente em paz, e mantê-lo em paz. Ele é verdadeiramente homem. Não é o caso de Deus numa espécie de corpo de fantasma, não é uma teofania, é a encarnação, a Palavra feita carne e habitando entre nós. Ele é verdadeiramente Deus, sim, mas é verdadeiramente homem. (…) Portanto, observar o nosso Senhor enquanto ora é talvez uma das portas mais maravilhosas de entrada ao grande mistério da Sua bendita Pessoa” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 31,32).
[7] Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 440.