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Uma oração intercessória pela Igreja (17) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (17)

4.1.1. Fé no Senhor Jesus: O Enviado de Deus (Continuação)

            Retornando à questão, vejamos alguns motivos que caracterizam a importância do reconhecimento do Filho como enviado do Pai:

       1) No envio do Filho Deus demonstra ser o Senhor que dirige a História

            Aqui devemos afirmar basicamente o cuidado de Deus conosco. O nosso Deus não é o Deus dos deístas,[1] distante de nós, como se o mundo fosse apenas um relógio que funcionasse autonomamente.[2] Antes, Jesus Cristo nos diz que seus discípulos creram no seu testemunho de que Deus o enviou ao mundo. Deus age na história e o maior de todos os eventos foi a vinda de Cristo. Paulo indicando o pleno e total controle de Deus sobre a história e a relação pré-existente do Filho com o Pai, resume: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou (e)caposte/llw)seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”(Gl 4.4).

            Por isso, é que sem a Pessoa de Cristo, a História permanece como um enigma para todos nós. Jesus Cristo é o centro não apenas do calendário. Ele é de fato o centro significativo da História (Gl 4.4), assinalando que o grande evento, o evento central da História aconteceu: o tempo se cumpriu (Plh/rwma tou= xro/nou). “Jesus Cristo é o centro para onde tudo converge. Quem O conhece, conhece a razão de todas as coisas”, resume Pascal (1623-1662).[3]

O evento de Cristo como fato inconteste dá significado histórico ao nosso hoje existencial; à esperança dos que O antecederam em sua peregrinação histórica (Hb 11) e, à nossa esperança, que se fundamenta na vida, morte e ressurreição de Cristo, conforme o registro inspirado do Evangelho (1Co 15.1-19).

A expectativa do futuro está fundamentada nos eventos do passado que, hoje, fazem uma diferença qualitativa na nossa perspectiva de vida. Por isso Paulo diz: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo, pereceram (…). Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos que amanhã morreremos”(1Co 15.17,18,32).

      

Maringá, 7 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Palavra que parece ter sido usada pela primeira vez no século XVI pelos socinianos objetivando distinguirem-se dos ateus (Cf. Deísmo: In: A. Lalande, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 236; Deísmo: In: Russel N. Champlin; João M. Bentes, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, São Paulo: Candeia, 1991, v. 2, p. 38). É neste sentido que o teólogo calvinista, amigo e correspondente de Calvino, Pierre Viret (1511-1571) usou a expressão em 1564: “Há vários que confessam que acreditam que existe um Deus e uma Divindade, como os Turcos e os Judeus. Ouvi dizer que há nesse bando aqueles que se chamam Deístas, uma palavra totalmente nova que eles querem opor ao Ateísmo” (P. Viret, Instruction Chrétienne. Apud Deísmo: In: A. Lalande, Vocabulário Técnico e Crítico da Filosofia, São Paulo: Martins Fontes, 1993, p. 236. Do mesmo modo: James M. Byrne, Religion and the Enlightenment: From Descartes to Kant, Louisiville, Kentucky: Westminster John Knox Press, 1977, p. 103). No grande e revolucionário dicionário compilado pelo “Dr. Johnson” (1709-1784), como ficou carinhosamente conhecido  (Samuel Johnson, Dictionary of the Language English,  London: W. Strahan for J. and P. Knapton, e outros,  1755, v. 1, “Deist”), encontramos a definição de deísta como: “Um homem que não segue nenhuma religião particular, mas apenas reconhece a existência de Deus, sem qualquer outro artigo de fé”.

[2]Deísmo é uma denominação genérica das doutrinas filosófico-religiosas que surgiram em meados do século XVII, as quais, contrapondo-se ao “ateísmo”, afirmavam a existência de Deus; entretanto, negavam a Revelação Especial, os milagres e a Providência. Esse Deus é concebido preliminarmente como a causa motora do universo. Uma das ideias predominantes, era a de que um Deus transcendente criou o mundo dotando-o de leis próprias e retirou-se para o seu ócio celestial, deixando o mundo trabalhar conforme as leis predeterminadas. Uma figura comum ao deísmo do século XVIII era a do relógio de precisão que seria o equivalente ao universo que trabalha sozinho depois de se lhe dar corda. Neste caso, Deus seria uma espécie de relojoeiro distante, apenas observando a sua criação sem “intervir” em suas questões cotidianas. A conclusão chegada pelos deístas é a que as leis que regem o universo são imutáveis. O deísmo consequentemente atribui à Criação a capacidade de se sustentar e se governar por si mesma. Temos aqui um naturalismo autônomo.

            Desta forma, Deus é um proprietário ausente, que não age diretamente sobre a Criação; a única relação existente entre o Criador e a Criação, dá-se por meio de suas leis deixadas, as quais regem o universo de forma determinista. Deus seria regente do universo “apenas de nome”. O deísmo não deixa de ser um ateísmo prático visto que Deus não é considerado de forma concreta na vida de seus adeptos. Deus sai do cenário real e concreto, mas, o destino e o acaso terminam por ser entronizados. (Para maiores detalhes sobre o panteísmo e o deísmo, vejam-se: Hermisten M.P. Costa, O homem no teatro de Deus: providência, tempo, história e circunstância, Eusébio, CE.: Peregrino, 2019, p. 96-101; (Vejam-se: Destino: In: Voltaire, Dicionário Filosófico, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 23), 1973, p. 154-155; N.L. Geisler; P.D. Feinberg, Introdução à Filosofia, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 218ss.; William J. Wainwright, Deísmo: In: Robert Audi, dir., Dicionário de Filosofia de Cambridge, São Paulo: Paulus, 2006, p. 212).

            A hipótese evolucionista do século XIX tem muito a ver com o deísmo, no que se refere à ideia das leis inflexíveis da natureza. (Vejam-se: W. Gary Crampton; Richard E. Bacon, Em Direção a uma Cosmovisão Cristã, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 100; Deísmo: Norman Geisler, Enciclopédia de Apologética: respostas aos críticos da fé cristã, São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 245-248; William G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2. ed. Nashville: Thomas Nelson Publishers, © 1980, v. 1, p. 528; William N. Kerr, Iluminismo: In: Carl Henry, Dicionário de Ética Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 346-347; Alister E. McGrath, Teologia Sistemática, histórica e filosófica: Uma introdução à teologia cristã, São Paulo: Shedd Publicações, 2005, p. 222-223. Para uma visão mais ampla das variações de deísmo e a sua presença ainda que sutil entre cientistas contemporâneos, veja-se: James W. Sire, O Universo ao lado, São Paulo: Editora Hagnos, 2001, p. 49-63). É significativa a observação de Schaeffer sobre Voltaire e o Deísmo (Veja-se: Francis A. Schaeffer, Como Viveremos, São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 77).

[3] Blaise Pascal, Pensamentos, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 16), 1973, VIII, 556. p. 178.

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