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Uma oração intercessória pela Igreja (161) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (161)

Considerações finais

            Chegamos ao final de nosso estudo. Obviamente não esgotamos o assunto nem mesmo sob a nossa perspectiva. Outras perspectivas trariam novas contribuições para uma visão ainda mais enriquecedora do texto. Queremos destacar agora alguns pontos tratados a fim de fazer uma revisão e estimular novas reflexões e, mais ainda: um compromisso de testemunho.

  1. O governo de Cristo é universal, envolvendo todas as nações.

            Aliás, Deus seria o Senhor se o seu reinado não se estendesse a todas as coisas?[1] Não. Por isso, não há nenhum tipo de problema de esfera nem de jurisdição; tudo lhe pertence. O anúncio por parte da igreja do Senhorio de Cristo é um alerta para que todos percebam a realidade premente de sua mensagem. Não se trata de arrogância, presunção ou uma mensagem bombástica para criar debate ou frisson, antes, é a verdade absoluta que pode mudar a nossa vida, conferindo sentido à história, à vida e à morte.

            McGrath ilustra esse ponto: “A insistência evangélica na importância da evangelização é, portanto, uma consequência inteiramente apropriada e natural de sua cristologia; se Jesus Cristo é de fato Salvador e Senhor, ele precisa ser proclamado ao mundo como tal”.[2]

            O Senhor governa sobre grandes e pequenos. Por isso a rebelião de todas as classes. Na ignorância espiritual de todos, devido ao pecado de toda a humanidade, há rebeldia contra Deus e o seu Ungido.

2) A igreja está sendo formada, moldada à imagem de Cristo.

                        O Senhor dirige a história dentro deste propósito, daí as declarações de Paulo:

28Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. 29 Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. (Rm 8.28-29).

25Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. (Ef 5.25-27).

            Jesus Cristo se constitui no modelo da Igreja para a qual o Senhor nos dirige (Rm 8.29-30).

3)    Devemos, portanto, nos valer com alegria dos recursos que o Senhor nos concedeu para esse crescimento:

3Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, 4pelas quais nos têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos torneis coparticipantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo. (2Pe 1.3-4).

4) A Igreja é tão importante para Deus que Ele a confiou ao Filho e o Filho a devolverá ao Pai quando completar a sua obra:

1….Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti, 2assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. (…) 6Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra. (…) 9 É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus; 10 ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado” (Jo 17.1,2,6,9,10).

24E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. 25Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. 26O último inimigo a ser destruído é a morte. 27Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos pés. E, quando diz que todas as coisas lhe estão sujeitas, certamente, exclui aquele que tudo lhe subordinou. 28Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos (1Co 15.24-28).

            MacArthur com a sua costumeira eloquência bíblica, escreve: “A igreja é o presente na troca de presentes. Este é o plano eterno de Deus para a igreja. Nós devemos ser profundamente gratos, ansiosos e animados por ser parte dele”.[3]

5) Na igreja vemos aspectos sublimes da sabedoria de Deus: Ela em sua natureza e mensagem testemunha a “multiforme sabedoria de Deus”.

            Quer aqui, quer na eternidade a igreja permanecerá como testemunho, inclusive para os anjos, das diversas perfeições de Deus que se agenciam em perfeita sabedoria para constituir, santificar e preservar a igreja: “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais” (Ef 3.10).

            Lloyd-Jones (1899-1981) escreve de modo comovente:

Aqui está a Igreja em seus farrapos, em sua imundície e vileza! Cristo morreu por ela, salvou-a da condenação. Ele a toma de onde estava e a separa para si (…). Ela é removida do mundo para a posição especial que, como Igreja, deve ocupar.[4]

Enquanto a Igreja caminha neste mundo de pecado e vergonha, ela se suja de lama e lodo. Portanto, há manchas e nódoas nela. E é muito difícil livrar-se delas. Todos os medicamentos que conhecemos, todos os produtos de limpeza são incapazes de remover estas manchas e nódoas. A Igreja não é           limpa aqui, não é pura; embora esteja sendo purificada, ainda há muitas manchas nela.

Entretanto, quando ela chegar àquele estado de glória e glorificação, ficará sem uma única mancha; não haverá nódoa alguma nela. Quando Ele a apresentar a si mesmo, com todos os principados e poderes, e com todas as compactas fileiras de potestades celestes e contemplar esta coisa maravilhosa, a sondá-la e a examiná-la, não haverá nela nenhuma mácula, nenhuma nódoa. O exame mais cuidadoso não será capaz de detectar a menor partícula de indignidade ou de pecado.[5]

6) Meditem no preço incalculável que Jesus Cristo pagou pela igreja.

                        Portanto, não negligenciemos a Igreja. Ela foi comprada pelo precioso sangue de Cristo, quem a ama, a preserva e santifica. Considerando isso, seria exagero pedir aos seus membros que vivam para a igreja glorificando a Deus em sua vida?[6]

7) Culto e Proclamação: A existência da Igreja determina a sua missão. Por sua vez, a sua missão, como não é algo acidental e periférico, indica a sua própria essência.

            A igreja foi constituída por Deus para glorificar-lhe em sua existência. E, de fato, o Senhor é glorificado quando a Igreja lhe obedece.

            Toda proclamação cristã envolve em si mesma um desafio para que os nossos ouvintes, por graça, respondam com fé ao nosso testemunho que nada mais é do que o anúncio do Evangelho.

            No culto a igreja compartilha a graça da qual ela é beneficiária. Por isso, cada cristão alcançado por Cristo, tendo experimentado o seu poder salvador e santificador, é um evangelista. O culto é a expressão de adoração e louvor do povo redimido.

            Como igreja somos enviados pelo Filho, sendo guiados pelo Espírito de Cristo (Jo 17.18; 20.21). Olyott afirma de forma desafiadora: “Se temos um desejo sério de ver Deus sendo adorado mais do que Ele realmente o é, precisamos nos interessar ardentemente pelo assunto da pregação”.[7]

            A peregrinação da Igreja tem um sentido missionário (“Até os confins da terra”) e escatológico (“Até a consumação do século”): enquanto ela caminha, confronta os homens com a mensagem do evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e fé em Cristo Jesus até que ele volte.

            A Igreja de Deus é identificada e caracterizada pela genuína pregação da Palavra.[8] A Igreja na sua proclamação revela quem é: nós somos identificados, não, simplesmente, pelo que dizemos a nosso respeito, mas, principal e fundamentalmente, pelo que revelamos em nossos atos. A Igreja revela-se como povo de Deus no seu testemunho a respeito de Deus e da sua Glória manifestada em Cristo, bem como na declaração do pecado humano e da necessidade de reconciliação com Deus.

            A Igreja não é a mensagem, antes, é o meio de proclamação. Todavia, neste ato de proclamação das virtudes de Deus, ela torna patente a sua identidade divina. Demonstra o poder daquilo que ela testemunha, visto ser ela o monumento da Graça e Misericórdia do Senhor constituído a partir da Palavra criadora dele. É justamente por isso, que “a pregação é uma tarefa que somente ela pode realizar”.[9]

            Hoeksema (1886-1965) enfatiza:

Somente quando a Palavra de Deus é pregada, de acordo com as Escrituras, ali é ouvida a voz do Bom Pastor, chamando Suas ovelhas pelo nome. (…) Quando a Palavra não é pregada, ali Cristo não fala Sua Palavra de salvação, e ali não está reunida a Igreja.[10]

            A Igreja é uma testemunha comissionada pelo próprio Deus, para narrar os seus atos gloriosos e salvadores. A igreja é o meio ordinário de Deus para esta tarefa. Assim, a sua mensagem não foi recebida de terceiros, mas diretamente de Deus, por meio da Palavra do Espírito, registrada nas Sagradas Escrituras. A Igreja declara ao mundo, o “evangelho do Reino”, visto e experimentado por ela em sua cotidianidade.

            “A Igreja e o evangelho são inseparáveis. (…) A Igreja é tanto o fruto como o agente do evangelho, visto que por meio do evangelho a igreja se desenvolve e por meio dela se propaga aquele”, comenta Stott.[11] O testemunho da Igreja é resultado de uma experiência pessoal: o Espírito dá testemunho do Filho, porque procede do Pai e do Filho (Jo 14.26; 15.26; Gl 4.6); nós damos testemunho do Pai, do Filho e do Espírito, porque os conhecemos e temos o Espírito em nós (Jo 15.26,27; 14.23/Rm 8.9). Notemos, contudo que a experiência da Igreja não se torna a base da sua proclamação. Ela anuncia, não, as suas experiências, mas a Palavra de Deus. A nossa tarefa é ensinar o Evangelho tal qual registrado nas Escrituras, em submissão ao Espírito que nos dá a devida compreensão da Palavra (Sl 119.18).

8) Apesar de uma luta intensa, do combate atroz contra o mundo, a carne e o diabo, podemos já, nesta vida, exultar na certeza do cuidado de Deus, que nos garante a vitória final: A obra de Cristo será completada em glória. Seremos apresentados ao Pai em alegria e glória:

24 Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, 25 ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém! (Jd 24-25).

            Por isso, já somos agora, no tempo presente, mais do que vencedores em Cristo Jesus. Portanto, sejamos firmes, abundantes e perseverantes na Obra de Deus, sabendo que nele o nosso trabalho não é nem jamais será em vão (1Co 15.57-58).

            Deste modo, evangelizar envolve necessariamente o anúncio do santo, glorioso e eterno propósito de Deus para o seu povo por meio de Jesus Cristo.[12] De fato, ser o portador comissionado desta mensagem é uma graça concedida por Deus a todos os santos.

            Portanto, como igreja e, individualmente como pecadores regenerados, podemos dizer de forma alegre e comprometida: “A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” (Ef 3.8).       Preguemos pois.                                                   

São Paulo, 26 de setembro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Veja-se: William Edgar, Razões do Coração: reconquistando a persuasão cristã, Brasília, DF.: Refúgio, 2000, p. 117.

[2]Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 42.

[3]John MacArthur, Eu Amo a Tua Igreja, ó Deus!: In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 19. (Alude ao texto de 1Co 15.24-28 e Jo 17).

[4]D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 119.

[5]D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, p. 137-138.

[6]Veja-se: Joel Beeke, Coisas Gloriosas são ditas sobre Ti. In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 29.

[7]Stuart Olyott, Pregação pura e simples, São José dos Campos, SP.: Fiel, © 2010, 2012 (Reimpressão), p. 13.

[8]Lutero observou que: “Onde, porém, não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade será deteriorada” (Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In:Martinho Lutero: Obras Selecionadas,São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 1995, v. 5, p. 334).

[9]D. M. Martyn Lloyd-Jones, Pregação & Pregadores, São Paulo: Fiel, 1984, p. 23.

[10]Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics,3. ed. Grand Rapids, Michigan: Reformed Publishing Association, 1976, p. 621.

[11]John R.W. Stott; Basil Meeking, editores, Dialogo Sobre La Mision, Grand Rapids, Michigan: Nueva Creación, 1988, p. 62.

[12]“Evangelização, com efeito, é a difusão por todo e qualquer meio das boas novas de Jesus crucificado, ressurreto e agora reinando” (John R.W. Stott, A Base Bíblica da Evangelização: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo; Belo Horizonte, MG.: ABU; Visão Mundial, 1982, p. 53).

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