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Uma oração intercessória pela Igreja (123) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (123)

         8.3. É preservada por Cristo   (Continuação)

                   A História é o palco das artimanhas de Satanás contra a Igreja de Deus, mas, também, é a descrição da vitória de Cristo conforme o enredo escrito na eternidade. O mundo é o teatro de Deus e Ele mesmo tem o controle perfeito de todo o enredo e de todas as pessoas que ali estão. Satanás já condenado está.

            Em nossos dias, a Igreja enfrenta uma batalha ideológica, para a qual devemos estar preparados, tendo como elemento norteador a Palavra de Deus, que nos apresenta valores eternos que não se confundem.

            Há também o fascínio do relativismo, subjetivismo, pragmatismo, toleracionismo, entre outros ismos que assolam a igreja. Um mal evidente é a falta de relevância do sentido de verdade. Onde não existe verdade, não há pecado.[1]

          Em uma sociedade pragmática e imediatista onde o verdadeiro é o que funciona, e me proporciona mais conforto e sucesso, já não existe interesse pela verdade. Ela tornou-se irrelevante.[2] No entanto, a busca da verdade pela verdade é uma característica fundamental da Igreja.

          Já que cabe à Igreja o privilégio de proclamar a Palavra, ela tem de compreender as Escrituras para anunciá-la com fidelidade e vivenciá-la para proclamar com autoridade. Por isso, a Igreja é chamada de “coluna e baluarte da verdade”, porque a ela foram confiados os oráculos de Deus (Rm 3.2/1Tm 3.15).

         A Igreja como baluarte da verdade está amparada no fundamento que consiste na obra de Deus realizada por intermédio de Cristo (Mt 16.18/Ef 2.20).[3] “Escrevo-te estas coisas, esperando ir ver-te em breve; para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna (stu=loj)[4] e baluarte (* e(drai/wma) da verdade (a)lh/qeia) (1Tm 3.14-15).

        A Igreja é responsável pela preservação verdade sobre a qual ela está fundamentada: a Revelação de Deus.

Calvino interpreta:

A Igreja é chamada coluna da verdade pela mesma razão, pois o ofício de ministrar a doutrina que Deus pôs em suas mãos é o único meio para a preservação da verdade, a qual não pode desaparecer da memória dos homens. Em consequência, essa recomendação se aplica ao ministério da Palavra, pois se ela for removida, a verdade de Deus desvanecerá. (…) Portanto, em relação aos homens, a Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade. Se não houver ensino público do evangelho, se não houver ministros piedosos que, por sua pregação, resgatem a verdade das trevas e do olvido, as falsidades, os erros, as imposturas, as superstições e a corrupção de toda sorte assumirão imediatamente o controle. Em suma, o silêncio da Igreja significa o afastamento e a supressão da verdade.[5]

            Bavinck (1854-1921) aplica o conceito paulino:

A Igreja deve ser o pilar e o terreno da verdade (1Tm 3.15), ou seja, deve ser um pedestal e uma fundação sobre a qual a verdade seja apresentada, mantida e estabelecida contra o mundo. Quando a Igreja negligencia e se esquece do seu dever com relação à Escritura ele se torna remissa em seu dever e mina sua própria existência.[6]

            Paradoxalmente, o que tem faltado à Igreja é sabedoria para discernir, por intermédio da Palavra de Deus, o que está acontecendo.  Muitas vezes, temos sido iludidos, enganados e espoliados espiritualmente, justamente porque nos tem faltado a meditação na Palavra de Deus, acompanhada pela oração para que Deus nos dê a compreensão dos fatos, da sua vontade para o nosso momento presente.

            Deus não deseja um povo ingênuo, imaturo quanto à interpretação da realidade. Ele quer que sejamos maduros, aptos para discernir, interpretar os acontecimentos e que, sem titubear, sigamos os seus preceitos.

            A sabedoria propiciada por Deus  dá-nos discernimento para que possamos nos valer do que for útil em todos os conhecimentos sem nos perder em meio às suas contradições, tendo como elemento avaliador a Palavra de Deus.

            A sabedoria divina oferece-nos um quadro de referência que nos conduz cada vez à gratidão a Deus por tão grandiosa bênção. Para que possamos emitir um juízo de valor é preciso ter valores e um quadro coerente de interpretação a partir de determinado valor ou de um conjunto de valores. Notemos, portanto, que pensar com clareza é uma grande bênção de Deus.[7]

            Jesus Cristo afirma que aquele que deseja fazer a vontade de Deus deve examinar a doutrina: “Se alguém quiser fazer a vontade (qe/lhma)dele (Deus), conhecerá (ginw/skw) a respeito da doutrina (didaxh/), se ela é de Deus” (Jo 7.17).

            É necessário discernimento para interpretar as doutrinas que nos são transmitidas a fim de saber se são de Deus ou não. Portanto, devemos desejar conhecer a vontade de Deus (Ef 5.17) e segui-la de forma perseverante.

            O livro de Salmos abre as suas portas dando o direcionamento de todo o livro: o caminho da obediência e o caminho da desobediência ilustrando algumas das consequências inerentes a cada escolha.

A orientação positiva é: “Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores” (Sl 1.1).

            Portanto, o homem bem-aventurado do Salmo 1, é aquele que se agrada em meditar na Palavra, dando atenção aos mandamentos de Deus a fim de poder cumpri-los, tornando-os o modelo de sua agenda de pensar e praticar.

Maringá, 05 de agosto de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Para um estudo mais abrangente destas questões, veja-se: Hermisten M.P. Costa, Introdução à Cosmovisão Reformada, Goiânia, GO.: Editora Cruz, 2016.

[2] Veja-se: William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 11.

[3] Ver: J. Blunck, Firme: In: Colin Brown, ed. ger., O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 246.

[4] * Gl 2.9; 1Tm 3.15; Ap 3.12; 10.1.

[5]João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 3.5), p. 98.

[6]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 129.

[7] Veja-se: John MacArthur Jr., Abaixo a Ansiedade, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 32.

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