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Uma oração intercessória pela Igreja (11) - Hermisten Maia

Uma oração intercessória pela Igreja (11)

3. Ouvir com discernimento  (Continuação)

O caminho da maturidade espiritual que se expressa em obediência, envolve, necessariamente, a prática de meditação sincera na Palavra.

            Poythress é enfático:

Não há atalho para crescer no entendimento da Escritura e no entendimento de Deus que fala na Escritura. Cada aspecto do entendimento ajuda outro aspecto. É importante crescer, porque um entendimento profundo da Escritura é vital à medida que nos esforçamos para servir a Cristo criativamente em situações que a Bíblia não aborda diretamente. A Bíblia como a Palavra de Deus aborda todas as coisas, quer diretamente, quer na forma de implicação. Ele fala para toda a vida. Mas para ver como isso se dá, pode ser necessário reflexão e meditação.[1]

            Portanto, saibamos ouvir com real interesse, rogando a Deus, Aquele que nos ouve, discernimento para interpretar o que ouvimos e sabedoria para agir com fé e amor. Deste modo, não sejamos negligentes como aqueles ouvintes aos quais Paulo se refere, alertando e estimulando a Timóteo a não desistir de sua pregação:

2 prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. 3 Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos (a)koh/); 4e se recusarão a dar ouvidos (a)koh/)[2] à verdade, entregando-se às fábulas (2Tm 4.2-4).

            Do mesmo modo, exorta o escritor de Hebreus a alguns de seus imaturos leitores que não entendiam a superioridade de Cristo sobre todas as coisas:

11A esse respeito temos muitas coisas que dizer e difíceis de explicar, porquanto vos tendes tornado tardios em ouvir (a)koh/). 12Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes, novamente, necessidade de alguém que vos ensine, de novo, quais são os princípios elementares dos oráculos de Deus; assim, vos tornastes como necessitados de leite e não de alimento sólido (Hb 5.11-12).

Considerações pontuais

A ciência e arte para produzir um sermão expositivo serão esforços vãos caso a mensagem não seja ouvida e assimilada. − John F. MacArthur Jr.[3]

            Na cerimônia de unção de Arão e de seus filhos, encontramos o indicativo da necessidade de total consagração de Seus servos a Deus. Conforme instrução do Senhor, “Moisés o imolou, e tomou do seu sangue [do carneiro], e o pôs sobre a ponta da orelha direita de Arão, e sobre o polegar da sua mão direita, e sobre o polegar do seu pé direito” (Lv 8.23/Ex 29.20). Aqui temos um ritual de purificação. O indicativo é que os servos de Deus devem cuidar do ouvir (pensar), fazer e andar. É necessário que tenhamos cautela nessas questões. Somos pecadores. Precisamos, portanto, do sangue purificador do Cordeiro (Lv 8.22-24/Jo 1.29,36; 1Pe 1.18-21).[4]

            Do que foi dito, podemos concluir que se faz necessário, aprender ouvir a Deus que nos fala ordinariamente por intermédio de Sua Palavra. O escritor de Hebreus exorta os seus leitores neste sentido: “Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas (a)kou/w), para que delas jamais nos desviemos” (Hb 2.1). “Enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes (a)kou/w) a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação” (Hb 3.15/Hb 4.2,7).

            Paulo dá graças a Deus pelo fato dos tessalonicenses terem recebido com discernimento a Palavra proclamada, procedente de Deus: “Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido (paralamba/nw)[5] a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes (de/xomai)[6] não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes”(1Ts 2.13/1Ts 1.6/Jo 17.17).[7]

Os tessalonicenses ativamente “tomaram posse da Palavra” (paralamba/nw) que ouviram e, num ato subsequente, a receberam de forma prazerosa em seus corações (de/xomai). O receber pode ser um ato ou processo mais imediato; porém, o acolher envolve um processo de assimilação prazerosa, compreensão, aplicação e obediência.

            Pelo Espírito eles creram, “acolheram” a mensagem e, a partir de então, Deus continuou operando eficaz e poderosamente em sua vida. Notem bem; na vida dos que creram. O ouvir deve ser acompanhado pela fé. A Palavra não pode ser dissociada da fé. “A Palavra só exerce o seu poder em nós quando a fé entra em ação”.[8] (Hb 4.2).[9] 

            Ouvir a Palavra de Deus deve envolver a fé que nos conduz ao praticar em santa obediência, sendo isso por si só altamente abençoador, conforme Tiago nos instrui:

22Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes (a)kroath/j), enganando-vos a vós mesmos. 23 Porque, se alguém é ouvinte (a)kroath/j) da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; 24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. 25Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte (a)kroath/j) negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar. (Tg 1.22-25/Rm 2.13).

            Saberemos ouvir melhor as pessoas quando aprendermos a ouvir a Palavra de Deus a qual frutifica em nós, concedendo-nos discernimento, inclusive para identificar a Sua Palavra de forma intensa e vivencial. Os tessalonicenses agiram desta forma, conforme Paulo escreve com alegria e gratidão:

Outra razão ainda temos nós para, incessantemente, dar graças a Deus: é que, tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes (a)koh/), que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente (e)nerge/w) em vós, os que credes. (1Ts 2.13).

Maringá, 6 de abril de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Vern S. Poythress, O Senhorio de Cristo: servindo o nosso Senhor o tempo todo, em toda a vida e de todo o nosso coração, Brasília, DF.: Monergismo, 2019, p. 174.

[2]Em muitos casos, como neste, a palavra está associada ao ouvir a Palavra de Deus (Vejam-se: Jo 12.38; Rm 10.16,17; Gl 3.2,5; 1Ts 2.13; Hb 4.2; 5.11). Sobre as palavras a)kou/w e a)koh//, vejam-se: W. Mundle, Ouvir: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 362-368; G. Kittel, a)kou/w: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds.Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 1, p. 216-222 (especialmente); G. Schneider, a)kou/w: In: Horst Balz; G. Schneider, eds. Exegetical Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdmans, 1999 (Reprinted), v. 1, p. 52-54. Para uma aplicação mais ampla das palavras gregas, veja-se: Hermisten M.P. Costa, Efésios – O Deus Bendito, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 93-98.

[3] John F. MacArthur Jr., ed., Pregação: Como pregar biblicamente, Eusébio, CE.: Peregrino, 2018, p. 392.

[4] Veja-se: Francisco L. Schalkwijk, Meditações de um peregrino, São Paulo: Cultura Cristã, 2014, p. 107.

[5]Tem o sentido pessoal de tomar para si, levar consigo, tomar posse. É o próprio Senhor quem escolhe três discípulos para Se revelar (Mt 17.1; 20.17; 26.37/Mc 5.40). Ele mesmo, o Senhor Jesus nos receberá no céu (Jo 14.3/Mt 24.40).

[6]Tem também o sentido de “receber”, “aceitar”, “aprovar”. Estevão sendo apedrejado ora: “…. Senhor Jesus, recebe (de/xomai) o meu espírito!” (At 7.59).

[7]“Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido (de/xomai) a palavra, posto que em meio de muita tribulação, com alegria do Espírito Santo” (1Ts 1.6).

[8] João Calvino, Exposição de Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, (Hb 4.2), p. 101.

[9]“Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram” (Hb 4.2).

            Em julho de 1922, numa conferência dirigida à pastores, Barth (1886-1968) declarou:

            “É apenas um lugar comum que não haja nada mais importante, mais urgente, mais útil, mais redentor e mais salutar; não há nada, do ponto de vista do céu ou da terra, mais relevante à situação real do que o falar e o ouvir da Palavra de Deus no poder original e regulador de sua verdade, em sua toda erradicante e toda reconciliadora sinceridade, na luz que não lança somente sobre o tempo e sobre confusões do tempo, mas também além, em direção ao brilho da eternidade, revelando o tempo e a eternidade através  de cada um e em cada um – a Palavra, o Logos do Deus vivo” (Karl Barth, Parole de Dieu et Parole Humaine, Paris: Société Commerciale d’Edition et de Librairie, 1933, p. 147).

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