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Uma fé que investiga e uma ciência que crê (8) - Hermisten Maia

Uma fé que investiga e uma ciência que crê (8)


Rejeitar o Evangelho é rejeitar a Deus

            A rejeição ao Evangelho é, na realidade, uma rebeldia contra o domínio soberano de Deus. A negação da soberania de Deus é uma atitude que pode pavimentar o caminho para o ateísmo.Pink (1886-1952) entende que “negar a soberania de Deus é entrar em um caminho que, seguindo até à sua conclusão lógica, leva a manifesto ateísmo”.[1]

            Como sempre desejosos de ser autônomos  a nossa dificuldade óbvia está em reconhecer a Deus como o Senhor que reina.[2] Esta é uma concorrência que não aceitamos com naturalidade e, na realidade, nos rebelamos contra ela. A nossa autonomia presumida é bastante ciosa de seus supostos poderes. Tendemos a ser bastante iluministas em nosso otimismo diante do que vemos no espelho.

A Palavra, por sua vez, nos desafia a aprender com ela a respeito de Deus e de seu Reino. O nosso Deus, entre tantas perfeições, é o Deus soberano. Sem este atributo, Deus não seria Deus: “Verdadeiramente reconhecer a soberania de Deus é, portanto, contemplar o próprio Deus soberano”, conclui Pink.[3]

            No entanto, Jó demonstra a dificuldade de nossa compreensão, ao indagar: “Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos! Que leve sussurro temos ouvido dele! Mas o trovão do seu poder, quem o entenderá?” (Jó 26.14). 

Mas, o fato que faz parte amplamente da experiência cristã, é que somente aquele que confia intensamente na soberania de Deus poderá encontrar a paz em meio às adversidades da vida.[4]

A compreensão mais intensa da Majestade de Deus, aumenta o nosso sentimento de pequenez diante da amplitude da sua insondabilidade.

Brunner (1889-1966) resume: “Quanto mais conhecemos Deus, mais compreendemos, e sentimos que seu mistério é inescrutável”.[5] A douta ignorância faz parte essencial da fé genuína e sincera.[6] O conhecimento de nossa limitação não é inato, antes é precedido pela revelação. Sem a revelação de Deus não há teísmo, ateísmo nem agnosticismo. É no encontro significativamente pessoal com Deus que tomamos conhecimento de nossas limitações.[7]

            Sem a revelação, o homem passaria toda a sua vida e estaria na eternidade sem o menor conhecimento de Deus por mais engenhosos que fossem os seus métodos, por mais sistemáticas que fossem as suas pesquisas, por mais que evoluísse a ciência… O homem nunca conseguiria chegar a Deus, ou mesmo à sua ideia: ignoraria eternamente a própria ignorância! Entretanto, Deus continuaria sendo o que sempre foi: o Senhor![8] Todavia, graças a Deus, porque ele soberanamente se revelou a si mesmo, para que possamos conhecê-lo e render-lhe toda a glória que somente a Ele é devida. Em Cristo, nós somos confrontados com o clímax e plenitude da revelação de Deus (Jo 14.9-11; 10.30; Cl 1.19; 2.9; Hb 1.1-4).

            Lewis (1898-1963) escreve de forma perspicaz:

O ateísmo (…) é uma coisa por demais simplista. Se todo o universo não tem sentido, nunca descobriríamos que ele não tem sentido, do mesmo modo que, se não houvesse luz no universo, nem, consequentemente, criaturas com olhos, nunca saberíamos que era escuro. A palavra escuro seria uma palavra sem sentido.[9]

            Deus se revelou fidedigna e acessivelmente. Toda a epistemologia cristã repousa nessa fato. “No Filho temos a revelação última de Deus. Da mesma forma como é verdade que quem viu o Filho viu o Pai, também é verdade que quem não viu o Filho, não viu o Pai”, escreve Hendriksen (1900-1982).[10] Jesus Cristo, a plenitude da graça encarnada, é a medida da revelação; o seu padrão e apelo final!

            Bavinck (1854-1921) exulta:

A plenitude do ser de Deus é revelada nele. Ele não apenas nos apresenta o Pai e nos revela Seu nome, mas Ele nos mostra o Pai em Si mesmo e nos dá o Pai. Cristo é a expressão de Deus e a dádiva de Deus. Ele é Deus revelado a Si mesmo e Deus compartilhado a Si mesmo, e, portanto, Ele é cheio de verdade e também cheio de Graça.[11]

            Deus também não é uma mera força impessoal sem nenhum sentido de racionalidade, antes, é o Deus transcendente e pessoal que se revela genuinamente, com quem podemos nos relacionar: ouvir, conhecer, amar, temer, confiar e orar.[12] A linguagem usada para Deus nas Escrituras tem um caráter relacional, mostrando um Deus que se relaciona com o seu povo na história.[13] Aliás, é a partir do relacionamento de Deus com a criação em geral e com o homem em especial, que torna possível a teologia. Aspectos do caráter de Deus se revelam em suas relações com suas criaturas.[14]

Maringá, 29 de março de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]A.W. Pink, Deus é Soberano, Atibaia, SP.: Editora Fiel, 1977, p. 21. Em outro lugar: “Os idólatras do lado de fora da cristandade fazem ‘deuses’ de madeira e de pedra, enquanto os milhões de idólatras que existem dentro da cristandade fabricam um Deus extraído de suas mentes carnais. Na realidade, não passam de ateus, pois não existe alternativa possível senão a de um Deus absolutamente supremo, ou nenhum deus” (A.W. Pink, Os Atributos de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 28). “Defender a crença num ‘poder do alto’ nebuloso é balançar entre o ateísmo e um cristianismo total com suas exigências pessoais” (R.C. Sproul, Razão para crer, São Paulo: Mundo Cristão, 1986, p. 48).

[2]Ver o sermão de Spurgeon sobre Mt 28.15 citado por Pink. A.W. Pink, Os Atributos de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 32-33.

[3]A.W. Pink, Deus é Soberano, Atibaia, SP.: Editora Fiel, 1977, p. 138.

[4] Veja-se: John MacArthur Jr., Abaixo a ansiedade,São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 30.

[5]Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 156.

[6] Ver: João Calvino, As Institutas,III.21.2; III.23.8. Na edição de 1541, escrevera: “E que não achemos ruim submeter neste ponto o nosso entendimento à sabedoria de Deus, aos cuidados da qual Ele deixa muitos segredos. Porque é douta ignorância ignorar as coisas que não é lícito nem possível saber; o desejo de sabê-las revela uma espécie de raiva canina” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006,v. 3 (III.8), p. 53-54).

[7] Ver: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 157, 159ss.

[8] “Ainda que o mundo inteiro fosse incrédulo, a verdade de Deus permaneceria inabalável e intocável” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.2), p. 48-49).

[9]C.S. Lewis, A essência do Cristianismo autêntico, São Paulo: Aliança Bíblica Universitária, (1979), p. 21.

[10]William Hendriksen, O evangelho de João, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, (Jo 14.9) p. 657.

[11]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 25-26. “Deus se revelou mais abundantemente no nome ‘Pai, Filho e Espírito Santo’. A plenitude que, desde o princípio, estava no nome Elohim, foi gradualmente desenvolvida e tornou-se mais plena e manifestamente expressa no nome trinitário de Deus” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 150).

[12] “A principal ênfase do cristianismo bíblico consiste na doutrina de que um Deus infinito e pessoal é a realidade final, o Criador de todas as outras coisas, e de que um indivíduo pode se aproximar do Deus santo com base na obra consumada de Cristo, e somente desse modo” (Francis A. Schaeffer, O Grande Desastre Evangélico. In: Francis A. Schaeffer, A Igreja no Século 21, São Paulo:Cultura Cristã, 2010, p. 272).

[13] Cf. Terence Fretheim, Javé: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 4, p. 740-741; Gottfried Quell, ku/rioj, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament,8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 3, p. 1062-1063.

[14] Cf. A.H. Strong, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2003, v. 1, p. 21.

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