Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20

Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20

Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20
Uma fé que investiga e uma ciência que crê (7) - Hermisten Maia

Uma fé que investiga e uma ciência que crê (7)


  1.4.  Senhor e Rei de toda Terra

Determinadas doutrinas bíblicas ficaram bastante conhecidas em nosso meio. Elas passaram a identificar determinado grupo ou denominação cristã. Tornaram-se emblemáticas. O ideal seria que essas doutrinas distintivas passassem a ser cridas, não simplesmente como uma premissa teológica, mas, como uma realidade extraída das Escrituras, cridas e vivenciadas pelo povo de Deus. O credo não pode, pelo menos não deve, ser uma mera declaração intelectual sem nenhuma relação com o nosso ideal de vida e experiência. A declaração de fé é uma expressão de fé que se concretiza em nossa vida.[1]

Uma fé meramente intelectual, tende a produzir em nós um tipo de fragmentação nociva e, por vezes se traduz em um ateísmo funcional que, se for consciente, demonstra que a nossa alardeada fé, não passa de hipocrisia.

            O homem como ser paradoxal[2] que é, tende a nutrir posições diferentes sobre o mesmo assunto, dependendo das circunstâncias que, frequentemente, são de caráter passional. Posso, por exemplo, defender a supremacia da lei, até que eu mesmo a tenha quebrado. Do mesmo modo, posso sustentar determinados princípios liberais ou conservadores, desde que a minha família não esteja em jogo, ou que outros interesses políticos não sejam afetados. Ou seja: tendemos a ser mais subjetivos do que imaginamos ou estaríamos dispostos a admitir. Lamentavelmente, temos de admitir que somos mais dados a interesses do que a princípios. E o pior: o princípio é o meu interesse. Daí, o meu interesse ser o meu princípio de pensamento e ação.

            Uma doutrina que facilmente é objeto de posicionamentos contraditórios é quanto à soberania de Deus.[3] Gostamos de alardear a nossa liberdade, a nossa capacidade de escolha e persuasão. Quando assim fazemos, falar em soberania de Deus parece diminuir um pouco nossa autoconfiança e suposta autonomia. Deste modo, consideramos ser melhor deixá-la guardada em alguma gaveta para onde empurramos os papéis que não estão sendo utilizados e não sabemos bem o que fazer com eles.

No entanto, quando percebemos que estamos sem recursos, sem perspectivas favoráveis, sem saber o que fazer, podemos, sem talvez nos dar conta, nos contentar com uma fé singela no cuidado de Deus e, podemos então dizer para nós mesmos: “Deus é soberano, Ele sabe o que faz”; “nada acontece por acaso…”.

A bem da verdade, nós mesmos, crentes em Cristo, com certa frequência tendemos a adotar atitude semelhante. Calvino (1509-1564) capta bem esse comportamento ao dizer: “Mesmo os santos precisam sentir-se ameaçados por um total colapso das forças humanas, a fim de aprenderem, de suas próprias fraquezas, a depender inteira e unicamente de Deus”.[4]

            Mas, afinal, Deus é ou não soberano? Parece que esta é uma das doutrinas mais repudiadas pelo homem natural e, ao mesmo tempo, em momentos de crises e incertezas como esses que estamos vivendo, é a doutrina mais consoladora para todos nós que cremos em Cristo Jesus.

Deixar Deus ser Deus 

            Uma das grandes dificuldades dos homens em todos os tempos é deixar Deus ser Deus;[5] recebê-lo tal qual Ele se revela, não cedendo à tentação de construí-lo dentro de nossos pressupostos culturais ou mesmo do nosso gosto pessoal.[6]

Estamos dispostos a fabricar nossos deuses para que eles possam cobrir, preencher as brechas de nossa pretensa compreensão em busca de uma arrogante autonomia. Assim, quando consigo dominar a realidade, já não preciso de Deus; quando não, invoco este deus criado por mim para justificar as minhas crenças, expectativas e, ao mesmo tempo, a minha falta de fé. Dentro desta perspectiva, onde há ciência não precisamos de Deus;[7] onde reina a ignorância há um espaço para um ser transcendente, destituído de sua glória, é verdade, mas, assim mesmo um “ser superior”. Aqui há o esquecimento proposital, de que o ateísmo é também uma questão de fé.[8] Posso crer que Deus existe, como também, crer que ele não existe. Em ambos os casos, a fé é essencial.

Uma ciência que prescinde de Deus é um pretenso saber ingênuo e mutilado. Uma fé que não investiga, pode-se revelar com uma mera e frágil crendice. 

 Tentativa de nivelar Deus aos nossos pecados

            No Antigo Testamento os judeus insensíveis aos seus próprios pecados, tomaram o aparente silêncio de Deus como uma aprovação a seus erros, projetando nele o seu comportamento. Nivelaram Deus a si mesmos e, deste modo, criam terem encontrada um álibi teológico para suas transgressões.[9] No entanto, Deus, no momento próprio, exporia diante deles os seus delitos: “Tens feito estas coisas, e eu me calei; pensavas que eu era teu igual; mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista” (Sl 50.21).

Calvino diz que o homem pretende usurpar o lugar de Deus: “Cada um faz de si mesmo um deus e virtualmente se adora, quando atribui a seu próprio poder o que Deus declara pertencer-lhe exclusivamente”.[10]

            De fato, os homens estão dispostos a reconhecer espontaneamente diversas virtudes em Deus: o seu amor, sua graça, bondade, perdão, tolerância, provisão etc. Agora, a sua soberania, jamais.[11]

Maringá, 29 de março de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “A confissão é a obrigação de todos os crentes, e é também um ditado deles aos seus próprios corações; a pessoa que realmente crê, com todo o seu coração e com toda a sua alma, não pode fazer outra coisa senão confessar, isto é, dar testemunho da verdade que a libertou e da esperança que foi plantada em seu coração por essa verdade (Mt 10.32; Rm 10.9,10; 2Co 4.13; 1Pe 3.15; 1Jo 4.2,3)” (Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 130).

[2] “O ser humano tende a ser paradoxal” (Gene Edward Veith Jr., De Todo o teu entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 123).

[3] Pink lamenta: “Hoje, porém, mencionar a soberania de Deus em muitos ambientes, é falar uma língua desconhecida” (A.W. Pink, Deus é Soberano, Atibaia, SP.: Editora Fiel, 1977, p. 19).

[4] João Calvino, Exposição de 2 Coríntios,São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 1.8), p. 22.

[5]“Dizer que Deus é soberano é declarar que Deus é Deus” (A.W. Pink, Deus é Soberano, p. 19).

[6]Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 32-35.

[7]Este otimismo secular foi sustentado primariamente por Nietzsche. Veja-se: Alister E. McGrath, Teologia, sistemática, histórica e filosófica: uma introdução à teologia cristã, São Paulo: Shedd Publicações, 2005,p. 331.

[8]“O ateísmo é uma questão de fé tanto quanto o cristianismo” (Alister McGrath, O Deus Desconhecido: Em Busca da Realização Espiritual, São Paulo: Loyola, 2001, p. 23). “Portanto, os homens que rejeitam ou ignoram a Deus o fazem não porque a ciência ou a razão requeira que o façam, mas pura e simplesmente porque querem fazê-lo” (Henry H. Morris, The Bible has the Answer, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1971, p. 16. Apud D. James Kennedy, Por Que Creio, Rio de Janeiro: JUERP., 1977, p. 33). “…. não vejo como é possível não acreditar em Deus e considerar que não se pode comprovar Sua existência, e depois a acreditar firmemente na inexistência de Deus, pensando poder prová-Lo” (Umberto Eco, In: Umberto Eco; Carlo Maria Martini, Em que creem os que não creem? Rio de Janeiro: Record, 1999, p. 85). “Pode-se negar que a existência de Deus seja demonstrável. Não se pode demonstrar que Deus não existe” (Jean-Yves Lacoste, Ateísmo: In: Jean-Yves Lacoste, dir. Dicionário Crítico de Teologia, São Paulo: Paulinas; Loyola, 2004, p. 204). “A ideia de que a ciência ‘refuta’ a existência de Deus é o tipo de declaração simplista que se destaca de forma proeminente no recente ateísmo populista” (Alister E. McGrath, Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e o sentido das coisas, São Paulo: Hagnos, 2015, p. 76).

[9] “Em todos os lugares os ministros piedosos tem tido a experiência do mesmo tipo de conflitos; pois os homens sempre formam sua avaliação sobre Deus com base em si mesmos, e creem que Ele se satisfaz com exibição externa, porém não podem, sem a maior dificuldade, ser levados a oferecer-lhe a integridade de seu coração” (John Calvin, Commentary on the Book of the Prophet Isaiah,Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, (Calvin’s Commentaries), 1996 (Reprinted),v. VII/1, (Is 1.11), p. 56).

[10]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 100.1-3), p. 549. Veja-se também: João Calvino, Instrução na Fé, Goiânia, GO: Logos Editora, 2003, Caps. 1-3, p. 11-14.

[11] Kennedy diz precisamente isso: “O motivo por que tantas pessoas se opõem a essa doutrina (predestinação) é que elas querem um Deus que seja qualquer coisa, menos Deus. Talvez permitam-lhe ser algum psiquiatra cósmico, um pastor prestativo, um líder, um mestre, qualquer coisa, talvez… contanto que Ele não seja Deus. E isso por uma razão muito simples… elas mesmas querem ser Deus. Essa sempre foi a essência do pecado – o fato que o homem pretende ser Deus” (James Kennedy, Verdades que Transformam, São Paulo: Editora Fiel, 1981, p. 31).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *