Teologia da Evangelização (98)
2.4.10.3. A Igreja como expressão e agente da Glória de Deus (Continuação)
Quando a evangelização se transforma apenas em questão de estatística ― número de membros, tamanho do edifício, arrecadação, relevância social das pessoas que frequentam os cultos, etc. ―, há muito deixamos de compreender o genuíno significado do Evangelho bíblico. A grandeza e importância da Igreja está em seu Senhor; as demais coisas são periféricas. A mensagem do Evangelho propõe-se a anunciar a Deus na beleza de sua santidade, sabendo que Deus será glorificado por meio de nossa fidelidade à sua Palavra.
O livro de Atos se constitui no maior relato da glorificação de Cristo pelo Espírito: A expansão missionária e a edificação dos crentes em santidade. Quando cristãos sinceros pregavam o Evangelho e, homens e mulheres eram transformados pelo seu poder, sendo conduzidos a uma vida santa, Cristo era glorificado. Este continua sendo o modo efetivo de glorificar a Deus: Obedecer aos seus mandamentos em fé e amor.
Nas páginas do Novo Testamento vemos que quando a liderança da Igreja de Jerusalém foi convencida por Pedro ― como este também o fora pelo Senhor ―, de que a mensagem do Evangelho era para todos, sem exceção; com alegria glorificaram a Deus: “E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram (doca/zw) a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida” (At 11.18).
Posteriormente, quando os gentios entenderam a mensagem do Evangelho após a pregação de Paulo inspirada no profeta Isaías, relata Lucas: “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam (doca/zw) a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48).
Quando Paulo relata aos presbíteros de Jerusalém como Deus operara entre os gentios por intermédio do seu ministério, “Ouvindo-o, deram eles glória (doca/zw) a Deus e lhe disseram: Bem vês, irmão, quantas dezenas de milhares há entre os judeus que creram, e todos são zelosos da lei” (At 21.20). Notemos que em todas estas manifestações, Deus e a sua mensagem é que eram engrandecidos: a glória pertence unicamente a Deus!
Paulo no final da segunda carta aos tessalonicenses, roga àqueles irmãos que conheciam o poder e glória do Evangelho: “Finalmente, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada (doca/zw), como também está acontecendo entre vós” (2Ts 3.1).
A Igreja prega o Evangelho e ora para que Deus, somente Deus seja glorificado por meio de sua missão. De fato, Deus o será todas as vezes que a Igreja for fiel ao seu Senhor.
Kuiper (1886-1966) é contundente e certeiro em sua afirmação:
A fé calvinista propõe o mais elevado objetivo da evangelização. E não é a salvação de almas. Nem o crescimento da Igreja de Cristo. Tampouco é a vinda do reino de Cristo. Todos estes objetivos da evangelização são importantes, inestimavelmente importantes. Mas são apenas meios para a consecução do fim para o qual todas as coisas foram trazidas à existência e continuam existindo, para o qual Deus faz tudo o que faz, no qual a história toda culminará um dia, e no qual estão focalizadas todas as eras da eternidade sem fim – a glória de Deus. Em resumo, de todos os cristãos, o calvinista tem de ser o mais zeloso pela evangelização. É o que ele será, se for verdadeiramente calvinista – e não só de nome.[1]
Piper, escrevendo sobre Missões, inicia o seu livro de forma surpreendentemente objetiva:
As missões não representam o alvo fundamental da igreja, a adoração sim. As missões existem porque não há adoração, ela sim é fundamental, pois Deus é essencial e não o homem. Quando esta era se encerrar e os incontáveis milhões de redimidos estiverem perante o trono de Deus, não haverá mais missões. Elas representam, no momento, uma necessidade temporária. Mas a adoração permanece para sempre.
A adoração é, portanto, o combustível e a meta das missões. É a meta das missões porque nelas simplesmente procuramos levar as nações ao júbilo inflamado da glória de Deus. O alvo das missões é a alegria dos povos na grandiosidade de Deus (Sl 97.1; 67.3-4).
As missões começam e terminam com a adoração.
Se a busca da glória de Deus não for colocada acima da busca do bem do homem nas afeições do coração e nas prioridades da igreja, o homem não será bem servido e Deus não será devidamente honrado. Não estou pleiteando por uma diminuição de missões, mas pela exaltação de Deus. Quando a chama da adoração arder com o calor da verdadeira excelência de Deus, a luz das missões brilhará para os povos mais remotos da terra. Eu anseio para a chegada desse dia!
Onde a paixão por Deus é fraca, o zelo pelas missões será fraco.[2]
As missões não são a meta suprema de Deus, a adoração, sim.[3]
A razão mais importante para a adoração ser o alvo das missões é porque ela é a meta de Deus.[4]
O objetivo final da evangelização, bem como da salvação do seu povo, é que Deus seja glorificado. A Igreja, como bela expressão da sabedoria e glória de Deus, é por natureza agente dessa glória.
Por isso, a Igreja não pode ter outro objetivo além de glorificar a Deus. Nisso, as demais coisas necessárias, serão acrescentadas. Glorifiquemos ao Senhor em nossa unidade obediente.
Maringá, 07 de outubro de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1976, p. 149. Vejam-se também: R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 58-59; 90-91; Idem, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana de la Iglesia Christiana Reformada, 1985, p. 225-226; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 51ss.
[2]John Piper, Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 13-14.
[3] John Piper, Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões, p. 17.
[4]John Piper, Alegrem-se os Povos: a supremacia de Deus em missões, p. 18.