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Teologia da Evangelização (95) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (95)

2.4.10.2. O objetivo final da vida humana

No Catecismo de Genebra (1541/2), nas primeiras duas perguntas, lemos:
Mestre: Qual é o fim principal da vida humana?
Discípulo: Conhecer os homens a Deus Seu Criador.
Mestre: Por que razão chamais este o principal fim?
Discípulo: Porque nos criou Deus e pôs neste mundo para ser glorificado em nós. E é coisa justa que nossa vida, da qual Ele é o começo, seja dedicada à sua glória.[1]

          Em outro lugar, Calvino afirma: “A glória de Deus é a finalidade mais elevada, à qual a nossa santificação está subordinada”.[2]

          Desta forma, o homem como criatura de Deus só se realiza quando vive para a glória de Deus, que é também, o seu fim último (2Co 5.8; Gl 2.20; Fp 1.21,23).[3]

          O Catecismo Menor de Westminster, à pergunta nº 1, “Qual é o fim principal do homem?”, responde: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre” (Ver: Is 43.7; 60.21; 61.3; Rm 11.36; 14.7-8; 1Co 10.31; Ef 1.5-6).

          Portanto, a nossa vida deve ter como propósito último, glorificar a Deus. Comenta Calvino: “A glória de Deus deve resplandecer sempre e nitidamente em todos os dons com os quais porventura Deus se agrade em abençoar-nos e em adornar-nos. De sorte que podemos considerar-nos ricos e felizes nele, e em nenhuma outra fonte”.[4]

          A felicidade do homem está condicionada ao seu genuíno conhecimento de Deus que tem como ingrediente fundamental o culto a Deus. Só conseguimos ter uma visão adequada dos objetivos secundários quando conseguimos enxergar corretamente o fim principal. O homem só descobre o sentido da vida e da eternidade, quando, pelo Espírito, consegue compreender que o fim principal de todas as coisas é a Glória de Deus e, então passa a viver para este fim (1Co 10.31; Cl 3.23).[5]

          A felicidade está em transcender-se. Quando o homem volta-se para Deus é que encontra o sentido da vida e da eternidade. Calvino, então, aconselha: “Não busquemos nossos próprios interesses, mas antes aquilo que compraz ao Senhor e contribui para promover sua glória”.[6]

          Comentando o Salmo 69.9, Calvino fala com a veemência própria de quem vivia este princípio:

A forma como ele [Davi] fazia isso, ele mostra que era através do zelo pela Igreja de Deus com que sua alma se inflamava. Não só assinalava a causa dos maus tratos que recebia – seu zelo pela casa de Deus -, mas também declara que, qualquer que fosse o tratamento de que imerecidamente fosse alvo, todavia, por assim dizer, esquecendo-se de si mesmo, ele arderia de santo zelo para manter a Igreja, e ao mesmo tempo a glória de Deus, com a qual vive em comunhão indestrutível. […]
Davi ignorou a si próprio, e que toda a tristeza que sentia era procedente do santo zelo com que ardia quando via o sacro nome de Deus insultado e ultrajado com horríveis blasfêmias. […]
Até que tenhamos aprendido a dar pouco valor à nossa reputação pessoal, jamais seremos inflamados com genuíno zelo em contender pela preservação e avanço dos interesses da glória divina […]
Visto que Cristo, em quem resplandece toda a majestade da Deidade, não hesitou a expor-se a todo gênero de afronta para a manutenção da glória de seu Pai, quão vil e ignominioso será se nos reduzirmos a semelhante sorte.[7]

Maringá, 07 de outubro de 2022.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]John Calvin, Catechism of the Church of Geneva, perguntas 1 e 2. In: John Calvin, Tracts and Treatises on the Doctrine and Worship of the Church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1958, v. 2, p. 37.

[2]João Calvino, Efésios,(Ef 1.4), p. 25. “Ora, a vida eterna e imortal só pode ser encontrada em Deus. Portanto, é necessário que a principal preocupação e solicitude de nossa vida seja buscar a Deus, aspirá-lo com toda a afeição de nosso coração e descansar nele somente” (João Calvino, Instrução na Fé, Goiânia, GO: Logos Editora, 2003,Cap. 1, p. 11).

[3]“Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2Co 5.8). “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). “Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.21,23).

[4]João Calvino, O Livro dos Salmos, (Sl 48.3), p. 356. “O propósito geral da minha salvação e da sua é que nós glorifiquemos o Pai. (…) O alvo, o objetivo supremo da nossa salvação é que glorifiquemos a Deus” (D.M Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 47,48).

[5] Veja-se: Charles Hodge, Systematic Theology,v. 1, p. 535-537

[6]João Calvino, A Verdadeira Vida Cristã,São Paulo: Novo Século, 2000, p. 30. De forma semelhante: “Não busquemos as cousas que são nossas, mas aquelas que não somente sejam da vontade do Senhor, como também contribuam para promover-lhe a glória” (João Calvino, As Institutas, III.7.2).

[7]João Calvino, O Livro dos Salmos, (Sl 69.9), v. 3 , p. 20,22.

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