Teologia da Evangelização (200) – Final
5.7. Devemos ter consciência de que o nosso trabalho depende inteiramente do Espírito da Graça de Deus (Continuação)
Paulo continua seu argumento na correção dos coríntios:
21Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso: 22 seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, 23 e vós, de Cristo, e Cristo, de Deus. (1Co 3.21-23).
Paulo mais uma vez toca na questão do partidarismo da Igreja. Contudo agora, apresentando uma palavra mais pastoral, como se os exortasse: deixem disso, Paulo, Apolo, Cefas, a vida, a morte, o mundo, o agora e o porvir; tudo, todas as coisas pertencem a Deus. Portanto, a sua conclusão é uma exortação e uma palavra de alegre esperança.
À frente, após ter recorrido à outra figura, diz: “Ora, irmãos, estas coisas eu as apliquei figuradamente a mim e a Apolo, por amor de vós; para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito, de modo que nenhum de vós se ensoberbeça a favor de um contra outro” (1Co 4.6).
A Igreja pertence a Deus: Deus é quem a formou, dá-lhe crescimento e a preserva. Ela não é de homens – pastores, presbíteros e diáconos –; é de Deus. Portanto, diz Paulo, não nos gloriemos em homens (1Co 3.21/1Co 3.7).
Deus é o nosso Senhor bem como de todas as coisas. Ainda que o mundo não esteja disposto a reconhecer o senhorio de Cristo, isto não significa que não seja assim.
Aqui há uma mensagem de grande conforto: se todos pertencemos a Cristo, tudo é nosso. Cristo compartilha conosco de seus bens: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).
“Paulo está plenamente certo em ensinar-nos que qualquer preeminência que seja atribuída ao homem, que envolva o detrimento da glória de Cristo, é sacrílega”, afirma Calvino.[1]
Packer (1926-2020), teólogo que aprendi a admirar desde os meus tempos de estudante, escreve de forma biblicamente contundente:
Por mais que apresentemos o evangelho de forma clara e convincente, não temos qualquer esperança de convencer ou converter quem quer que seja. Poderíamos o prezado leitor e eu, mediante nossas palavras mais intensas, quebrar o poder que Satanás exerce sobre a vida de um homem? Não. Poderíamos proporcionar vida aos espiritualmente mortos? Não. Poderíamos nutrir a esperança de convencer os pecadores sobre a verdade do evangelho mediante as mais pacientes explicações? Não. Poderíamos esperar levar os homens a obedecerem ao evangelho através de quaisquer palavras de exortação que porventura disséssemos? Não. Nossa maneira de evangelizar não será realista enquanto não tivermos enfrentado esse fato esmagador, permitindo que ele exerça o devido impacto sobre nós. (…) Considerada como um empreendimento humano, a evangelização é uma tarefa inútil. Em princípio não pode produzir o efeito desejado. Podemos pregar, e pregar de modo claro, fluente e atrativo; podemos falar a indivíduos da maneira mais apropriada e desafiadora; podemos organizar cultos especiais, distribuir folhetos, exibir cartazes e encher a terra de publicidade – mas não há a mais remota esperança de que toda essa queima de esforços será capaz de conduzir qualquer alma a Deus. A não ser que algum outro fator interfira nessa situação, nossos próprios desempenhos, todas as atividades evangelísticas estarão condenadas de antemão ao fracasso. Esta é a verdade, nua e crua que temos de enfrentar.[2]
Finalmente, devemos nos lembrar de que Deus é o Senhor. A nós compete pregar, ensinar, interceder, suplicar. A oração deve ser o elemento agregador de todos os nossos atos. A oração é a declaração solene e existencial do povo de Deus, de que a sua suficiência e capacidade estão em Deus.
Orar é exercitar a nossa fé naquele que temos conhecido. A salvação, como já vimos, é um ato exclusivo de Deus: Somente a Ele pertence (Jn 2.9; 1Co 1.21; Hb 2.10; 5.9; Tg 4.12; Ap 7.10; 19.1). Que Deus nos abençoe, nos capacitando, pelo Espírito a ser testemunhas fiéis.
Amém.
Maringá, 19 de março de 2023.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, São Paulo: Paracletos, 1996, (1Co 3.21), p. 121.
[2] J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 74-75. “Onde quer que Deus em Sua providência faça Seu Evangelho ser fielmente pregado, temos motivos para crer que Ele tem aí um povo escolhido. (…) Onde Ele faz Seu Evangelho ser pregado fielmente, Deus tem um povo escolhido e que Ele será tornado ‘disposto no dia do Seu poder’.” (Bennet Tyler, Eleição: incentivo para pregar o Evangelho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, [s.d.], p. 16).