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Teologia da Evangelização (175) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (175)

4.6. Os Frutos do Evangelho (Continuação)

C. Tornamo-nos Filhos de Deus: “Mas, a todos quantos o receberam (lamba/nw)[1](Jesus Cristo), deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome” (Jo 1.12); “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus” (Gl 3.26).

          Receber a Cristo é o mesmo que receber o Evangelho. Jesus Cristo é a Palavra de Deus Encarnada, é a Boa Nova de Salvação. Rejeitar a Palavra de Cristo é o mesmo que rejeitar o próprio Cristo. Conforme nos ensina o próprio Senhor, o nosso julgamento será à luz desta Palavra: “Quem me rejeita (a)qete/w)[2] e não recebe (lamba/nw) as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia” (Jo 12.48).

          Pelo Evangelho passamos a ter o maior de todos os privilégios; não há nada maior do que isto. Jesus Cristo, o nosso Salvador, o Filho eterno de Deus, compartilha conosco desta graça: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo” (1Jo 3.1).

          Deus em seu amor eterno e insondável, escolheu-nos em Cristo, transformando totalmente a nossa situação: de condenados passamos a filhos e herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8.17).

          Ainda assim, aguardamos o que haveremos de ser. Na realidade, não mais do que filhos, visto que não há privilégio maior, mas a glória para nós preparada ainda não se manifestou em sua plenitude, nem somos capazes de imaginar, visto que jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para os seus filhos (Rm 8.18; 1Co 2.9; 2Co 4.17; Ef 3.20; 1Pe 1.3-5).[3] “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo 3.2). Todas as demais bênçãos que recebemos decorrem da “graciosa adoção divina como sua causa primeira”, comenta Calvino.[4]

          Somente na condição de filhos podemos orar ao Pai, dizendo: Pai Nosso. Quando oramos sabemos que estamos falando com o nosso Pai. Desta forma, a oração é uma prerrogativa dos que estão em Cristo. Esta oração é uma profissão de fé de quem é o nosso Deus. Somente os que estão em Cristo pela fé, têm a Deus como o seu legítimo Pai (Jo 1.12; Rm 8.14-17; Gl. 4.6; 1Pe 1.17; 1Jo 3.1-2). De onde se segue que a Oração do Pai Nosso apesar de não mencionar explicitamente o nome de Cristo, é feita no Seu nome, visto que somos filhos de Deus – e é nesta condição que nos dirigimos a Deus –, por intermédio de Cristo Jesus (Gl 3.26).[5] O Pai Nosso é a “Oração dos Filhos”.[6] Ou, em outros termos, “a oração do redimido”.[7]

          Deus é o soberano, o Todo-Poderoso, mas, também é em Cristo o nosso Pai.[8] E para que não haja dúvida, o Espírito que procede do Pai e do Filho dá testemunho em nós de nossa filiação. “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8.16).

 

D. Salvação: Como vimos, o Evangelho é a palavra de salvação(Ef 1.13).[9] Paulo relembra aos crentes coríntios o Evangelho anunciado, recebido e guardado pelos fiéis: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho (eu)agge/lion) que vos anunciei, (eu)aggeli/zw) o qual recebestes (paralamba/nw) e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei (eu)aggeli/zw), a menos que tenhais crido em vão” (1Co 15.1,2) (Ver: 1Ts 1.8-10).

          A mensagem do Evangelho é de Boas Novas de salvação. A primeira motivação nossa é anunciar a Palavra para que os eleitos a recebam e perseverem nesta Palavra até o fim. O texto também chama a nossa atenção para a fidelidade na proclamação.

          Paulo, consciente da consistência e fidelidade de seu ensino, estimula os crentes a preservarem na Palavra “tal como vo-la preguei”. É terrível alguém perseverar no engano! A mensagem que salva não é a nossa, mas a que provém de Deus por meio do Evangelho. Não nos cabe inventar ou adaptar esta mensagem; simplesmente devemos anunciá-la e exortar aos que a receberam a perseveram nela. Somente na Boa Nova de Deus temos salvação.

          Deus por meio do Evangelho é poderoso para nos confirmar até o fim: “Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos” (Rm 16.25).

Maringá, 20 de fevereiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] A palavra significa também, tomar (Mt 13.31,33; 14.19); trazer (Mt 16.7); agarrar (Mt 21.35,39); levar (Mt 25.4); assumir (Fp 2.7; Ap 11.17); aceitar (Jo 3.11), etc. Jesus Cristo idêntica os seus discípulos, entre outras coisas associadas, pelo recebimento da Palavra: Manifestei (fanero/w) o teu nome (o(/noma) aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado (thre/w) a tua palavra. Agora, eles reconhecem (ginw/skw) que todas as coisas que me tens dado provêm de ti; porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam (lamba/nw), e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram (pisteu/w) que tu me enviaste” (Jo 17.6-8).

[2] * Mc 6.26; 7.9; Lc 7.30; 10.16 (4 vezes); Jo 12.48; 1Co 1.19; Gl 2.21; 3.15; 1Ts 4.8 (2 vezes); 1Tm 5.12; Hb 10.28; Jd 1.8.

[3] “Se acaso tivermos a pretensão de ser mais que filhos e herdeiros de Deus, teremos que subir mais alto que Cristo. Mas se temos nele o nosso limite extremo, não estaremos provocando Sua ira máxima, se buscarmos fora de Cristo o que já obtivemos nele, sendo que só o podemos obter nele? Além disso, visto que Cristo é a sabedoria eterna do Pai, a verdade imutável, o conselho inabalável, não devemos acreditar que o que Ele nos declara com Sua boca possa diferir um átomo que seja da vontade do Pai, a qual buscamos conhecer. Antes, Ele nos manifesta fielmente qual é a vontade do Pai, desde o princípio e para sempre” (João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 3, (III.8), p. 61).

[4] J. Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.28), p. 294. Vejam-se: Confissão de WestminsterXII.1; Catecismo Menor, Pergunta 34.

[5] Veja-se João Calvino, As Institutas,III.20.36.

[6] Conforme expressão de Lloyd-Jones (1899-1981) (D.M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte,São Paulo: FIEL., 1984, p. 358).Veja-se a relação feita por Calvino entre a oração e a convicção de nossa filiação divina (João Calvino, Exposição de Romanos,(Rm 8.16), p. 279-280).

[7] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 630.

[8] Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 23.

[9]“Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13).

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