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Teologia da Evangelização (172) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (172)

4.5.5. Obediência

 “A pedra de toque da fé é quando espontaneamente recebem a palavra de Deus e continuam firmes e constantes em sua obediência a ela”, ensina Calvino.[1]

          Paulo em duas ocasiões fala de forma recriminatória daqueles que não obedeceram ao Evangelho. Na primeira delas, ele está interpretando as palavras de Isaías. “Mas, nem todos obedeceram ao evangelho….” (Rm 10.16). Em outro momento, ele fala do regresso de Cristo, o qual manifestará a Sua justiça retributiva “contra os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2Ts 1.8).

          O Evangelho, portanto, não reivindica uma fé distante, informe, antes, um compromisso tal, que envolve a nossa firme confiança que se manifesta em obediência. Somente uma fé obediente poderá perseverar até o fim. Somente esta fé nos manterá firmados na Palavra. “A fé, quando é conduzida à obediência a Deus, mantém nossas mentes fixas em sua palavra”, instrui-nos Calvino.[2] 

          Fé significa conhecer a Deus, e também, em saber o que Deus deseja que façamos. Fé envolve um compromisso entre nós e Deus. Nós fomos criados em Cristo para as boas obras (Ef 2.8-10).

          A obediência é fruto da genuína fé. A obediência é a fé manifestada. A fé é a obediência oculta.  A verdadeira fé se evidencia no fato de tomarmos a Bíblia como a nossa norma de vida. Não podemos crer realmente em Deus se desconsideramos a Sua Palavra e promessas. 

          A profissão de nossa fé se dá no ato de nossa obediência, conforme resumiu bem Bonhoeffer (1906-1945): “A resposta do discípulo não é uma confissão oral da fé em Jesus, mas sim um ato de obediência (…). Não há qualquer outro caminho para a fé senão o da obediência ao chamado de Jesus”.[3]

          Portanto, ou a fé é obediente, ou senão, ela não é a legítima fé salvadora. Ninguém será salvo por uma declaração de fé, mas, pela graça, mediante uma fé declarada. A declaração vívida da fé se concretiza em obediência. (Tg 2.14-26).

          Desse modo, assim como a fé é um dom gracioso de Deus, a nossa obediência é o resultado e fruto dessa mesma graça. A recompensa da obediência não é apenas final, mas, se processa no aprendizado da obediência submissa e sincera.[4] Obedecer é graça que se manifesta em gratidão.

           A graça de Deus que gerou a fé em nossos corações produz invariavelmente de forma dinâmica uma poderosa influência transformadora e modeladora no nosso caráter.[5] A graça da fé nunca é estéril na construção de uma vida com novos valores e atitudes moldados pela Escritura.

          Uma fé viva se revela em nossa caminhada, em nossas construções, desconstruções e em uma busca compromissada com a aplicação da Palavra aos desafios com os quais nos deparamos.

          O Evangelho reclama uma obediência “voluntária” aos seus ensinamentos. Nós anunciamos a Palavra para que pelo Evangelho seja “levado cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Co 10.5).

          A obediência ao Evangelho revela a nossa fé. “A fé somente é fé no ato da obediência”, sintetiza Bonhoeffer.[6]

4.5.6. Perseverança

 No texto já analisado diversas vezes neste estudo, Paulo escreve aos coríntios: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei….” (1Co 15.1-2). (Vejam-se: Gl 1.6-9/Gl 5.7).

          O Evangelho desafia os homens a perseverarem em sua fé, permanecendo em Cristo e na sua Palavra (Jo 8.30-31), produzindo frutos de obediência, que evidenciem o Evangelho. “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14.12)

          Evangelizar envolve a instrução, o ensino necessário para que os homens não sejam enganados por um “evangelho” pervertido, destituído de Cristo (Vejam-se: Gl 1.6-9/Gl 5.7). Como Igreja, somos enviados a evangelizar todas as nações, batizando os crentes, ensinando-os a guardar todos os ensinamentos de Cristo (Mt 28.19-20), a fim de que os convertidos não sejam levados de um lado para o outro por todo vento de doutrina (Ef 4.14).

Maringá, 16 de fevereiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Parakletos, 2002, v. 3, (Sl 106.12), p. 676.

[2]João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Parakletos, 1999, v. 2, (Sl 38.10), p. 184.

[3] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado,2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 20.

[4]“Existe uma recompensa, não somente após obedecer aos mandamentos de Deus, mas durante a obediência deles” (Matthew Henry, Comentário Bíblico de Matthew Henry, 5. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, (Sl 19), p. 411).

[5]D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 89; John MacArthur, Obediência: Amor ou legalismo?: In: Don Kistler, org. Crer e Observar: o cristão e a obediência, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 44.

[6]Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 25. “Aqueles que possuem a fé salvadora necessariamente, imediatamente começam a manifestar os frutos da fé, que são as obras da obediência” (R.C. Sproul, Justificação pela Fé Somente: a natureza forense da justificação: In: John F. MacArthur, Jr., et. al., A Marca da Vitalidade Espiritual da Igreja: Justificação pela Fé Somente, São Paulo: Editora Cultura Cristã, (2000), p. 34).

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