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Teologia da Evangelização (170) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (170)

4.5. As Reivindicações do Evangelho

O Evangelho do Reino – anunciado incondicional e imperativamente pela Igreja -, é por si só reivindicatório. Ele traz na sua própria essência o apelo ao homem para que se posicione diante do que foi ouvido. Por isso é que a força da pregação da Igreja está na Palavra viva de Deus (Rm 1.16; 10.17; Tg 1.18; 1Pe 1.23).

          Paulo quando escreve aos coríntios declara: “De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20).[1]

          A Igreja prega o Evangelho intimando os homens a aceitarem o reinado de Cristo em seus corações, mudando, deste modo, a sua relação com o Senhor. 

          Vejamos, agora, em forma de esboço, algumas das reivindicações do Evangelho:

4.5.1. Arrependimento 

     Marcos relata que após a prisão de João Batista, Jesus foi para a Galileia “pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo: arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14-15).

          Após a instrução de Jesus, “Então, saindo eles (os discípulos), pregavam ao povo que se arrependesse” (Mc 6.12).

          O arrependimento é fundamental à nossa salvação. Todos precisamos de nos arrepender. Ele é parte essencial da mensagem do Evangelho (Mt 3.2; 4.17; Mc 1.14-15; Lc 24.46-47; At 20.21; 26.18-20; Ap 3.19).[2] Todos são notificados desta necessidade (At 17.30).[3]

          O pregador do Evangelho tem a responsabilidade de conclamar os homens a se arrependerem de seus pecados, passando – por obra do Espírito -, por uma transformação total, que envolve uma mudança de mente e coração, que se manifeste num novo caminhar em direção a Deus[4] (2Co 5.10; 7.9-10/2Tm 2.25).[5]

4.5.2. Fé em Jesus Cristo[6] 

   Como vimos acima, a mensagem de Jesus era: “…. arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Antes de ser assunto aos céus, o Senhor ordenou aos seus discípulos:“Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado” (Mc 16.15-16).

          Sem a revelação de Deus jamais conheceríamos o Evangelho. Poderíamos, quem sabe, tomar conhecimento de sua mensagem; apenas isso.  Todavia, ele não termina em informação, antes exige arrependimento e fé. O Evangelho não apenas nos instrui, antes, é para ser crido e vivido.

          O arrependimento gera a tristeza para com o nosso pecado. A fé redireciona as nossas esperanças, redimensionando a nossa agenda de vida e prioridades à luz da Palavra. Portanto, a fé faz parte essencial da reivindicação graciosa do Evangelho. Por meio da graça mediante a fé somos capacitados a receber a graça da salvação.

          A pregação, portanto, visa ser compreendida por todos. Falamos de forma mais clara possível a fim de que os homens entendam o que estamos dizendo e o significado desta mensagem que não é nossa, é de Deus. Contudo, a nossa tarefa não termina aqui: pregamos fiel, inteligente e submissamente, oramos, convidamos, testemunhamos e intercedemos.

          Toda proclamação cristã envolve em si mesma um desafio para que os nossos ouvintes respondam com fé ao nosso testemunho que nada mais é do que o anúncio do Evangelho. A aplicação desta mensagem produzindo fé em seus ouvintes, pertence a Deus. Ele assim o faz conforme o seu propósito santo e glorioso.  Podemos até pregar mal e, de certa forma, todos pregamos, contudo, o Evangelho continua sendo o poder de Deus.

          Lloyd-Jones escreve: “A pregação cristã não é meramente uma exortação, não é meramente um apelo, é a narração de fatos. O Espírito Santo habilita as pessoas a darem testemunho dos fatos e depois mostra o sentido e a significação deles aos ouvintes”.[7]

          A fé salvadora é uma fé Teológica e, esta é Cristocêntrica. Conforme já dissemos, a Teocentricidade da fé é Cristocêntrica.  A fé não é uma virtude humana, antes, é resultado da graça que nos faz confiar no Evangelho e descansar em Cristo. A questão primeira não está na intensidade de nossa fé, antes, em quem cremos. É o Senhor Jesus em sua majestade quem confere sentido à nossa fé e nos ajuda em nossa, por vezes, incredulidade (Mc 9.24). 

Esta é a genuína fé cristã. Ela está enraizada no coração que foi regenerado por Deus. A fé salvadora é obra de Deus e é direcionada para Deus por meio de Cristo (Hb 12.2; 1Jo 5.1-5).[8] Contudo, o que nos salva não é a nossa fé, mas, o que Cristo por graça realizou por nós despertando a nossa fé nele.

          A fé salvadora é um dom da graça de Deus, por meio do qual somos habilitados a receber a Jesus Cristo como nosso único e suficiente Salvador e, a crer em todas as promessas do Deus Trino, conforme estão registradas nas Escrituras.[9]

          O Catecismo Menorde Westminster (1647) na questão 86, assim define: “Fé em Jesus Cristo é uma graça salvadora, pela qual o recebemos e confiamos só nele para a salvação, como ele nos é oferecido no Evangelho”.

          Portanto, a pregação de Paulo era centrada em Cristo intimando seus ouvintes a se arrependerem de seus pecados e voltarem-se confiantes para Cristo em quem somente há salvação.

          A mensagem de arrependimento e fé deve acompanhar durante toda a história a vida da igreja. Precisamos constantemente de nos arrepender e crer. A nossa fé nem sempre triunfa de modo existencial durante as nossas angústias. E mais, a nossa fé deve ser desenvolvida e aperfeiçoada na realidade contínua de Deus em nossa vida.[10]

 Maringá, 16 de fevereiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Contudo, “a Igreja não pode pregar honestamente o evangelho de reconciliação a menos que ela mesma seja evidentemente uma comunidade reconciliada” (John R.W. Stott; Basil Meeking, editores, Dialogo Sobre La Mision, p. 61).

[2] Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus(Mt 3.2). “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mt 4.17).  “14 Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus,  15 dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14-15). “46 E lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia  47 e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém” (Lc 24.46-47). “Testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”(At 20.21). 18 para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.  19 Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial,  20 mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento” (At 26.18-20).“Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Ap 3.19).

[3]“Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam (metanoe/w)(At 17.30).

[4] Vejam-se: R.B. Kuiper, Evangelização Teocêntrica, p. 123-124; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 49-51; John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 64-66; Walter J. Chantry, O Evangelho hoje: autêntico ou sintético? São Paulo: Fiel, 1978, p. 41-49; John MacArthur, O Evangelho Segundo os Apóstolos, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2011, p. 91-109.

[5]“De sorte que somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio. Em nome de Cristo, pois, rogamos que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20). “Agora, me alegro não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus, para que, de nossa parte, nenhum dano sofrêsseis. Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” (2Co 7.9-10). “Disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade” (2Tm 2.25).

[6]Vejam-se: Hermisten M.P. Costa, Eu Creio: no Pai, no Filho e no Espírito Santo, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2014; J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 49-51.

[7]David Martyn Lloyd-Jones, Cristianismo Autêntico: Sermões nos Atos dos Apóstolos, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006, v. 2, p. 260-261.

[8] “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus” (Hb 12.2). “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. 2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. 3 Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, 4porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 5Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?” (1Jo 5.1-5).

[9]“Somos reconhecidos como filhos de Deus, não por conta de nossa própria natureza, nem por nossa própria iniciativa, mas porque o Senhor nos gerou voluntariamente (Tg 1.18), ou seja, com base em seu amor imerecido. Daqui se deduz, primeiramente, que a fé não provém de nossa própria ação, senão que é fruto da regeneração espiritual. Pois o Evangelista afirma que ninguém pode crer, a não ser que seja gerado por Deus. Daqui se depreende que a fé é um dom celestial. Além do mais, a fé não é um mero e frio conhecimento, porquanto ninguém pode crer se porventura não for renovado pelo Espírito de Deus” (João Calvino, O Evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 1.13), p. 47-48).

[10]Veja-se: João Calvino, O evangelho segundo João, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2015, v. 1, (Jo 2.11), p. 95.

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