Teologia da Evangelização (169)
4.4.3. Unidade entre a Igreja Militante e a Triunfante
Em seu sentido mais amplo, e)kklhsi/a [igreja] é a reunião de todo o povo de Deus, não somente sobre a terra, mas também no céu (Hb 12.23), não somente no passado e no presente, mas também no futuro (Jo 10.16; 17.20). – Herman Bavinck.[1]
Se a igreja na terra é a igreja militante, no céu é a igreja triunfante. Lá a espada é permutada pelos louros da vitória, os brados de guerra se transformam em cânticos triunfais, e a cruz é substituída pela coroa. A luta é finda, a batalha está ganha, e os santos reinam com Cristo para todo o sempre. – Louis Berkhof.[2]
Em Teologia, costumamos chamar de Igreja Triunfante aquela que é constituída pelos irmãos que já partiram desta vida, se encontrando na presença do Senhor. Denominamos de Igreja Militante aquela que é formada por todos aqueles que creem em Cristo e, que continuam nesta vida ativos contra o pecado, o mundo e Satanás.
A Segunda Confissão Helvética (1566), no capítulo XVII, faz a seguinte distinção:
Uma é chamada a Igreja Militante e a outra a Igreja Triunfante. A primeira ainda milita na terra e luta contra a carne, o mundo e o Diabo, que é o príncipe deste mundo, e contra o pecado e a morte. A outra, já deu baixa e triunfa no céu depois de ter vencido esses inimigos, e exulta diante do Senhor. Entretanto, essas duas igrejas têm comunhão e união uma com a outra. (Destaque meu).
Os heróis da fé que já partiram desta vida são espectadores, enquanto nós, que continuamos nesta peregrinação terrena, estamos vivendo numa antítese ativa contra os valores e práticas deste mundo. “Para a Igreja que agora vive e luta, tais testemunhas são herança preciosa e elemento de ajuda e encorajamento”, comenta Aulén (1879-1977).[3] (Vejam-se: 2Tm 4.7-8; Fp 1.21-26; Hb 12.1-3/Hb 11.1-40).[4]
Há uma ligação entre nós e os nossos irmãos que já morreram. Todos pertencemos à mesma Igreja, fomos alcançados pela mesma graça, tendo o mesmo dom da fé.
Desta forma, a Igreja é católica porque é composta por todos aqueles que creram; os fiéis ao Senhor de todas as eras, quer já tenham morrido, quer estejam entre nós, ainda vivos. “A igreja é a única instituição no mundo que não vai perder seus membros, nem mesmo por causa da morte”, jubila Beeke.[5]
Agora, na condição presente, a igreja usufrui de forma embrionária as delícias da comunhão com o Senhor, alegrando-se na doce expectativa da sua comunhão completa em santidade na presença de seu Salvador, quando reinará com Cristo, não mais como igreja militante, mas, por graça, como igreja triunfante do Senhor. [6]
Um dia, todos nós nos encontraremos, nos constituindo no evidente testemunho da catolicidade da Igreja de Cristo, que é o seu Corpo, o qual na Era presente, atinge o céu e a terra.
Agora, neste estado de existência, como Igreja Militante, “….visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus….” (Hb 12.1-2).
Maringá, 16 de fevereiro de 2023.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]Herman Bavinck, Dogmática Reformada − Espírito Santo, Igreja e nova criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 285.
[2] Louis Berkhof, Teologia Sistemática,Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 569.
[3] Gustaf Aulén, A Fé Cristã,São Paulo: ASTE, 1965, p. 299.
[4] “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm 4.7-8). “21 Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. 22 Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. 23 Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. 24 Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne. 25 E, convencido disto, estou certo de que ficarei e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé, 26 a fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença, de novo, convosco” (Fp 1.21-26). “39 Ora, todos estes que obtiveram bom testemunho por sua fé não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, 40 por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito, para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.Portanto, também nós, visto que temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, 2 olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus. 3 Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma” (Hb 11.39-12.3).
[5]Joel Beeke, Coisas Gloriosas são ditas sobre Ti. In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 46.
[6] Veja-se: Joel Beeke, Coisas Gloriosas são ditas sobre Ti. In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 39.