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Teologia da Evangelização (159) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (159)

4.3.7. O reto juízo de Deus por meio de Cristo (Continuação)

Justo em si mesmo

Deus é justo em sua própria essencialidade, mantendo-se contrário a toda e qualquer violação da sua santidade. A ira de Deus é uma expressão da sua justiça diante do pecado que consiste na quebra de sua Lei revelada.[1]

          A Escritura nos ensina que Deus é justo em si mesmo. É absolutamente justo e, por isso mesmo, justo em suas relações. A natureza santa de Deus é a lei, e, é a partir dela todas as demais leis devem ser avaliadas. O padrão da justiça de Deus é-nos revelado nas Escrituras.[2]

          O salmista exaltando a Deus que se revela na natureza e na Palavra, canta: “Os juízos do SENHOR (hw”hoy>) (Yehovah) são verdadeiros e todos igualmente, justos (qd;c’) (tsadaq)” (Sl 19.9).

          O Senhor é justo em todas as suas expressões. Em seu juízo tem diante de si um conhecimento imediato, abrangente, exaustivo e criterioso de todas as coisas. Ele tem um conhecimento claro e distinto de toda a realidade porque, toda a realidade, em última instância, existe sob o seu poder:

4O SENHOR está no seu santo templo; nos céus tem o SENHOR seu trono; os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam (!x;B’) (bahan) (= examinar, testar provar) os filhos dos homens. 5O SENHOR põe à prova (!x;B’) (bahan) ao justo e ao ímpio; mas, ao que ama a violência, a sua alma o abomina. (Sl 11.4-5/Sl 7.10; 17.3; 66.10; 139.23; Pv 17.3).

Deus conhece as coisas como são

          Deus conhece as coisas como elas de fato são, porque é Ele quem as preserva. O seu critério de “avaliação” é minucioso, completo e verdadeiro.[3]

          A verdade revelada nas Escrituras é a realidade como Deus a percebe. Deus percebe as coisas como são. Somente Deus, e mais ninguém, tem um conhecimento objetivo, exaustivo e sempre presente da realidade.

          A verdade é uma expressão de Deus em si mesmo e na Criação. Deus é a verdade, opera por meio da verdade e nos conduz à verdade. A graça de Deus opera pela verdade e, nesta verdade que foi ouvida e compreendida, frutificamos (Cl 1.6).

          As coisas são como são porque, de alguma forma, Deus as sustenta. Antes de atribuirmos valor à verdade, ela já o tem porque foi Deus quem a criou e lhe confere significado.

          Nessa certeza, ora o salmista:

8O SENHOR julga os povos; julga-me, SENHOR, segundo a minha retidão e segundo a integridade que há em mim. 9 Cesse a malícia dos ímpios, mas estabelece tu o justo; pois sondas (!x;B’) (bahan) (examinar, testar provar) a mente e o coração, ó justo Deus. (Sl 7.8-9).

O Salmo 7 e a “justiça” de Davi

          Deve ser dito logo de início que Davi não reivindicava a sua impecabilidade, contudo, considerava-se limpo e, por isso, injustiçado em relação às acusações que lhe faziam (Sl 7.8). Como sabemos, nenhum de nós retrata de forma perfeita a justiça de Deus, portanto, não há um justo sequer (Rm 3.9-12/Sl 14.1-3).[4]

          Deus nos conhece perfeita  e completamente. No seu juízo, discerne o que pode haver de mais oculto em nosso coração. Enfatizamos: Davi não se julgava sem pecado, contudo, inocente das acusações que lhe fizeram. Por isso, pede a Deus que o julgue “segundo a minha retidão e segundo a integridade que há em mim” (Sl 7.8).

          Os atributos de Deus se completam em um todo perfeito e harmonioso. Ilustremos: Se o Senhor fosse apenas soberano, misericordioso, amoroso, etc., poderia, em seu julgamento, se tornar injusto pela incapacidade de discernir as particularidades e os princípios envolvidos em cada caso.  No entanto, quando falamos do juízo de Deus, podemos dizer como Davi: “Deus é justo juiz”(Sl 7.11).

          Nada está oculto diante do Senhor: “O além e o abismo estão descobertos perante o SENHOR; quanto mais o coração (bl) (lebh) dos filhos dos homens!” (Pv 15.11).

Deus conhece as nossas motivações

          Por meio de uma figura, Salomão demonstra como é criterioso e preciso o exame do Senhor. Ele esquadrinha inteiramente o nosso coração: “O crisol prova a prata, e o forno, o ouro; mas aos corações (bl) (lebh) prova (!x;B’) (bahan) o SENHOR” (Pv 17.3/Jr 17.10).[5]

          Deus conhece as nossas motivações e intenções. Escreve Salomão:

Se disseres: Não o soubemos, não o perceberá aquele que pesa (!k;T’) (takan) (medir, examinar, considerar, calcular a grandeza)[6]os corações (bl) (lebh)? Não o saberá aquele que atenta para a tua alma? E não pagará ele ao homem segundo as suas obras? (Pv 24.12).

          O juízo de Deus está relacionado a este conhecimento:

Enganoso é o coração (bl) (lebh), mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração (bl) (lebh), eu provo (!x;B’) (bahan) os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto de suas ações. (Jr 17.9-10).

          Por isso, o conforto do salmista: “Deus é o meu escudo; ele salva os retos de coração (bl) (lebh)(Sl 7.10).

          Esta é a alegria própria dos retos de coração:“Alegrai-vos no SENHOR e regozijai-vos, ó justos; exultai, vós todos que sois retos de coração (bl) (lebh)(Sl 32.11).

          Assim, o salmista que inicia o salmo (Sl 7) rogando a salvação de Deus, conclui rendendo graças ao Senhor se alegrando na sua justiça: “Eu, porém, renderei graças ao SENHOR, segundo a sua justiça, e cantarei louvores ao nome do SENHOR Altíssimo” (Sl 7.17).

Maringá, 30 de janeiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “Intimamente relacionada com a santidade de Deus está a sua ira, a qual é, de fato, a sua reação santa ao mal” (John R.W. Stott, A Cruz de Cristo, Miami: Vida, 1991, p. 93). “Ira e furor do Senhor não são perturbação da mente e sim força vindicativa, inteiramente justa, pois serve-o submissa toda a criação.  (…) A ira de Deus, portanto, é a comoção da alma, conhecedora da lei de Deus, ao ver o pecador transgredir a mesma lei” (Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulinas, 1997, (Patrística, 9/1), v. 1, (Sl 2.4), p. 26).

[2]Veja-se Louis Berkhof, Teologia Sistemática, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 1990, p. 77-78.

[3] Do mesmo modo: Jr 11.20; 12.3; 20.12.

[4]9Que se conclui? Temos nós qualquer vantagem? Não, de forma nenhuma; pois já temos demonstrado que todos, tanto judeus como gregos, estão debaixo do pecado; 10como está escrito: Não há justo, nem um sequer, 11não há quem entenda, não há quem busque a Deus; 12todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.9-12).

[5]Vejam-se também: Sl 26.2; 66.10; 139.23; Pv 21.2; 24.12.

[6] Para uma discussão a respeito da origem e significado da palavra, vejam-se:   M. Delcor, Medir: In: E. Jenni; C. Westermann, Diccionario Teologico Manual del Antiguo Testamento, Madrid: Ediciones Cristiandad, 1978, v. 2, p. 1306-1310; Bruce K. Waltke, Takan: In: R. Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 1640-1641.

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