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Teologia da Evangelização (155) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (155)

4.3.5.5.2. Significado Soteriológico

A ressurreição de Cristo tem – como já se depreende – rico significado redentor. Isso é o que veremos agora.

1) A nossa regeneração: Pela regeneração Deus infunde em nós uma nova disposição que nos conduz, sob a influência do Espírito, em direção à vontade de Deus, em uma santa e prazerosa obediência.[1]

A ressurreição de Cristo é o fundamento de nossa regeneração (1Pe 1.3).[2]

Grudem é esclarecedor:

Quando Jesus ressurgiu dos mortos tinha uma nova qualidade de vida, uma “vida ressurreta” em um corpo e em um espírito humanos perfeitamente adequados à comunhão e à obediência eterna a Deus. Em sua ressurreição, Jesus obteve para nós uma nova vida semelhante à sua. (…) Assim é por meio de sua ressurreição que Cristo conquistou-nos o novo tipo de vida que recebemos quando “nascemos de novo”.[3] (Ef 2.5-6/Cl 3.1).

2) A nossa justificação: A morte de Cristo foi para expiar os nossos pecados. A ressurreição assegura de forma eterna e efetiva a nossa justificação (Rm 4.25; 8.33-34/1Co 15.17). A morte e a ressurreição se completam num ato salvador (Rm 5.9-10).

          A morte de Cristo só teria valor remidor se Ele ressuscitasse – como de fato ressuscitou – visto que a sua morte sem ressurreição indicaria apenas a sua condenação. Nesse caso, como poderia um condenado justificar alguém? A ressurreição de Cristo é sinal da nossa justificação. Nela temos a declaração de nossa absolvição (Rm 4.25).[4]

          Hendriksen é preciso:

A ressurreição de Cristo tinha como seu propósito trazer à luz o fato de que todos os que reconhecem Jesus como seu Senhor e Salvador têm entrado num estado de justiça aos olhos de Deus O Pai, ao ressuscitar a Jesus dentre os mortos, nos assegura que o sacrifício expiatório foi aceito; daí, nossos pecados são perdoados.[5]

          Recorro mais uma vez à Confissão de Westminster (1647)  que, discorrendo sobre a justificação, fala sobre o que chamo de etapas da mesma:

Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos; e Cristo, no cumprimento do tempo, morreu pelos pecados deles e ressuscitou para a justificação deles; contudo, eles não são justificados até que o Espírito Santo, no tempo próprio e de fato, comunica-Lhes Cristo.[6]

3) O Perdão de nossos pecados: Este ponto é decorrente do anterior, visto que a justificação consiste em Deus perdoar os nossos pecados considerando e aceitando-nos como justos pelos méritos de Cristo.[7] Sem a ressurreição, não haveria perdão; por isso, Paulo diz que: “Se Cristo não ressuscitou (…) ainda permaneceis nos vossos pecados”(1Co 15.17). A ressurreição assinala que há perdão para todos os que pela graça creem em Cristo.

4) O Sentido da nossa fé: A ressurreição de Cristo dá sentido à nossa fé. Se Cristo não tivesse ressuscitado, a nossa fé, por mais intensa que fosse, estaria fundamentada numa mentira; por isso, tudo o que temos estudado seria nulo. Neste caso, a fé teria apenas valor como fé; seria fé na fé, não no fato histórico da ressurreição. Todavia, conforme nos ensinam as Escrituras, o Senhor ressuscitou, sendo este fato o cerne da nossa fé (1Co 15.14,17,20/Rm 10.9,10).[8] A fé bíblica adquire significado a partir de seu alvo. A fé por si só não se auto-referenda.

          Como comentou Calvino:

Por sua morte, foi eliminado o pecado, por sua ressurreição, instaurada e restituída a justiça. E como nos teria libertado da morte se ele mesmo sucumbisse a ela? Como conquistaria para nós a vitória se falhasse no embate? Eis porque a matéria de nossa salvação foi por nós repartida entre a morte e a ressurreição de Cristo: por aquela o pecado foi abolido e a morte extinta, e por esta a justiça foi reparada e a vida erigida, mas de modo que, pelo benefício desta, aquela nos declare sua força e eficácia.[9]

  Maringá, 30 de janeiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] “A regeneração consiste na implantação do princípio da nova vida espiritual no homem, numa radical mudança da disposição dominante da alma, que, sob a influência do Espírito Santo, dá nascimento a uma vida que se move em direção a Deus” (L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 470).

[2]Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe 1.3).

[3] Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 513-514.

[4]“O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.25).

[5] William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 4.23-25), p. 214.

[6] Confissão de Westminster, 11.4.

[7] Cf. Confissão de Westminster, 11.1.

[8]14E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; 17 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. 20 Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem” (1Co 15.14,17,20). 9 Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. 10Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação” (Rm 10.9,10).

[9] João Calvino, A Instituição da Religião Cristã, São Paulo: UNESP, 2008, II.16.13.

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