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Teologia da Evangelização (152) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (152)

                             

4.3.5.2.2.8. Outras Evidências

a) A existência da Igreja:A Igreja Cristã só pode ser explicada e compreendida à luz da ressurreição de Cristo, porque se Cristo não ressuscitou é vã a nossa fé (1Co 15.14,17).

          Ladd (1911-1984), de modo enfático afirma:

Não foi a esperança da continuidade da vida no além-túmulo, uma confiança na supremacia de Deus sobre a morte ou a convicção da imortalidade do espírito humano que deu origem à igreja e à mensagem a ser proclamada. Foi a crença em um evento acontecido no tempo e no espaço: Jesus de Nazaré ressuscitou dentre os mortos. Fé na ressurreição de Jesus é um fato histórico inevitável. Sem essa evidência não haveria igreja”.[1]

b) A crença na divindade de Cristo: Um dos elementos que atestam a divindade de Cristo é o cumprimento das suas promessas. Se Cristo não tivesse ressuscitado, os discípulos jamais aceitariam a sua divindade, pois, assim, Cristo teria sido o motivo de suas decepções (Ver: Lc 24.13-21).

c) A existência do Novo Testamento: Se Cristo não tivesse ressuscitado, não haveria história a ser contada – pelo menos, não pelos seus discípulos –, visto que o Novo Testamento é a narrativa do cumprimento das promessas de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor (1Co 15.1-5).

          Estas são apenas algumas evidências que a Bíblia apresenta da ressurreição de Cristo. A ressurreição para nós é um fato que encontra o seu apoio no registro infalível da Palavra de Deus e, isto nos basta; por isso, a nossa confissão é como a de Paulo: “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos….”(1Co 15.20).

4.3.5.3. O poder do Trino Deus na ressurreição de Cristo

Paulo toma a ressurreição de Cristo como uma expressão cabal do poder de Deus.

19E qual a suprema (u(perba/llw) grandeza (me/geqoj) do seu poder (du/namij) para com os que cremos (pisteu/w), segundo a eficácia (e)ne/rgeia) da força (kra/toj) do seu poder (i)sxu/j); 20o qual exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua direita nos lugares celestiais, 21acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. (Ef 1.19-21).

          Aos colossenses o apóstolo argumenta semelhantemente: “Tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder (e)ne/rgeia) de Deus que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.12).

          O apóstolo se vale de seis termos que, associados, conferem um sentido por demais grandioso, ainda que limitado,  para descrever a supremacia gloriosa do poder de Deus. Assim, ele fala de:

          a) “Suprema” (u(perba/llw) (= “ir além”, “superar”)(19). De onde vem a nossa palavra hipérbole. Tanto o verbo como o substantivo (u(perbolh/) são empregados unicamente por Paulo no Novo Testamento. O verbo é traduzido por “sobre-excelente” (2Co 3.10); “superabundante” (2Co 9.14); “suprema” (Ef 1.19; 2.7); “que excede” (Ef 3.19). O substantivo, é traduzido por “sobremaneira” (Rm 7.13; Gl 1.13); “sobremodo excelente” (1Co 12.31); “excessivamente” (2Co 1.8); “excelência” (2Co 4.7); “acima de toda comparação” (2Co 4.17); “grandeza” (2Co 12.7).

          b) “Grandeza” (me/geqoj) (19). Só ocorre aqui. A palavra é empregada para descrever a grandeza física ou espiritual.[2]

          c) “Poder” (du/namij) (19). Possivelmente esta seja a palavra mais utilizada no Novo Testamento para descrever o poder de Deus.

          d) “Eficácia” (e)ne/rgeia) (19).[3] De onde vem a nossa palavra “energia”. A palavra aponta para uma ação eficaz em atividade com vistas à concretização de seu propósito.

          Este substantivo pode também ser traduzido por “força operante” (Ef 3.7); “cooperação” (Ef 4.16); “poder” (Cl 2.12); “operação” (2Ts 2.11).

               E)ne/rgeia e seus derivados, no NT, descrevem sempre um poder eficaz em atividade sobre-humana, por meio da qual a natureza de quem a exerce se revela.[4]

          e) “Força” (kra/toj) (19).[5] Este substantivo também pode ser traduzido por “Valorosamente” (Lc 1.51); “Poderosamente” (At 19.20); “Poder” (1Tm 6.16; Hb 2.14); “Domínio” (1Pe 4.11; 5.11; Ap 1.6; 5.13); “Império” (Jd 25). Aponta para o poder que alguém possui ou, que é decorrente da sua posição. Na LXX, na maioria das vezes a palavra está associada ao poder de Deus (Sl 62.11).

          f) “Poder” (i)sxu/j) (19).[6] Também é traduzido no Novo Testamento por “Força” (Mc 12.30.33; Lc 10.27; 1Pe 4.11; 2Pe 2.11; Ap 5.12; 7.12; 18.2).[7] Tem o sentido de “poder fazer algo”, “ter a capacidade de”, podendo ser aplicado à capacidade de exercer tal poder ou força.

          Em nenhum outro texto estas palavras ocorrem de forma associada como aqui. Paulo quer enfatizar de várias maneiras a supremacia de Deus sobre todas as coisas, envolvendo a ressurreição de Cristo, evidenciando também que Ele opera com todo seu poder, força, grandeza e eficácia em nossa vida, os que cremos.

          Na ressurreição temos a validação da integridade e eficácia do ministério terreno de Cristo[8] e a declaração do perdão para todos os que creem em Cristo como seu Salvador.[9]

  “A ressurreição é a inversão divina da sentença que o mundo impôs a Jesus”, assinala Bavinck.[10] Nela temos a manifestação pública de sua filiação divina e da aprovação de seu Ministério.[11]

          Na ressurreição a sua glória se tornou publicamente manifesta. “A ressurreição é o ponto que marca o começo de uma nova época na existência do Filho de Deus. Sendo antes Filho de Deus em debilidade e humilhação, pela ressurreição torna-se o Filho de Deus em poder”, rejubila-se Nygren (1890-1978).[12]

          O Pai glorificou o Filho na ressurreição: “Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tornar sumo sacerdote, mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Hb 5.5).

          A ressurreição de Cristo é o coroamento do seu Ministério terreno. Ela é repleta de significado para o Ministério de Cristo e, consequentemente para a vida da Igreja, que é o seu Corpo.

          Sem a ressurreição, a obra de Cristo seria nula, a Igreja não existiria, não haveria salvação, estaríamos todos perdidos para sempre! “Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos”(1Co 15.20), é o brado de Paulo. E a Igreja exultante canta: Amém!

  Maringá, 15 de janeiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] George Eldon Ladd. Teologia do Novo Testamento, Rio de Janeiro: JUERP, 1985, p. 303.

[2]Cf. W. Grundmann, Me/gaj: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds., Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1983 (Reprinted), v. 4, p. 544.

[3] Fp 3.21; Cl 1.19; 2Ts 2.9.

[4]Veja-se: William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1988, p. 51-57.

[5] Ef 1.19; 6.10; Cl 1.11.

[6] Ef 1.19; 6.10; 2Ts 1.9.

[7]Aqui temos uma variante textual.

[8]Veja-se: Alister E. McGrath, Paixão pela Verdade: a coerência intelectual do Evangelicalismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 25.

[9]“A ressurreição de Cristo tinha como seu propósito trazer à luz o fato de que todos os que reconhecem a Jesus como seu Senhor e Salvador têm entrado num estado de justiça aos olhos de Deus. O Pai, ao ressuscitar a Jesus dentre os mortos, nos assegura que o sacrifício expiatório foi aceito; daí, nossos pecados são perdoados” (William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 4.23-25), p. 214).

[10]Herman Bavinck, Teologia Sistemática,Santa Bárbara d’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 405.

[11] Veja-se: João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 2.7), p. 68-69. “Gerar [Sl 2.7], aqui, tem referência àquilo que foi feito conhecido. (…) Cristo foi declarado Filho de Deus pelo exercício público de um poder verdadeiramente celestial, ou, seja, o poder do Espírito, quando Ele ressuscitou dos mortos” (João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Parakletos, 2001, (Rm 1.4), p. 39,40).

[12]Anders Nygren, Commentary on Romans, 5. ed. Philadelphia: Fortress Press, 1980, p. 51. “Por meio de sua gloriosa ressurreição, sua investidura com poder não só foi realçada, mas também começou a resplandecer em toda sua glória” (William Hendriksen, Romanos, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, (Rm 1.4), p. 58-59).

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