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Teologia da Evangelização (148) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (148)

                             

 4.3.5. Jesus e a Ressurreição

Paulo mostra quão estúpido é desprezar em Cristo a humilhação da cruz, visto que esta se acha associada à incomparável glória de sua ressurreição – João Calvino.[1]

4.3.5.1. Introdução

Paulo está realizando a sua Segunda Viagem Missionária. Partindo de Antioquia da Síria[2](At 15.35), inicia a sua missão acompanhado por Silas, a quem escolhera (At 15.40). O seu primeiro propósito era confirmar a fé dos irmãos das regiões por onde passara com Barnabé (At 15.36). Após percorrer toda a região Paulo desejava ir para a Bitínia, porém, o Espírito de Deus não o permitiu (At 16.7).Depois ele teve a visão “na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa a Macedônia, e ajuda-nos” (At 16.9). Ele concluiu corretamente que Deus o havia chamado (proskale/omai)[3] para aquela região (At 16.10): assim o Evangelho chegou à Europa, sendo o portão de entrada a cidade de Filipos.

4.3.5.1.1. Paulo em Filipos

Paulo chegou a Filipos, por volta do ano 49, em companhia de Silas, Timóteo e Lucas (At 16.1-3,10-12; 1Ts 1.1/2.2). Assim pôde pregar naquela colônia romana, evangelizando a Lídia, a vendedora de púrpura, e a todos os seus familiares (At 16.14,15).Poucos judeus residiam na cidade. O “lugar de oração” (At 16.13) indica a presença de alguns judeus, porém, em número inferior a dez homens, quantidade mínima considerada para se formar uma sinagoga. De acordo com a lei da Mishná, era permitido que dez homens judeus formassem, em qualquer lugar, uma sinagoga.[4] Havia cidades, inclusive, que possuíam várias. Estima-se que em Jerusalém houvesse cerca de 500 delas.[5]

          Paulo expulsou o demônio de uma jovem adivinhadora, dando prejuízo aos seus senhores. Foi acusado, açoitado e preso (At 16.16-24). Na prisão testemunhou sua fé aos outros companheiros de cela; teve também a oportunidade de pregar ao carcereiro que foi convertido juntamente com os seus familiares (At 16.25-34).

          Quando as autoridades descobriram que Paulo era cidadão romano, reconheceram que transgrediram a lei visto que o haviam prendido e açoitado sem que houvesse um processo formal contra ele (At 16.35-38).

          Libertos, Paulo e Silas vão embora. Lucas, deve ter permanecido em Filipos (Compare: At 16.10,12,13/At 16.40; 17.1). Quando Paulo e Silas partem, ao que parece, a Igreja ficou se reunindo na casa de Lídia (At 16.40). Vemos que ao longo dos anos os crentes filipenses permaneceram em contato com Paulo, auxiliando-o em seu ministério, provendo recursos para as suas necessidades (2Co 11.9; Fp 1.5; 4.15-19). Paulo visitou a Igreja em pelo menos duas outras ocasiões antes de sua prisão em Jerusalém e a redação da carta destinada à Igreja (2Co 2.12,13; 7.5-7; At 20.1,3,6).

4.3.5.1.2. Paulo em Tessalônica e Bereia

Paulo agora está em Tessalônica, cidade na qual havia um grupo maior de Judeus. Pregou durante 3 semanas na Sinagoga. Possivelmente permaneceu ali mais tempo. Alguns judeus foram convertidos, assim como muitos gregos e mulheres distintas (nobres) (At 17.2-4).

    Outros judeus, no entanto, movidos de inveja, subornaram homens da malandragem (a)gorai=oj = “vagabundo”, “desordeiro”, “homens de mercado”) (At 17.5) e juntos alvoroçaram a cidade, movendo uma perseguição contra Paulo e Silas, invadindo inclusive a casa de um certo Jasom que os havia hospedado.

    A palavra, ou mais propriamente, o grito destes homens que conclamava o povo à perseguição era: “Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui”(At 17.6).

    A acusação que causou uma agitação no povo e nas autoridades era: “Todos estes procedem contra o decreto de César, afirmando ser Jesus outro rei”(At 17.7).

    Jasom e outros irmãos foram presos e posteriormente libertos após pagarem a fiança estipulada (At 17.9); fiança, que pode ter sido apenas um compromisso de não mais hospedar tais homens e promover a sua partida da cidade.

    À noite irmãos cuidadosos promoveram a saída de Paulo e Silas de Tessalônica, indo então para Beréia (80 km), onde continuaram o seu trabalho (At 17.10).

    Notemos que a afirmação de que “Estes que têm transtornado (a)nastato/w = “sublevar”, “incitar”, “revolucionar”)[6] o mundo chegaram também aqui” (At 17.6), ou mais literalmente: “estes que têm causado problemas em todo lugar”, indica por um lado, que a fama de seu trabalho era evidente, causando grande transformação; por outro lado, revela também, que a sua mensagem era olhada com desconfiança, especialmente por parte dos judeus.

          Aqui aprendemos, de passagem, quão revolucionário é o Evangelho; ele afeta a nossa mente e coração, transformando a nossa maneira de ver, sentir e agir no mundo, apresentando-nos um novo senso de valores, o qual é regido pela Palavra de Deus.[7] “Quando o cristianismo entra em ação realmente deve causar uma revolução tanto na vida do indivíduo como na da sociedade”, comenta Barclay.[8]

4.3.5.1.3. Paulo em Atenas

Paulo está sozinho em Atenas. Em Beréia, por onde passara, o Evangelho pregado mais uma vez operou transformação na vida dos que creram (At 17.11-12). As notícias correram rapidamente. Os judeus de Tessalônica irados com o poder transformador do Evangelho promovem perseguição a Paulo também em Beréia (At 17.13). A igreja o ajuda fugir; ele é conduzido a Atenas, onde permanece aguardando a vinda de Silas e Timóteo (At 17.14-15).

          Ainda que Lucas não detalhe, é provável que Silas e Timóteo tenham vindo a Atenas e, em seguida, Paulo os enviou a Tessalônica para exortar, consolar e fortalecer os crentes tessalonicenses. Posteriormente eles se encontraram em Corinto. O relatório apresentado trouxe grande conforto a Paulo. A igreja, apesar de jovem e perseguida, permanecia firme no Senhor (At 18.1-5/1Ts 3.1-10).

          Voltemos a Atenas. Ali Paulo, enquanto aguardava seus companheiros, ao invés de simplesmente descansar ou procurar conhecer aquela cidade magnífica de que tanto ouvira falar desde a sua infância, ficou indignado, entristecido com a intensa idolatria praticada.[9] A cidade estava sufocada, totalmente dominada por sua fé ingênua, social e politicamente correta em diversos deuses (At 17.16).[10] No entanto, a sua fé não tira férias nem se amedronta, antes, se revela em atos concretos: começou então a pregar o Evangelho; primeiramente entre os judeus; em seguida a todos na praça e, também, debatia com os filósofos epicureus e estoicos (At 17.17-18). Aqui chegamos a nosso ponto; à mensagem de Paulo. Lucas relata que ele Pregava (eu)aggeli/zomai) a Jesus e a ressurreição” (At 17.18).

Analisemos agora alguns aspectos da Ressurreição de Cristo como conteúdo da pregação da igreja cristã.

  Maringá, 15 de janeiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]João Calvino, Exposição de 2 Coríntios,São Paulo: Paracletos, 1995, (2Co 13.4), p. 262.

[2]Antioquia da Síria, que distava uns 480 kms de Jerusalém, era a mais famosa das Antioquias, tendo sido fundada aproximadamente no ano 300 a.C. por Seleuco I, Nicator (“Conquistador”) (c. 358-280 a.C.), que homenageando seu pai Antíoco, designou assim 16 cidades com o mesmo nome. Esta era uma grande cidade (com cerca de 500 mil habitantes), sendo ultrapassada numericamente apenas por Roma e Alexandria. Paulo começaria e terminaria a Segunda Viagem Missionária em Antioquia (At 15.35-36; 18.22-23).

[3] A palavra tem o sentido de “convocar”. Entre outros textos, ela ocorre também em At 13.2,7.

[4]Veja-se: Philip Schaff,History of the Christian Church,Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 1, p. 456.

[5]Broadus B. Hale, Introdução ao Estudo do Novo Testamento,Rio de Janeiro: JUERP., 1983, p. 17. Variando as estimativas entre 394 e 480 (Cf. Philip Schaff, History of the Christian Church,Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 1, p. 457).

[6] * At 17.6; 21.38; Gl 5.12.

[7] “A experiência cristã que acontece apenas no coração, e que não renovou nossa mente, é inadequada e, de acordo com Jesus, profundamente falha. Falta-lhe o arrependimento e seu amor é incompleto” (Oliver Barclay, Mente Cristã, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 16).

[8] W. Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, (Hechos de los Apostoles), Buenos Aires: La Aurora, 1974, v. 7, p. 138.

[9] “Não é preciso supor que Paulo fosse cego à beleza deles (estátuas pagãs primorosamente confeccionadas). Mas ele não se impressionava com uma beleza que não honrasse Deus o Pai e o Senhor Jesus Cristo. Pelo contrário, ele ficou oprimido pelo emprego idólatra da criatividade artística dada por Deus aos atenienses. Foi isso que Paulo viu: uma cidade submersa nos seus ídolos” (John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da Terra, São Paulo: ABU Editora, 1994, (At 17.16-34), p. 313).

[10] A palavra traduzida por “revoltava” (parocu/nw), tem o sentido também de ira, irritação (*At 17.16; 1Co 13.5).

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