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Teologia da Evangelização (142) - Hermisten Maia

Teologia da Evangelização (142)

4.3.4. A morte expiatória de Cristo (Continuação)

    A Trindade está totalmente comprometida com a salvação do pecador Paulo escreve aos gálatas: “Graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai, a quem seja a glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (Gl 1.3-5).

          Partindo deste texto, alguns pontos devem ser destacados concernentes à obra expiatória de Cristo.

4.3.4.1. Foi necessária: “Todos Pecaram”

Neste texto Paulo realça que a obra sacrificial de Cristo tornou-se necessária devido ao fato histórico e universal do pecado: “…. todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23).

          O homem além de não querer, nada pode fazer para deixar de pecar. Após a queda, a natureza humana se corrompeu total e intensamente, e estendeu essa contaminação a todas as áreas da sua vida.

          A transgressão trouxe um quadro de irreversibilidade pecaminosa que se perpetuou em todos os seres humanos. Ou seja: o homem continuou nesta prática (Gn 6.5; 8.21; Is 64.6; Rm 3.9-12). A Escritura nos fala que o pecado, comum a todos nós (Rm 3.23), nos fez cativos (Jo 8.34; Rm 6.20; 7.23[1]), habitando em nós (Rm 7.17,20),[2] mantendo-nos sob o seu domínio.

          O pecado gerou a separação entre o homem pecador e o Deus Santo, Justo, Puro e Sublime (Is 59.2).[3] O homem encontra-se num estado de rebelião contra Deus (Is 65.2).[4]

          O pecado como algo universal, trouxe como justo pagamento, a morte de todos: o salário do pecado é a morte (Rm 5.12; 6.23). A Bíblia nos fala de três tipos de morte decorrentes do pecado:

a) A morte física:  Separação da alma e corpo, pela qual todos os homens – com exceção dos que estiverem vivos quando Cristo retornar em Glória – terão de passar (Ec 12.7; 1Co 15.51-52; Hb 9.27[5]).[6] Adão e Eva ao desobedecerem a Deus, tiveram a sua sentença de morte decretada. Eles morreram espiritualmente de imediato, e ficaram separados de Deus. Todavia, a morte física, que veio também como consequência do pecado (Gn 2.16,17; 3.11-24; Rm 5.12), não foi imediatamente executada porque Deus usou de sua graça comum, protelou, adiou a plena execução da sua sentença (Gn 3.15,19),[7] e concedeu oportunidade para o arrependimento do homem (Textos que ilustram este princípio: Is 48.9; Jr 7.23-25; Lc 13.6-9; Rm 2.4; 9.22; 2Pe 3.9);[8] entretanto, o seu juízo entrou em processo de concretização, tornando a vida uma caminhada para a morte.[9]

          O pecado passou a ser o selo de todas as suas obras: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau ([r;) (ra`) todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5).[10] Desde então, o pecado sujeitou o homem ao juízo histórico e eterno (Mt 5.21-22; 12.36; Rm 5.16; 1Tm 5.24); por isso, parte deste juízo já é manifesto nesta vida (Jo 3.16-18), mas não totalmente; daí a perplexidade de alguns servos de Deus em determinados momentos da história, quando o mal parece oprimir e esmagar o bem (Sl 73.1-14; Hc 1.1-17; Ml 3.14-15).[11]

          As consequências não foram simples e visivelmente imediatas. Elas ainda iriam aparecer. A natureza humana foi corrompida. O juízo de Deus entrou em processo de concretização, e tornou a vida uma caminhada para a morte.[12] O processo de morte entrou em cena na vida humana. A morte soa como algo anormal,[13] contrária ao nosso desejo de viver. O nosso desejo vislumbra a perpetuidade da vida. Os nossos esforços se concentram neste ideal, enquanto o nosso organismo caminha de forma cada vez mais célere para o fim. Esta é a terrível geografia da humanidade. “O que distingue os humanos de todas as outras criaturas é a autoconsciência. Sabemos que estamos vivos e que morreremos, e não conseguimos deixar de questionar por que a vida é assim e qual é o seu significado”, assinalam Colson e Fickett.[14]

b) A morte espiritual: interrupção da comunhão com Deus. O pecado gerou a quebra de nossa comunhão com Deus. Isto significa a nossa morte espiritual. A vida está em Deus. Sem comunhão com ele estamos mortos (Is 59.2; Ef 2.1,5; Cl 2.13),[15] expressando em nossa vida, paradoxalmente, as propriedades próprias de um cadáver.[16] “Uma vez que, de acordo com as Escrituras, o significado mais profundo da vida é a comunhão com Deus, o significado mais profundo da morte tem de ser a separação de Deus”, conclui Hoekema (1913-1988).[17]

  c) A morte eterna: A interrupção eterna e definitiva da comunhão com Deus. Os homens que morrem fisicamente, estando mortos espiritualmente, estão mortos eternamente para Deus, e não têm mais oportunidade de arrependimento (Hb 9.27).

          Em síntese, o pecado lançou o homem em uma disposição de miséria espiritual contra o qual ele nada pode fazer (Mt 19.25,26; Gl 2.16; Ef 2.9).[18] Isto torna todos os homens dependentes única e exclusivamente da salvação de Deus manifestada em Cristo.

          Com isso não estamos dizendo que o pecado é a força motivadora da obra de Cristo, não; o pecado de fato é a causa de nossa condenação. De passagem podemos mencionar aqui a importância da aceitação da historicidade das narrativas bíblicas.

          O Cristianismo não se baseia em lendas, superstições ou hipóteses, mas em fatos. Ao contrário de Platão (427-347 a.C.), que usou a palavra “teologia” pela primeira vez referindo-se aos mitos e lendas dos poetas,[19] Paulo parte do princípio de que nós pecamos, por isso a solução de Deus para o pecado é o sacrifício de Cristo, seu único Filho.  Tudo isso ocorreu na história; não há o que simbolizar, alegorizar ou desmitologizar.

           O cristianismo trabalha com fatos: O pecado do homem, a encarnação do Filho, sua morte e ressurreição.  Sem a historicidade da Queda, não seria necessária a historicidade da encarnação, morte e ressurreição de Cristo.

          O pecado torna necessária a condenação; o beneplácito de Deus providencia a nossa salvação. Assim, temos o sacrifício de Cristo como sendo necessário devido ao nosso pecado e, ao mesmo tempo, sendo executado por causa do amor misericordioso do Trino Deus. “….Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que tudo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).[20]

Maringá, 11 de janeiro de 2023.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]“….Em verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). “Porque, quando éreis escravos do pecado, estáveis isentos em relação à justiça” (Rm 6.20). “Mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.23).

[2]“Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. (…) Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim” (Rm 7.17,20).

[3] “…. as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2).

[4]“Estendi as mãos todo dia a um povo rebelde, que anda por caminho que não é bom, seguindo os seus próprios pensamentos” (Is 65.2).

[5] “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12.7). Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1Co 15.51-52). E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb 9.27).

[6]Quanto à morte física como consequência do pecado, vejam-se: Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 262, 675-676; Loraine Boettner, La Inmortalidad, Grand Rapids, Michigan: TELL. (s.d), p. 15ss; J. Gresham Machen, El Hombre,Lima: El Estandarte de la Verdad, 1969, p. 158; Anthony A. Hoekema, A Bíblia e o Futuro,São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1989, p. 105-114. (Todos esses autores entendem que a morte física foi uma consequência do pecado. Eu os acompanho neste ponto). Quanto a uma posição contrária, Vejam-se: Karl Barth, Church Dogmatics, Edinburgh: T & T. Clark, 1960, III2. p. 596ss e Reinhold Niebuhr, The Nature and Destiny of Man,New York: Scribner, 1941, v. 1, p. 175-177. No passado, o bispo Celéstio, discípulo de Pelágio, foi mais longe do que seu mestre, defendendo que Adão foi criado mortal e, portanto, teria morrido, quer tivesse pecado, quer não (Vejam-se: J.N. D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: origem e desenvolvimento,São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 273; Williston Walker, História da Igreja Cristã,São Paulo: ASTE, 1967, v. 1, p. 243; K.S. Latourette, Historia del Cristianismo.4. ed. Buenos Aires: Casa Bautista de Publicaciones, 1978, v. 1, p. 96). Há também, aqueles que não se definem, como por exemplo: L.L. Morris, Morte: In: J.D. Douglas, ed. org. O Novo Dicionário da Bíblia, v. 2, p. 1073 e Ray Summers, A Vida no Além,2. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1979, p. 25.

[7]Veja-se: Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 3, p. 187-190.

[8]Cf. L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 443. Ver também: Anthony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 107-108.

[9] Cf. Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 38-40. Vejam-se também: Anthony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, p. 107-108.

[10] “E o Senhor aspirou o suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau ([r;)(ra`) o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade; nem tornarei a ferir todo vivente, como fiz” (Gn 8.21).

[11]Vejam-se: João Calvino, As Institutas, II.10.17ss. D. M. Lloyd-Jones, Por Que Prosperam os Ímpios?, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1983, 145p.

[12]Cf. Geerhardus Vos, Biblical Theology: Old and New Testaments, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1985 (Reprinted), p. 38-40; Steven J. Lawson, Fundamentos da Graça, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2012, v. 1, p. 81-82.

[13] “A Bíblia confirma nosso sentimento instintivo de que, no seu sentido mais profundo, toda morte é anormal” (J. I. Packer, Vocábulos de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 1994, p. 185).

[14]Charles Colson; Harold Fickett, Uma boa vida, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 20.

[15] “…. as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.2). Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados (…) E estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Ef 2.1,5). E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos” (Cl 2.13). Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9).

[16]Cf. Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 354.

[17] Anthony Hoekema, A Bíblia e o Futuro, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 108.

[18]Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? 26 Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mt 19.25-26). “Sabendo, contudo que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16).

[19]Veja-se: Platão, A República, 7. ed.  Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 378b-e; 379a. p. 91.

[20]“….convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles” (Hb 2.10). “….tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5.9).

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