Teologia da Evangelização (11)
2.3. Definição de Evangelização
A ciência da definição visa nos fazer enxergar com clareza o nosso objeto. Em outras palavras, a definição é-nos útil para que não percamos o nosso foco.
O Evangelho é uma boa notícia a respeito de algo que aconteceu e que tem implicações em nossa vida.[1] Assim, podemos definir operacionalmente a evangelização, como sendo a proclamação essencial[2] da Igreja de Cristo, que consiste no anúncio de suas perfeições e de sua obra salvífica, conforme ensinadas nas Sagradas Escrituras, reivindicando pelo Espírito, que os homens se arrependam de seus pecados e creiam salvadoramente em Cristo, congregando-os a fim de que juntos tributem glória a Deus.
Evangelizar significa confrontar os homens com as reivindicações de Cristo, decorrentes do caráter de Deus. O anúncio do Evangelho que consiste nos feitos de Deus em Cristo, incluindo sua morte e ressurreição, não é apenas uma informação para que tomemos ciência, antes, traz consigo reivindicações necessárias.
Se evangelizar significa ensinar pessoas a irem a Cristo e a se sentirem melhor, podemos recorrer a qualquer método que seja eficaz. Para tanto, podemos nos valer de pesquisas feitas nas megaigrejas, recorrer a entrevistas realizadas com revitalizadores de igrejas, etc. Vamos assim descobrir pistas do sucesso. Contudo, se a evangelização consiste em anunciar a salvação proveniente de Cristo, sendo Ele mesmo o autor desta salvação, o caminho já está pavimentado conforme demonstrado no Novo Testamento. Temos de aprender isto nas Escrituras.[3]
Deste modo, a Evangelização deve ser definida dentro de uma perspectiva da sua procedência, mensagem e propósito, não do seu resultado. Nem toda proclamação que “surte efeito” é evangelização e, nem toda a pregação que “não alcança os resultados esperados”, deixou de ser evangelização. A evangelização deve ser vista sempre a partir de seu conteúdo: o Evangelho do Reino.[4]
Aquela visão pragmática, univocamente focada em resultados planejados, não pode ser aplicada à evangelização sem que percamos de vista o seu significado fundamental.
Há sempre o perigo de forjarmos resultados partindo de métodos estranhos à Palavra. Por exemplo: em busca de uma maior vivacidade espiritual de nossos ouvintes, podemos criar um ambiente artificial de alegria e comunhão, tendo o pressuposto ilusório de que todas as pessoas demonstram o seu contentamento, edificação e crescimento do mesmo modo. Possivelmente sem perceber, elegemo-nos, sem nenhuma modéstia, o padrão comportamental litúrgico de todas as pessoas, tornamo-nos, por nossa conta e risco, o padrão de espiritualidade e alegria cristã.
Dentro desta insanidade tão comum em nossos tempos, começamos a pregar de forma “diferente” para atrair, contagiar e, até mesmo, converter pecadores endurecidos. Quando assim fazemos, estamos, sem nos darmos conta, passando a confiar em nossos métodos, e não mais no Evangelho como o poder de Deus para a transformação (Rm 1.16). Insisto: a proclamação cristã deve ser avaliada primeiramente pelo seu conteúdo, não simplesmente pelo seu aparente resultado. O que Deus exige de nós é fidelidade; os resultados estão nas mãos de Deus porque, de fato, pertencem a Deus.[5]
Maringá, 16 de julho de 2022.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Veja-se: Timothy Keller, Igreja centrada, São Paulo: Vida Nova, 2014, p. 35ss.
[2]Coloquei a evangelização como uma “proclamação essencial”, por entender que a Igreja por si só já é um testemunho do “Evangelho de Deus” e, como tal, faz parte da sua essência anunciá-lo como realidade historificada. João Calvino, não isoladamente, observou com precisão, que uma das marcas da Igreja de Cristo, é a “pregação pura da Palavra de Deus” (Veja-se: As Institutas,Dedicatória, 10; IV.1.9-12; IV.2.1).
[3] Veja-se: Michael Horton, Cristianismo sem Cristo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 158ss.
[4]Vejam-se: J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus,2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 22ss.; 29ss.; John R.W. Stott, A Base Bíblica da Evangelização: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo; Belo Horizonte, MG.: ABU; Visão Mundial, 1982, p. 39-40; John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, Viçosa, MG.: Ultimato, 2010, p. 47-49.
[5]John R.W. Stott, A Missão Cristã no Mundo Moderno, p. 69.