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Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (33) - Hermisten Maia

Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (33)

4) Rei Eterno

O nosso Pastor é Rei. O seu reinado não tem mandato ou prazo de validade nem limites geográficos. O nosso pastor é o Senhor que reina eternamente. O seu reinado não se desgasta nem se deteriora. Continua perfeito como Deus o é. A eternidade do reino reflete a glória e o poder eternos do Rei.

            Nessa certeza, os salmistas exultam:

O SENHOR permanece no seu trono eternamente, trono que erigiu para julgar. (Sl 9.7).

O SENHOR é rei eterno. (Sl 10.16).

Reina o SENHOR. (…) Desde a antiguidade, está firme o teu trono; tu és desde a eternidade. (Sl 93.1-2).

Tu, porém, SENHOR, permaneces para sempre, e a memória do teu nome, de geração em geração. (Sl 102.12).

O SENHOR reina para sempre; o teu Deus, ó Sião, reina de geração em geração. Aleluia! (Sl 146.10).

            Os homens, por mais poderosos que sejam, na realidade, estão poderosos em decorrência de alguma posição que ocupam, das riquezas e/ou prestígio que possuem, do sucesso de suas realizações ou até mesmo devido à proximidade com pessoas influentes que, por sua vez, se encaixam em alguma das colocações acima.[1] Entretanto, quando a Bíblia fala do poder soberano de Deus, ela se refere não a um estado determinado por fatores externos, tais como dinheiro, fama, prestígio, etc., mas sim, à sua própria natureza. Deus, como temos dito, é autopoderoso, autoautenticador de tudo que é e faz. Deus não simplesmente está poderoso: Ele é o próprio Poder. Todo o poder emana dele. Por isso, Ele se manifesta poderosamente: “Uma vez falou Deus (~yhil{a/) (elohim), duas vezes ouvi isto: Que o poder pertence a Deus (~yhil{a/)(elohim) (Sl 62.11).

            Deus é tão eterno quanto o eu poder. Não podemos falar da história de Deus como de um processo evolutivo, aprendendo, crescendo, tornando-se, por exemplo, o que é, antes, falamos da história das manifestações do Senhor na história do homem em seus avanços e retrocessos.

            O seu reinado, assim como sua existência, não tem início nem fim. Ele sempre foi e será o que é, independentemente de qualquer elemento externo a Ele. Deus existe eternamente por si próprio.[2] “Somente em Deus a existência e a essência são uma coisa só”.[3] O Senhor não se torna algo; Ele é o que é eternamente e pelo seu próprio poder.

Conforme vimos, a existência de Deus é autoexistente por sua própria determinação. A vontade de Deus é o fundamento último de todas as coisas. Isto nos basta.[4]

Somente Ele é absoluto e de fato, é o fim de todas as coisas.[5] Por isso que a Bíblia não tenta explicar a existência de Deus; ela parte apenas do fato consumado de que Deus existe, manifestando o seu poder em seus atos criativos (Gn 1.1).

            Deus tem o seu poder em si mesmo e todo poder sobre o seu poder. Nada lhe escapa, é grande demais ou incompreensível a Ele. O Senhor governa sobre todas as coisas com a sua mão poderosa; ninguém o poderá destruir.

            No Salmo 2, essencialmente messiânico, lemos:6Eu, porém, constituí (%s;n”) (nasak) (= estabeleci)[6] o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. 7Proclamarei o decreto do SENHOR: Ele me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” (Sl 2.6-7).

            O Reinado do Filho é de caráter eterno conforme o decreto estabelecido por Deus. A glória do Filho é eterna (Jo 17.5).[7] Jesus Cristo, o Messias, é Deus. Foi o Pai mesmo quem o constituiu. Esta constatação deve nos conduzir a uma fé reverente, não a uma curiosidade presunçosa.[8]

            O Reinado de Cristo é instituído e preservado pelo próprio Deus Pai.

            João Calvino escreve sobre esse ponto:

A doutrina da eterna duração do reino de Cristo é, portanto, aqui estabelecida, visto que ele não fora posto no trono pelo favor ou pelos sufrágios humanos, mas por Deus que, do céu, pôs a coroa real em sua cabeça, com suas próprias mãos.[9]

   Em Hebreus deparamo-nos com a citação do Salmo 2.7 para indicar a glória e majestade do Messias:

3 Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas, 4 tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que eles. 5 Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?” (Hb 1.3-5).[10]

No Apocalipse temos ecos do Salmo 2, na declaração da eternidade do Reino do Messias (Ap 1.5; 2.27; 12.5; 19.4-5 etc.).[11]

            Deus permanece no controle de todas as coisas, mesmo em meio à oposição dos presumidamente poderosos, que não conseguem entender que todo o seu poder não lhe é ontologicamente inerente, mas, provêm de Deus.

Em Atos os discípulos orando, afirmam que a morte de Cristo e a consequente ressurreição estavam sob o controle do Pai: “Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram” (At 4.28).

Maringá, 28 de setembro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]T. Hobbes, O Leviatã, São Paulo: Abril Cultural, (Os Pensadores, v. 14), 1974, I.x., p. 57ss, fala sobre algumas formas de poder humano.

[2] Veja-se uma boa discussão sobre isso em R.C. Sproul, Razão para crer, São Paulo: Mundo Cristão, 1986, p. 80-83.

[3]Herman Bavinck, Dogmática Reformada: Deus e a Criação, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 246.

[4] Veja-se: João Calvino, As Institutas, III.23.2.

[5]“Nada, exceto Deus mesmo, é um fim em si mesmo” (John Piper, Pense – A Vida da Mente e o Amor de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 41).

[6] *Sl 2.6; Pv. 8.23.

[7]“E, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.5).

[8] Veja-se: C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: Libros CLIE, 1989, v. 1, (Sl 2.7), p. 21-22.

[9] João Calvino, O Livro dos Salmos,São Paulo: Paracletos, 1999, v. 1, (Sl 21.2), p. 457-458.

[10] Cf. Peter C. Craigie; Marvin E. Tate, Psalms 1-50,2. ed. Waco: Thomas Nelson, Inc. (Word Biblical Commentary, v. 19), 2004, (Sl 2), p. 69; James M. Boice, Psalms: an expositional commentary, Grand Rapids, MI.: Baker Book House, 1994, v. 1, (Sl 2), p. 25-26; Willem A. VanGemeren, Psalms: In: Frank E. Gaebelein, gen. ed. The Expositor’s Bible Commentary, Grand Rapids, MI.: Zondervan, 1991, v. 5, p. 65-66; D.A. Carson, Jesus, o Filho de Deus: O título cristológico muitas vezes negligenciado, às vezes mal compreendido e atualmente questionado, São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 46ss (Especialmente).

[11]“E da parte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1.5),

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