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Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (17) - Hermisten Maia

Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (17)

E. Supremamente grande

Mesmo Deus sendo incomparável, como vimos, com objetivos didáticos, encontramos costumeiramente nos Salmos termos comparativos para Deus a fim de realçar aspectos do seu caráter que são superlativamente incomparáveis.

Essa aparente contradição é compreensível se nos lembrarmos que a nossa forma de definição – ainda que Deus não possa ser definido com nossas categorias -, envolve comparações e, a nossa percepção avaliativa depende de referências a fim de que possamos entender relativamente a questão de tamanho, quantidade, qualidade, distância etc.

Considerando, obviamente os nossos limites, essa – conforme já tratamos – é uma forma usada pelo próprio Deus para falar de si de modo que possamos entender.

          Um dos termos, com as suas variações, empregados pelas Escrituras para realçar a soberania de Deus e a maravilha de suas obras, é a palavra grande.

          Especialmente à luz dos Salmos, analisemos alguns aspectos da grandeza de Deus e como isso traz implicações para a nossa vida:

        Porque o SENHOR é o Deus supremo (lAdG”) (gadol)[1] e o grande (lAdG”) (gadol) Rei acima de todos os deuses. (Sl 95.3/96.4).

O teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande (lAdG”) (gadol) como o nosso Deus? (Sl 77.13).

O SENHOR é grande (lAdG”) (gadol) em Sião e sobremodo elevado (~Wr) (rum) acima de todos os povos. (Sl 99.2).

Grande (lAdG”) (gadol) é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento (hn”WbT.)(tebunah) (= inteligência, aptidão, habilidade) não se pode medir. (Sl 147.5).

Esse é o Deus conhecido pelo seu povo: “Conhecido ([d;y”) (yada’)[2]é Deus em Judá; grande (lAdG”) (gadol), o seu nome em Israel” (Sl 76.1).[3]

Grandeza que nos conduz ao culto

          Vemos aqui a importância de conhecer a Deus. Que experiência mais maravilhosa poderá existir nessa existência e na eternidade? Dia após dia podemos conhecer mais a Deus de forma intelectual e experimental, aprendendo a constatar nas coisas aparentemente insignificantes de nossa existência, como naquelas que por serem tão assustadoras, nos parecerem impossíveis, o poder, santidade, justiça e o amor de Deus cuidado de nós. Grande é o Senhor!

          A suprema grandeza do Senhor o dignifica como devendo ser louvado por nós e, demonstra também, que o nosso culto deve ser caracterizado pela consciência de que adoramos ao Senhor que é grande.

          A sua natureza e os seus poderosos e misericordiosos feitos devem nos conduzir ao culto. É por isso que a nossa adoração deve ser precedida pela reflexão sobre Deus e a sua grandeza. A nossa adoração reflete como vemos a Deus e o quanto consideramos os seus feitos.

No culto público, como nos portamos? O que ocupa a nossa mente? O que governa o nosso coração? Como poderemos nos apresentar diante do grande rei de forma indiferente, dispersiva e fragmentada? Confesso ter que pedir a Deus perdão por isso também. Nem sempre me apresento de forma integra diante do meu Senhor. Grande é o Senhor em sua misericórdia!

          Essa compreensão é comum aos salmistas:

Grande (lAdG”) (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus. (Sl 48.1).

Porque grande (lAdG”) (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado, temível (arey”) (yare) mais que todos os deuses. (Sl 96.4).

Grande (lAdG”) (gadol) é o SENHOR e mui digno de ser louvado; a sua grandeza (hL’WdG>) (gedullah) é insondável (rq,xe !yIa;) (ayin cheqer). (Sl 145.3).

 O Senhor, somente, deve ser magnificado

          O nosso culto, pelo seu motivo e conteúdo deve ter uma conotação missionária visto que o grande Deus é o seu motivo e propósito. A adoração deve ser um testemunho para todos do quão grande é o nosso Senhor.

          Os salmistas louvam a Deus reconhecendo a sua grandeza:

Engrandecei (ld;G”) (gadal) o SENHOR comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome. (Sl 34.3/Sl 40.6; 69.30; 70.4).

Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR, Deus meu, como tu és magnificente (ld;G daom.) (gadal meod): sobrevestido de glória e majestade. (Sl 104.1).

Louvai-o pelos seus poderosos feitos; louvai-o consoante a sua muita grandeza (ld;G” bro) (gadal rob). (Sl 150.2).

O salmista compromete-se a anunciar os grandiosos feitos do Senhor: “Falar-se-á do poder dos teus feitos tremendos (arey”) (yare), e contarei a tua grandeza (hL’WdG>) (gedullah) (Sl 145.6).

          Em momentos de dúvidas, incertezas e abatimento, é oportuno considerar a nossa história de vida; trazer à memória os feitos de Deus e cultivar uma “grata memória”. Por vezes o presente parece ser um ditador de nossa vida, impondo-nos a impressão megalomaníaca, de ser a única realidade, nada o tendo precedido. A nossa fé, quando é dominada pelo onipresente “agora” e assombrada pelo temido futuro, tende a passar por uma amnésia, fazendo-nos esquecer, como diz o poeta, que “no passado Deus guiou-te assim”.[4] No entanto, a Palavra nos tira dessa ditadura pagã do unicamente aqui e agora, e nos mostra que podemos e devemos confiar e descansar no Senhor que é grande em sua fidelidade.

          O considerar os feitos de Deus é, com muita frequência, um estímulo a confiar e a continuar confiando. Deus nos chamou, nos guiou e preservou. Ele é o Deus grande que opera maravilhas em nossa vida e na de nossos irmãos. Devemos descansar em suas promessas.

          Samuel quando deixa de ser juiz de Israel, porque o povo desejava ter um rei, se despede. Recapitula brevemente a história da Israel e, no final, lhe diz: “Tão-somente, pois, temei ao SENHOR e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas (lAdG”) (gadol) coisas vos fez” (1Sm 12.24).

          Esse sentimento é comum aos salmistas. Davi considerando os feitos de Deus e o fato de que Ele ouve as suas orações, escreve: “Pois tu és grande (lAdG”) (gadol) e operas maravilhas; só tu és Deus!” (Sl 86.10).

          O salmista se dispõe a adorar a Deus em companhia dos fiéis tendo em vista as suas grandes obras: 1Aleluia! De todo o coração renderei graças ao SENHOR, na companhia dos justos e na assembleia.  2Grandes (lAdG”) (gadol) são as obras do SENHOR, consideradas por todos os que nelas se comprazem” (Sl 111.1-2).

          O salmista rende graças a Deus considerando as suas maravilhosas obras fruto de sua misericórdia:    “Ao único que opera grandes (lAdG”) (gadol) maravilhas (al’P’) (pala), porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 136.4).

          Davi canta com alegria a magnificente misericórdia de Deus que se manifestou em seu livramento e alento de sua alma:

Render-te-ei graças, SENHOR, de todo o meu coração; na presença dos poderosos te cantarei louvores.  2 Prostrar-me-ei para o teu santo templo e louvarei o teu nome, por causa da tua misericórdia e da tua verdade, pois magnificaste (ld;G”) (gadal) acima de tudo o teu nome e a tua palavra.  3 No dia em que eu clamei, tu me acudiste e alentaste a força de minha alma. (Sl 138-1-3).

          Quando o salmista recapitula a história do povo de Israel do deserto, marcada pelo cuidado e provisão de Deus bem como pela desobediência do povo, um aspecto destacado é o esquecimento dos grandiosos feitos de Deus: “Esqueceram-se de Deus, seu Salvador, que, no Egito, fizera coisas portentosas (lAdG”) (gadol) (Sl 106.21).

A certeza da grandeza de Deus deve alimentar e fortalecer a nossa fé: “Com efeito, eu sei ([d;y”) (yada’) que o SENHOR é grande (lAdG”) (gadol) e que o nosso Deus está acima de todos os deuses” (Sl 135.5).

          Os feitos grandiosos de Deus, por vezes, são reconhecidos até mesmo pelos ímpios, conforme registra o salmista:

1Quando o SENHOR restaurou a sorte de Sião, ficamos como quem sonha. 2Então, a nossa boca se encheu de riso, e a nossa língua, de júbilo; então, entre as nações se dizia: Grandes (ld;G”) (gadal) coisas o SENHOR tem feito por eles. (Sl 126.1-2).

          Esse é o nosso Deus. É o nosso Pastor e Rei. Ele é grande e os seus atos de misericórdia são grandiosos.

São Paulo, 11 de setembro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Para um estudo mais exaustivo do uso da palavra e de suas variantes, vejam-se: M.G. Abegg, Jr., Gdl: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 798-801; Jan Bergman, et. al., Gâdhal: In: G.J. Botterweck, Helmer Ringgren, eds., Theological Dictionary of the Old Testament, Grand Rapids, MI.: Eerdamans, 1977 (Revised edition), v. 2, p. 390-416. (Para os nossos objetivos, especialmente, as páginas 406-412).

[2] ([d;y”) (yada’). Conforme já mencionamos, esse conhecimento envolve a capacidade diversos aspectos de nossa capacidade experimental.

[3] Todo o Salmo 76 é uma demonstração da grandeza operante de Deus.

[4] 2ª estrofe do hino “Confiança em Deus”, nº 156 do Hinário Novo Cântico.  Hino escrito em 1752  pela escritora alemã, de grande ênfase pietista, K.A.D. Von Schegel (1697-1768). A nossa tradução é de Isaac N. Salum (1913-1993).

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