Rei e Pastor: O Senhor na visão e vivência dos salmistas (11)
Revelar o nome significa revelar a própria pessoa e o seu caráter. Do mesmo modo: confiar no nome é o mesmo que confiar na pessoa (Sl 9.10; 20.7; 22.22; Mt 12.21,[1] etc.).[2] No Salmo 8.1, a majestade de Deus e o seu nome, são poeticamente sinônimos.[3]
Jesus Cristo diz a Ananias que Paulo, antigo perseguidor e agora convertido a Cristo, era um instrumento escolhido “para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15).
Glorificar o nome de Deus é o mesmo que glorificar a Deus. Jesus Cristo ora: “Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o glorifiquei e ainda o glorificarei” (Jo 12.28).
O nome é a própria pessoa em seus atos.[4] Nas Escrituras o nome revela aspectos do seu caráter e perfeição. Quando o nome do Pai é associado ao do Filho e ao do Espírito Santo, “assume o caráter de perfeição e plenitude”.[5]
Ele nos guarda em seu nome que é poderoso:
O SENHOR te responda no dia da tribulação; o nome do Deus de Jacó te eleve em segurança. (Sl 20.1).
O mestre de canto. Salmo didático. Para instrumentos de cordas. De Davi, quando os zifeus vieram dizer a Saul: Não está Davi homiziado entre nós? Ó Deus, salva-me, pelo teu nome, e faze-me justiça, pelo teu poder. (Sl 54.1).
Torre forte é o nome do SENHOR, à qual o justo se acolhe e está seguro. (Pv 18.10).[6]
Se o nome de Deus nos fala de sua natureza e de seus atos, em contrapartida, essa revelação deve deixar claro para nós como devemos nos relacionar com Ele. Em outras palavras: Se Deus se revela como santo, justo, misericordioso, fiel e majestoso, a nossa relação com ele deve levar tudo isso em consideração: O Deus a quem servimos e oramos é um Deus, santo, justo, misericordioso, fiel e majestoso.
Obviamente isso deve ser essencialmente modelador de nossos atos, orações e culto. O Salmo 23 é claramente relacional. Se o Senhor é o meu pastor, eu de fato, sou sua ovelha. Somos o que somos enquanto o somos para o outro. Não existe pastor sem ovelhas, nem ovelhas sem pastor. A nossa alegria e segurança é saber que o nosso pastor é o Senhor. Por isso mesmo, eu não preciso de nada. Não por resignação, mas, porque nada nos falta nem nos faltará. Conhecemos nosso Senhor.
Falta de um conhecimento pessoal de Deus
Por vezes, o nosso problema fundamental, é que nos falta um conhecimento pessoal de Deus, um conhecimento de Quem Ele é; e, portanto, de uma confiança resultante da certeza de quem é o Deus em quem cremos.
O nome de Deus só pode ser genuinamente conhecido por meio do conhecimento salvador de Jesus Cristo.[7] Jesus Cristo não se perdeu em questões periféricas, antes diz que manifestou o nome de Deus, ou seja: anunciou o caráter, os atos e as perfeições de Deus.
A Palavra anunciada por Cristo revelava a Deus como Senhor de todas as coisas, evidenciando aspectos da sua natureza. Apenas em caráter ilustrativo podemos afirmar que na Oração Sacerdotal (João 17) vemos Deus como:
- Pai (1)
- O Senhor da Glória: (1,4,5)
- Todo-Poderoso (2). Ele tem autoridade (e)cousi/a) sobre todas as coisas.
- Deus que se revela (3). Deus se revela para ser conhecido. Ele enviou o seu Filho com este propósito.
- O único Deus verdadeiro: (3)
- Deus eterno: (5)
- Pai que escolhe os seus: (6,9)
- Todo-Poderoso para guardar os seus: (6,9,11,15)
- Pai Santo e Santificador: (11,17)
- Acolhedor: (21). O Pai nos acolhe em sua intimidade com o Filho a fim de sermos um povo, unido com Eles.
- Ama o seu povo: (23)
- Ama o Filho (23-24,26)
- Pai Justo: (25)
- Pai que permanece eternamente unido ao Filho: (21-24).
Retornando ao Antigo Testamento, partindo da Palavra hwhy (YHWH) queremos analisar como as Escrituras, especialmente no livro de Salmos, revelam o Senhor.
São Paulo, 04 de setembro de 2019.
Rev.
Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] “Em ti, pois, confiam os que conhecem ([dy) (yada) o teu nome, porque tu, SENHOR, não desamparas os que te buscam” (Sl 9.10). “Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus” (Sl 20.7). “A meus irmãos declararei o teu nome; cantar-te-ei louvores no meio da congregação” (Sl 22.22). “E, no seu nome, esperarão os gentios” (Mt 12.21).
[2]Vejam-se: H. Bietenhard, o(/noma, etc.: In: G. Kittel; G. Friedrich, eds. Theological Dictionary of the New Testament, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1981 (Reprinted), v. 5, p. 242-283; J.A. Motyer, Nome: In: J.D. Douglas, ed. org.O Novo Dicionário da Bíblia,São Paulo: Junta Editorial Cristã, 1966, v. 2, p 1120-1122; H. Bietenhard; F.F. Bruce, Nome: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 276-284; C. Biber, Nome: In: J.J. von Allmen, dir.Vocabulário Bíblico, 2. ed.São Paulo: ASTE., 1972, p. 275-278; J.T. Muller, Nombre: In: E.F. Harrison, ed. Diccionario de Teologia, Michigan; T.E.L.L., 1985, p. 370-371; W. Barclay, El Nuevo Testamento Comentado, Buenos Aires: La Aurora, 1974, v. 6, p. 232-234; Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, 3. ed. Grand Rapids, Michigan: Reformed Publishing Association, 1976, p. 337-338; A. Van Den Born; V. Imschoot, Nome de Deus e Nome Próprio: In: A. Van Den Born, red. Dicionário Enciclopédico da Bíblia, 2. ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1977, p. 1048-1050; G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Mateo, Grand Rapids, Michigan: Subcomision Literatura Cristiana, 1986, p. 342; A. R. Crabtree, Teologia do Velho Testamento, 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1977, p. 61ss.; W.E. Wine, Diccionario Expositivo de Palabras del Nuevo Testamento, Terrassa, Barcelona: CLIE., 1984, v. 3, p. 65; R. Youngblood, Significados dos nomes nos Tempos Bíblicos. In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,São Paulo: Vida Nova, 1988-1990, v. 3, p. 25; Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 155-167; Herman Bavinck, Reformed Dogmatics: God and Creation, Grand Rapids, MI.: Baker Academic, 2004, v. 2, p. 95-147; Paulo Anglada, Soli Deo Glória: O Ser e Obras de Deus, Ananindeua, Pará: Knox Publicações, 2007, p. 31-53; Russel P. Shedd, A Solidariedade da Raça: O Homem em Adão e em Cristo,São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 18-20; G. Von Rad, Teologia do Antigo Testamento, 2. ed. São Paulo: ASTE, 1973, v. 1, p. 186-192; H.H. Rowley, A Fé em Israel: aspectos do pensamento do Antigo Testamento, São Paulo: Paulinas, 1977, p. 52ss.; Daniel I. Block, O Evangelho segundo Moisés − Reflexões teológicas e éticas no livro de Deuteronômio, São Paulo: Cultura Cristã, 2017, p. 255ss.
[3] Cf. Peter C. Craigie; Marvin E. Tate, Psalms 1-50, 2. ed. Waco: Thomas Nelson, Inc. (Word Biblical Commentary, v. 19), 2004, (Sl 8), p. 107.
[4] “O nome de Deus, de maneira como o explico, deve ser aqui subentendido como sendo o conhecimento do caráter e perfeições de Deus, até ao ponto em que ele se nos faz conhecido. Não aprovo as especulações sutis daqueles que creem que o nome de Deus significa nada mais nada menos que Deus mesmo” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Paracletos, 1999, (Sl 8.1), p. 158).
[5]H. Bietenhard; F.F. Bruce, Nome: In: Colin Brown, ed. ger.O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento,São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 281.
[6] “Nas Escrituras o nome sempre vale pelo caráter; vale pela perfeição da pessoa e seus atributos; representa o que a pessoa realmente é. O nome é o que revela verdadeiramente a pessoa e é a conotação de tudo o que a pessoa é na essência” (D. Martyn Lloyd-Jones, seguros mesmo no mundo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (Certeza Espiritual, v. 2), 2005, p. 52).
[7] Veja-se: Emil Brunner, Dogmática, São Paulo: Novo Século, 2004, v. 1, p. 167.