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Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (26) – Principais Catecismos e Confissões Reformados (2) - Hermisten Maia

Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (26) – Principais Catecismos e Confissões Reformados (2)

Este artigo é continuação do:Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (25) – Principais Catecismos e Confissões Reformados (1)

Acesse aqui esta série de estudos completa


 

Principais Catecismos e Confissões Reformados: subsídios históricos (continuação)

 

4. XXXIX Artigos da Igreja da Inglaterra (1563)

 

Em 1552, o Arcebispo de Cantebury, T. Cranmer (1489-1556), elaborou juntamente com outros clérigos, Quarenta e Dois Artigos da Religião, que foram, após uma minuciosa revisão feita no mesmo ano, publicados em 1553 sob à autoridade do Rei da Inglaterra, Eduardo VI. Mais tarde, estes Artigos foram revistos e reduzidos a 39, pelo Arcebispo de Cantebury, Matthew Parker (1504-1575) e outros bispos. Esta última revisão e redução, foi ratificada pelas duas Casas de Convocação, sendo os Trinta e Nove Artigos publicados por autoridade do Rei em 1563.

 

Em 1571 tornou-se obrigatória a subscrição destes Artigos por todos os Ministros ingleses.[1]

 

Os Trinta e Nove Artigos e o Livro de Oração Comum (1549), são os Símbolos de Fé da Igreja Anglicana e, com algumas alterações, da Igreja Episcopal Protestante dos Estados Unidos.[2]

 

5. Catecismo de Heidelberg (1563)[3]

 

Catecismo Heidelberg30

Esta Confissão foi escrita por dois jovens teólogos: Caspar Olevianus (1536-c. 1587) – quem recebeu influência de Melanchton (1497-1560) e de Peter Martyr Vermigli (1500-1562) –, professor de teologia na Universidade de Heidelberg e Zacharias Ursinus (1534-1583), que fora aluno de Melanchton, em Wittenberg (1550-1557), bem como amigo de Calvino (1509-1564). Acusado de Criptocalvinismo[4] (Calvinista disfarçado), foi para Zurique (1560), onde dirigiu o Collegium Sapientiae (1561). Posteriormente, exerceu o professorado de teologia em Heidelberg (1562-1568). Schaff (1819-1893), diz que “Olevianus foi inferior à Ursinus na erudição, porém foi superior no púlpito e no governo da igreja”.[5]

 

O Catecismo ficou pronto em janeiro de 1563, existindo um exemplar desta primeira edição na Biblioteca Nacional de Viena, datado de 19/01/1563. Neste mesmo ano, foram publicadas mais três edições, sendo a quarta considerada a mais completa e definitiva de todas. No prefácio da primeira edição, Frederico III, o “Piedoso” (1515-1576),[6] estabeleceu três propósitos para este Catecismo, a saber: Instrução catequética; um guia para pregação e uma forma confessional de unidade. Frederico III, foi o primeiro príncipe alemão a adotar um Credo Reformado, como distinto do Luterano.[7]

 

O Catecismo de Heidelberg foi adotado por um Sínodo de Heidelberg (19/01/1563), sendo aceito também na Escócia, servindo de modo especial para o ensino das crianças (até à época da adoção dos Catecismos de Westminster (28/07/1648)). O Sínodo de Dort também o aprovou. Heidelberg é o símbolo das Igrejas Reformadas da Alemanha, da Holanda, dos Estados Unidos[8] e do Brasil.

 

Este Catecismo tem como dois de seus pontos fortes o seu aspecto não polêmico – com exceção da pergunta 80 –, e o tom pastoral com o qual ele foi escrito, usando muitas vezes a primeira pessoa do singular, sendo as suas respostas uma declaração pessoal de fé, tendo as verdades teológicas uma aplicação bem direta às necessidades cotidianas do povo de Deus.

 

Ele foi traduzido para todas as línguas da Europa e muitas Asiáticas, sendo amplamente usado. Devido a esta amplitude de traduções, Schaff (1819-1893) diz que Heidelberg “tem o dom pentecostal de línguas em um raro grau”.[9]

 

6. Segunda Confissão Helvética (1562-1566)[10]

 

A Segunda Confissão Helvética, foi primariamente elaborada em latim, em 1562, pelo amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), Henry Bullinger (1504-1575). Em 1564, quando a peste voltou a atacar em Zurique, Bullinger perdeu a esposa e as três filhas. Ele mesmo ficou doente, mas foi curado. Neste ínterim ele fez a revisão da Confissão de 1562 e, como uma espécie de testamento espiritual, anexou-a ao seu testamento, para ser entregue ao magistrado da cidade, caso ele viesse a falecer. Esta confissão foi publicada, com algumas alterações – aceitas por Bullinger –, em latim e alemão em 12/03/1566. Ela foi traduzida para vários idiomas (inclusive o Árabe), tendo ampla aceitação em diversos países nos anos seguintes, sendo também adotada na Escócia (1566); na Hungria (1567); na França (1571); na Polônia (1578).[11] Esta Confissão “veio a ser o elo de união para as igrejas calvinistas espalhadas por toda a Europa”.[12]

 

 

Florianópolis,15/16 de dezembro de 2018.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


 

[1]Cf. K.S. Latourette, História del Cristianismo, v. 2, p. 167.

[2]David S. Schaff, Nossa Crença e a de Nossos Pais, 2. ed. São Paulo: Imprensa Metodista, 1964, p. 31.

[3]Para uma esclarecedora visão do Catecismo de Heidelberg, veja-se: Alderi Mattos, O Catecismo de Heidelberg: Sua História e Influência: In: Fides Reformata, 1/1 (1996) 25-33. Para uma abordagem mais exaustiva, consulte: Lyle D. Bierma, et. al. Introdução ao Catecismo de Heidelberg, São Paulo: Cultura Cristã, 2010. (A obra traz uma ampla bibliografia especialiazada e atualizada).

[4] Quanto à expressão, Ver: D.K. McKim, Criptocalvinismo: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 370-371.

[5] P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 534. J.T. McNeill diz a mesma coisa com outras palavras, Veja-se: J.T. McNeill, The History and Character of Calvinism, p. 270: “Ele (Olevianus) era dois anos mais jovem que Ursinus, mais eloquente e menos erudito”.

[6] Sobre o seu testemunho evangélico, veja a “Introduccion” do El Catecismo de Heidelberg, 3. ed. Rijswijk, (Z.H.), Países Bajos: Fundacion Editorial de Literatura Reformada, 1982, p. 11-12.

[7] Em outras palavras, ele foi o primeiro príncipe alemão a abraçar fé Reformada. (Veja-se: Shirley C. Guthrie, Heidelberg Catechism: Donald K. McKim, ed. Encyclopedia of the Reformed Faith, p. 167.

[8] Vejam-se: R.V. Schnucker, Catecismo de Heidelberg: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 247-248; K.S. Latourette, História del Cristianismo,v. 2, p. 102; Philip Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 529-538; W. Walker, História da Igreja Cristã, v. 2, 122; Clair Davis, A Igreja Reformada da Alemanha: Calvinistas, uma influente minoria: In: W. Stanford Reid, ed. Calvino e sua Influência no Mundo Ocidental, p. 168; Manuel Gutiérrez-Marin, Prólogo ao Catecismo de Heidelberg: In: Catecismo de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: La Aurora, 1962, p. 127-142; Eduard Gunder, Heidelberg Catechism: In: Philip Schaff, ed. Religious Encyclopaedia: or Dictionary of Biblical, Historical, Doctrinal, and Practical Theology, v. 2, p. 959-960; Fred H. Klooster, A Short History of the Heidelberg Catechism prepared for the new Pslater Hymnal Handbook (2/20/87), texto datilografado, 8p.

[9] P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 536. Há aqui um dado importante; como sabemos, os Holandeses estiveram no Brasil no período de 1630 a 1654; ainda que não fosse o âmbito religioso o seu principal trabalho, não deixaram de atuar também nesta área. Em 1656 Antônio Paraupaba pede socorro aos Estados Gerais em favor da nação indígena do Brasil que havia abraçado a religião Reformada; a certa altura diz: “Ajudem agora! A luz da Palavra de Deus será apagada por falta de pastores” (Apud Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês: 1630-1654, p. 312). O trabalho dos holandeses na publicação de um Catecismo trilingue (holandês, português e tupi), intitulado: “Uma instrução simples e breve da Palavra de Deus nas línguas brasiliana, holandesa e portuguesa, confeccionada e editada por ordem e em nome da Convenção Elcesial Presbiterial no Brasil, com formulários para batismo e santa ceia acrescentados” –, não deixa de ser extremamente interessante considerando as suas vicissitudes, já que o Presbitério de Amesterdã não o aprovara, não pelo que dissera, mas pelo que omitira, além de uma possível suspeita, certamente infundada, de algum viés arminiano. Na realidade o seu autor, o Rev. David à Doreslaer com a ajuda do Rev. Vincentius J. Soler confessou ter problemas em expressar determinados conceitos teológicos em línguas bárbaras. O que ele desejava era fazer um resumo do Catecismo de Heidelberg (1563) adotado pela Igreja Reformada Holandesa. Assim o Catecismo que tinha como alvo principal os índios evangelizados, foi impresso na Holanda em 1641 chegando em Recife em 1642. Ao que parece ele não teve grande utilidade devido aos debates provocados entre o Sínodo da Holanda e a Companhia das Índias Ocidentais. Schalkwijk, conclui: “Provavelmente, os catecismos ficaram empilhados em algum lugar, falados demais para serem usados, santos demais para serem queimados” (Frans Leonard Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil Holandês: 1630-1654, p. 324).

[10] L. Berkhof tem razão ao dizer que esta é “a mais completa declaração oficial sobre a posição Reformada acerca da doutrina de Cristo” (L. Berkhof, História das Doutrinas Cristãs, p. 106).

[11] Vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, v. 1, p. 390-395; v. 3, p. 233; R.V. Schnucker, Confissões Helvéticas: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,v. 1, p. 341-342; K.S. Latourette, História del Cristianismo,v. 2, p. 99; Archibald A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 110; D. S. Schaff, Nossa Crença e a de Nossos Pais, p. 30.

[12] O G. Oliver Jr., Bullinger: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,v. 1, p. 216.

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