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Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (8) - Hermisten Maia

Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (8)

4. O Autor da eleição

 O decreto da eleição é uma obra da Trindade, todavia, a Bíblia atribui mais especificamente ao Pai este ato soberano (Jo 6.37,39,44,45,64,65; 17.6,9; Ef 1.3,4).[1]

Podemos dizer que a Eleição é um ato eterno da Santíssima Trindade, sendo efetivado mais especificamente pelo Pai, como representante do Conselho Trinitário (Ef 1.11). No entanto, jamais devemos perder de vista o fato de que a Trindade está comprometida com a salvação de todos os eleitos (Jo 17.9-26/Jo 14.16-17,26; 15.26; 16.13-15).

O Deus Triúno é o Autor e o executor da nossa salvação. Do princípio ao fim, a salvação é obra de Deus (Fp 1.6).[2]

 

A Obra do Espírito torna efetivo em nós aquilo que Cristo realizou definitivamente por nós. Podemos afirmar, que sem as operações do Espírito, o Ministério Sacrificial de Cristo não teria valor objetivo para os homens, visto que os méritos redentores e salvadores de Cristo não seriam comunicados aos pecadores.

 

Calvino (1509-1564) afirmou corretamente, que é necessário que Cristo habite em nós para que compartilhe conosco o que recebeu do Pai. Ele conclui dizendo que: “O Espírito Santo é o elo pelo qual Cristo nos vincula efetivamente a Si”.[3] Em outro lugar, declara: “Sabemos que nosso bem, nossa alegria e repouso é estar unido ao Filho de Deus”.[4] “Em primeiro lugar devemo-nos lembrar que a obra da redenção de Cristo de nada nos aproveita enquanto não estivermos unidos a Ele, enquanto Ele não estiver em nós”.[5]

 

Cristo cumpriu perfeitamente as demandas da Lei e adquiriu todas as bênçãos que envolvem a salvação. A Obra do Espírito consiste em aplicar os merecimentos de Cristo aos pecadores, capacitando-os a receberem a Graça da salvação. Somente através do Espírito “recebemos todos os bens e dons que nos são dados em Jesus Cristo”.[6]

 

É Ele Quem derrama sobre nós, as bênçãos da graça, obtidas pela obra eficaz de Cristo. Desta forma, podemos dizer que o Ministério soteriológico do Espírito se baseia nos feitos de Cristo e, que o Ministério Sacrificial de Cristo reclama a ação do Espírito (Jo 7.39/Jo 14.26; 16.13-14). “A obra do Espírito na aplicação da redenção de Cristo é descrita como tão essencial como a própria redenção”.[7] “A condição prévia indispensável para a outorga do Espírito é a obra de Cristo”, conclui corretamente Bruner.[8]

 

A Palavra nos ensina que o Espírito Santo é o Espírito de Cristo (Gl 4.6; Fp 1.19); por isso, a presença do Espírito em nós, é a presença do Filho (Rm 8.9). Quando evangelizamos, o fazemos, confiantes de que Deus, pelo Espírito, aplicará os méritos de Cristo no coração do Seu povo. Portanto, aí está a nossa responsabilidade e o nosso conforto, conforme bem observou Billy Graham (1918-2018):

 

O Espírito Santo é o grande comunicador do Evangelho, usando como instrumento pessoas comuns como nós. Mas é dele a obra. Assim, quando o Evangelho é fielmente proclamado, o Espírito Santo é quem o envia como dardo flamejante aos corações dos que foram preparados.[9]

 

Ninguém está fora do alcance do Evangelho. A salvação é para todos os que creem em Cristo Jesus. À nós compete cumprir a nossa missão essencial de proclamar as virtudes de Deus a todos os homens. A efetivação da salvação é com Deus, Aquele que elege e converte o Seu povo.

 

 

Recife, 2 de abril de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Leia esta série completa aqui.

 


[1] Parece ser esta também a perspectiva de Calvino. Veja-se: As Institutas, III.22.7.

[2] “Em sua inteireza a nossa salvação procede do Senhor. É sua realização. Ele mesmo apresenta Sua noiva a Si mesmo por que ninguém mais pode fazê-lo, ninguém mais é competente para fazê-lo. Somente Ele pode fazê-lo. Ele fez tudo por nós, do princípio ao fim, e concluirá a obra apresentando-nos a Si mesmo com toda esta glória aqui descrita” (D.M. Lloyd-Jones, Vida No Espírito: No Casamento, no Lar e no Trabalho, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1991, (Ef 5.27), p. 137). Do mesmo modo acentua Murray: “A salvação é do Senhor, tanto em sua aplicação como em sua concepção e realização” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 98).

[3]João Calvino, As Institutas, III.1.1.

[4]J. Calvino, Sermones Sobre La Obra Salvadora De Cristo, Jenison, Michigan: T.E.L.L. 1988, “Sermon nº 2”, p. 23.

[5]J. Calvino, As Institutas da Religião Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984, III.1. p. 205. (Edição abreviada por J.P. Wiles).

[6]Catecismo de Genebra, (1541), Pergunta 91.

[7]Charles Hodge, Teologia Sistemática, São Paulo: Hagnos, 2001, p. 390.

[8]Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, p. 179.

[9] Billy Graham, Por que Lausanne?: In: A Missão da Igreja no Mundo de Hoje, São Paulo; Belo Horizonte, MG.: ABU; Visão Mundial, 1982, p. 30. A consciência de que os “resultados” da Evangelização dependem do Deus soberano, traz como implicação a nossa ousada confiança em Deus, não em nossos métodos. Packer analisou bem este ponto, fazendo aplicações complementares: “Se esquecermos que a prerrogativa de Deus é produzir resultados quando o evangelho é pregado, acabaremos pensando que é nossa responsabilidade assegurá-los. E, se nos esquecermos de que somente Deus pode infundir fé, acabaremos pensando que a conversão, em última análise, depende não de Deus, mas de nós, e que o fator decisivo é a maneira como evangelizamos. E essa linha de pensamento, coerentemente seguida, nos fará desviar em muito” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1990, p. 22). “(A) fé fervorosa na soberania absoluta de Deus (…) não somente fortalece a evangelização, como sustenta o evangelista, criando uma esperança de êxito que, de outro modo, não poderia ser realidade; e igualmente nos ensina a ligar a pregação à oração, tornando-nos ousados e confiantes perante os homens, ao mesmo tempo em que nos torna humildes e persistentes perante Deus” (J.I. Packer, Evangelização e Soberania de Deus, p. 84-85).

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