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Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (49) - Hermisten Maia

Os eleitos de Deus e o seu caminhar no tempo e no teatro de Deus (49)

d) Unidade não existe em detrimento da verdade

 

Cristo orou para que pudéssemos ser um como ele é com o Pai. Não há negociações na trindade, somente acordo perfeito baseado na verdade. Essa é a unidade pela qual devemos lutar. − R.C. Sproul (1939-2017).[1]

 

Ênfases corretas podem esconder determinados vícios. Quem ousaria discordar de nós, na afirmação do propósito de que como cristãos devemos buscar a unidade? O fato é que podemos estar tão desejosos de que haja unidade – o que sem dúvida é um nobre desejo – que nos esquecemos da verdade.

 

Na realidade não podemos fazer concessões com aquilo que não nos pertence. Muitas vezes fechamos os nossos olhos à verdade a fim de criar uma unidade artificial, erguida sobre o frágil fundamento da mentira, do engano ou da omissão. Além disso, está na moda ser simpático para a posição diferente da sua.

 

Surge, então, mais um tema agradável e, que, aparentemente, por si só, não carece de avaliação: tolerância.

 

Em nome da unidade – ironiza MacArthur – esses assuntos de doutrina jamais devem ser contestados. Somos encorajados a insistir em nada mais do que uma simples afirmação de fé em Jesus. Além disso, o conteúdo específico da fé deve ser um assunto de preferências pessoais.[2]

 

Por trás do conceito de “tolerância” abriga-se, muitas vezes, a simples compreensão da impossibilidade de se chegar à verdade. Hughes chama-nos a atenção para essa acepção de “tolerância”:

 

A atitude de tolerância com relação a todos os outros pontos de vista passa a ser a regra básica de convivência dentro de uma mentalidade pós-moderna. No entanto, a tolerância não é mais definida como uma graciosa resposta individual para uma pessoa que sustenta pontos de vista errados. A tolerância é agora definida como a expectativa de que toda pessoa chegue a abandonar a ideia que sua compreensão da verdade tenha mais validade que a perspectiva de outra pessoa.[3]

 

Não nos iludamos: a chamada tolerância, que tem um apelo tão simpático, tem, na realidade, se tornado em instrumento para neutralizar o conceito de verdade e de mentira, ou como disse Colson (1931-2012), “hoje, a tolerância é usada para chamar o mal de bem e o bem de mal”.[4]

 

A tolerância – no sentido de você crer de modo diferente do outro, discordar dele, contudo, respeitá-lo como pessoa (tolerância legal e tolerância social)[5] – nunca deve substituir o interesse pela verdade, ou, simplesmente, ter a roupagem daquilo que denominamos de “politicamente correto”. Quanto a este ponto em particular, que Stott chama de “tolerância intelectual”,[6] vale a pena citar as palavras enfáticas de MacArthur: “Passividade em relação ao erro conhecido não é uma opção para o cristão. A intolerância para com o erro encontra-se permeada nas próprias Escrituras. E tolerância para com o erro conhecido é tudo menos uma virtude”.[7]

 

Na realidade, a tolerância tem respeito para com a verdade e a sua busca. O cristão é chamado a ter compromisso com a verdade e com a tolerância. O mesmo Deus que diz “Eu sou a verdade”, instrui-nos: “Amai os vossos inimigos”.[8]

 

Portanto, no que se refere à igreja de Cristo, devemos tolerar as pessoas que pensam diferente de nós. Devemos amá-las, contudo, isto não significa que devemos tolerar as suas ideias, quando elas afrontam o nome de Cristo, e põem em perigo a sua igreja. Isso, jamais. “A tolerância bíblica é para as pessoas; a tolerância pós-moderna é para as ideias”.[9]

 

A “unidade” que se “consegue” em detrimento da verdade não é produzida pelo Espírito, portanto, não é unidade – pelo menos não a do Espírito – é apenas um ajuntamento circunstancial, formado de partes desconexas sem um elemento central que os preserve ali.[10] Uma “unidade” obtida por estes meios seria pagar um preço excessivamente alto e, o pior, sem verdadeiros frutos duradouros. [11]

 

Não podemos sustentar uma unidade que negue a Trindade, a suficiência das Escrituras ou a obra expiatória de Cristo. Esta não seria a unidade do Espírito, pelo menos, não a do Espírito Santo. No entanto, sem perceber, muitos crentes se detêm em ouvir pregadores que “dizem verdades”, mas, que na realidade, negam doutrinas fundamentais da fé cristã. É preciso discernimento quanto a isso, para que não estejamos, involuntariamente, patrocinando heresias em nome de uma suposta unidade cristã.

 

Calvino (1509-1564) entende que a divergência em questões secundárias não deve servir de pretexto para a divisão da Igreja, além do mais, todos, sem exceção estão envoltos de “alguma nuvenzinha de ignorância”…

 

     São palavras do Apóstolo: “Todos quantos somos perfeitos sintamos o mesmo; se algo entendeis de maneira diferente, também isto vos haverá de revelar o Senhor” [Fp 3.15]. Não está ele, porventura, a suficientemente indicar que o dissentimento acerca destas cousas não assim necessárias não deve ser matéria de separação entre cristãos? Por certo que estará em primeira plana que em todas as cousas estejamos em acordo; mas, uma vez que ninguém há que não esteja envolto de alguma nuvenzinha de ignorância, impõe-se que ou nenhuma igreja deixemos, ou perdoemos o engano nessas cousas que possam ser ignoradas não somente inviolada a suma da religião, mas também aquém da perda da salvação.

Mas, aqui, não quereria eu patrocinar a erros, sequer os mais diminutos, de sorte que julgue devam ser fomentados, com agir com complacência e ser-lhes conivente.[12] Digo, porém, que não devemos por causa de quaisquer dissentimentozinhos abandonar irrefletidamente a Igreja, em que somente se retenha salva e ilibada essa doutrina, mercê da qual se mantém firme a incolumidade da piedade e conservado é o uso dos sacramentos instituído pelo Senhor.[13]

Não vejo, porém, nenhuma razão por que uma igreja, por mais universalmente corrompida, desde que contenha uns poucos membros santos, não deva ser denominada, em honra desse remanescente, de santo povo de Deus.[14]

Contanto que a religião continue pura quanto à doutrina e ao culto, não devemos deixar-nos abalar em demasia ante os erros e pecados que os homens cometem, como se com isso a unidade da Igreja fosse dilacerada. Entretanto, a experiência de todas as épocas nos ensina quão perigosa esta tentação se torna quando vemos a Igreja de Deus, que deve prosseguir isenta de toda e qualquer mancha poluente e resplandecer em incorruptível pureza, nutrindo em seu seio um grande número de hipócritas ímpios ou pessoas perversas. (…) Mas Cristo, em Mateus 25.32, com justa razão alega ser seu, com toda propriedade, o ofício peculiar de separar as ovelhas dos cabritos; e por isso nos admoesta que devemos suportar os maus, e que não está em nosso poder corrigi-los, até que as coisas se tornem amadurecidas e chegue o tempo próprio de purificar a Igreja. Ao mesmo tempo, os fiéis são aqui intimados, cada um em sua própria esfera, a empregar todos os seus esforços para que a Igreja de Deus seja purificada das corrupções que nela ainda persistem.

(…) O sagrado celeiro de Deus não estará perfeitamente purificado antes do último dia, quando Cristo, em sua vinda, lançará fora a palha. Mas Ele já começou a fazer isso através da doutrina do seu Evangelho, que chama crivo de joeirar. Não devemos, pois, de forma alguma ser indiferentes acerca desse assunto; ao contrário, devemos antes mostrar-nos absolutamente sérios, para que todos nós que professamos ser cristãos possamos levar uma vida santa e imaculada. Acima de tudo, porém, o que Deus aqui declara com respeito a toda injustiça deve ficar indelevelmente impresso em nossa memória; ou seja, que Ele os proíbe de entrar em seu santuário, e condena sua ímpia presunção em irreverentemente intrometer-se na sociedade dos santos.[15]

Todavia, ainda quando a Igreja seja remissa em seu dever, não por isso será direito de cada um em particular a si pessoalmente assumir a decisão de separar-se.[16]

 

Calvino entende que Satanás muitas vezes se vale de nossos bons sentimentos para fazer com que quebremos a unidade da Igreja, supostamente, em busca de uma Igreja ideal. Para este mister, somos capazes até de reunir textos que falam da santidade da Igreja como pretexto para a nossa atitude.[17]

 

“Separar-se de uma igreja local com um senso de autossuficiência é, a longo prazo, suicídio”, afirmam Piper e Carson.[18]

 

Calvino, por sua vez, nos aconselha: “Recordemos sempre, quando o diabo nos empurrar para as controvérsias, que as desavenças dos membros, no seio da Igreja, não nos levam a parte alguma, senão para a ruína e destruição de todo o corpo”.[19] Como os jovens são mais irritáveis, segue uma orientação mais específica:

 

Os jovens, em meio às controvérsias, se irritam muito mais depressa do que os de mais idade; se iram mais facilmente, cometem mais equívocos por falta de experiência e se precipitam com mais ousadia e temeridade. Daí ter Paulo boas razões para aconselhar a um jovem a precaver-se contra os erros próprios de sua idade, os quais, de outra forma, poderiam facilmente envolvê-lo em disputas inúteis.[20]

 

Após argumentar contra aqueles que chamavam os reformados de hereges, ressalta que a unidade cristã deve ser na Palavra:

 

Com efeito, também isto é de notar-se: que esta conjunção de amor assim depende da unidade de fé que lhe deva ser esta o início, o fim, a regra única, afinal. Lembremo-nos, portanto, quantas vezes se nos recomenda a unidade eclesiástica, isto ser requerido: que, enquanto nossas mentes têm o mesmo sentir em Cristo, também entre si conjungidas nos hajam sido as vontades em mútua benevolência em Cristo. E, assim, Paulo, quando para com ela nos exorta, por fundamento assume haver um só Deus, uma só fé e um só batismo [Ef 4.5]. De fato, onde quer que nos ensina o Apóstolo a sentir o mesmo e a querer o mesmo, acrescenta imediatamente: em Cristo [Fp 2.1,5] ou: segundo Cristo [Rm 15.5], significando ser conluio de ímpios, não acordo de fiéis a unidade que se processa à parte da Palavra do Senhor.[21]

 

Em outro lugar, instrui: “A melhor forma de promover a unidade é congregar [o povo] para o ensino comunitário…”.[22]

 

Para os irmãos refugiados em Wezel (Alemanha), que sofriam diversas pressões de luteranos e sobreviviam numa pequena Igreja Reformada, Calvino, em 1554, os consola mostrando que apesar dos grandes problemas pelos quais passava o mundo, Deus lhes havia concedido um lugar onde poderiam adorar a Deus em liberdade. Também os desafia a não abandonarem a Igreja por pequenas divergências nas práticas cerimoniais, sendo tolerantes a fim de preservar a unidade. Contudo, os exorta a jamais fazerem acordos em pontos doutrinários.[23]

 

Portanto, mesmo desejando a paz e a concórdia, Calvino entendia que essa paz nunca poderia ser em detrimento da verdade, pois, se assim fosse, essa dita paz seria maldita:

 

Naturalmente, há uma condição para entendermos a natureza desta paz, ou seja, a paz da qual a verdade de Deus é o vínculo. Pois se temos de lutar contra os ensinamentos da impiedade, mesmo se for necessário mover céu e terra, devemos, não obstante, perseverar na luta. Devemos, certamente, fazer que a nossa preocupação primária cuide para que a verdade de Deus seja mantida em qualquer controvérsia; porém, se os incrédulos resistirem, devemos terçar armas contra eles, e não devemos temer sermos responsabilizados pelos distúrbios. Pois a paz, da qual a rebelião contra Deus é o emblema, é algo maldito; enquanto que as lutas, indispensáveis à defesa do reino de Cristo, são benditas.[24]

 

Em 20 de março de 1552, Thomas Cranmer (1489-1556) escreveu a Calvino – bem como a Melanchthon (1497-1560)[25] e a Bullinger (1504-1575)[26] – convidando-o para uma reunião no Palácio de Lambeth com o objetivo de preparar um credo que fosse consensual para as Igrejas Reformadas.[27] Cranmer tinha em vista também, a realização do Concílio de Trento[28] que estava em andamento, estando preocupado de modo especial com a questão da Ceia do Senhor.

 

Em 1552, Calvino escreve ao Arcebispo de Canterbury, Thomas Cranmer (1489-1556), que em 1549 havia elaborado o Livro de Oração Comum, no qual dava ênfase ao culto em inglês, à leitura da Palavra de Deus e, ao aspecto congregacional da adoração cristã: “Estando os membros da Igreja divididos, o corpo sangra. Isso me preocupa tanto que, se pudesse fazer algo, eu não me recusaria a cruzar até dez mares, se necessário fosse, por essa causa”.[29]

 

Calvino, por experiência própria, sabia o quão difícil é doutrinar uma igreja e, quantos anos são necessários para fazer este serviço ainda que de modo imperfeito:

 

A edificação de uma igreja não é uma tarefa tão fácil que se torne possível fazer com que tudo seja imediata e perfeitamente completado. (…) Hoje sabemos pela própria experiência que o que se requer não é o labor de um ou dois anos para levantar as igrejas caídas a uma condição mais ou menos funcional. Aqueles que têm alcançado diligente progresso por muitos anos devem ainda preocupar-se em corrigir muitas coisas.[30]

 

O nosso conforto é que é o Espírito mesmo quem edifica a sua Igreja por intermédio da sua Palavra, cabendo a nós a responsabilidade de transmiti-la com fidelidade.

 

MacArthur discorrendo sobre o abandono da crença da verdade e a preocupação da Igreja na presente época em agir de forma politicamente correta, acrescenta:

 

Até mesmo os erros grosseiros são agora totalmente toleráveis em alguns ambientes em nome de preservar a paz. Em lugar de manejar bem a Palavra da verdade e proclamá-la como verdadeira, muitas igrejas agora apresentam palestras, dramas, comédias e outras formas de entretenimento motivacionais – enquanto ignoram as grandes doutrinas da fé.[31]

 

São Paulo, 13 de maio de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Leia esta série completa aqui.

 


[1] R.C. Sproul, Só uma sobre a Terra: In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 141.

[2]John F. MacArthur Jr., Introdução do Editor: In: John F. MacArthur Jr. ed. Ouro de Tolo? Discernindo a Verdade em uma Época de Erro. São José dos Campos, SP.: Fiel, 2006, p. 10.

[3]John A. Hughes, Por que Educação Cristã e não Doutrinação Secular?: In: John MacArthur Jr., ed. ger. Pense Biblicamente!: recuperando a visão cristã do mundo, São Paulo: Hagnos, 2005, p. 373.

[4]Charles Colson; Harold Fickett, Uma boa vida, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 180.

[5] Vejam-se: John Stott, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, São Paulo: ABU Editora, 1997, p. 359-360; Charles Colson; Harold Fickett, Uma boa vida, São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 181.

[6] “Cultivar uma mente tão aberta que seja capaz de abraçar qualquer opinião, por mais falsa ou danosa que seja, nem nunca rejeitar coisa alguma, isso não é virtude; é um vício que denota fraqueza de espírito e de moral. No final, acaba gerando uma confusão sem princípios entre verdade e erro, entre o bom e o mal. Os cristãos, que creem que o bem e a verdade foram revelados em Cristo, não podem aceitar isso” (John Stott, Ouça o Espírito, Ouça o Mundo, São Paulo: ABU Editora, 1997, p. 360).

[7]John F. MacArthur Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica: Uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 50. À frente: “Uma cosmovisão bíblica é incompatível com qualquer tipo de tolerância de mentiras” (John F. MacArthur Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica, p. 68). “Ora, é evidente que a recusa em fazer um julgamento sobre a moralidade de uma ação não é tolerância genuína; é covardia moral, ou preguiça intelectual ou uma completa confusão. A verdadeira tolerância é a concepção de que mesmo se eu acreditar que você está errado, não vou usar de coerção para impor minha crença (agora é evidente que há exceções, como no caso de ações que causem dano a outrem). Uma pessoa realmente tolerante não irá se privar de fazer julgamentos, em vez disso preferirá se privar de usar da força pra fazer com que os outros mudem suas crenças; a sua intenção será, pelo contrário, fazer uso apenas de argumentos persuasivos” (Garrett J. DeWeese; J.P. Moreland, Filosofia Concisa: uma introdução aos principais temas filosóficos, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 86).

[8] Cf. William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 11.

[9]John F. MacArthur Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica: Uma mensagem exclusivista para um mundo pluralista, p. 23. Da mesma forma escrevera Carson: “As melhores formas de tolerância, em uma sociedade relativamente livre e aberta, são as receptivas e tolerantes com as pessoas, mesmo quando há grande desacordo acerca das ideias delas. Essa tolerância robusta em relação às pessoas, mesmo que nem sempre pelas ideias delas, produz alguma civilidade no discurso público enquanto ainda estimula o debate vigoroso sobre os méritos relativos dessa ou daquela ideia. No entanto, hoje, a tolerância em muitas sociedades ocidentais, foca cada vez mais as ideias, não as pessoas” (D.A. Carson, O Deus amordaçado: o Cristianismo confronta o pluralismo, São Paulo: Shedd Publicações, 2013, p. 32).

[10] Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, p. 209-220.

[11]Analisando a reprimenda feita por Paulo a Pedro, Calvino comenta: “Cegar a consciência dos santos, porém, através da obrigação de guardar a lei e silenciar a doutrina da liberdade era pagar pela unidade um preço demasiadamente alto” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 2.14), p. 64-65).

[12] “Paulo, pois, nos ensina (Ef 5.11) que, quando não reprovamos os maus, essa é uma espécie de comunhão com as obras infrutíferas das trevas. É certamente um modo de agir muito perverso quando certas pessoas, buscando alcançar o favor humano, indiretamente desdenham de Deus; e todos são coniventes em fazer com que seus negócios sejam do agrado dos perversos. Davi, contudo, sente deferência, não tanto pela pessoa do perverso, mas pelas suas obras. O homem que vê o perverso sendo honrado, e pelos aplausos do mundo se torna ainda mais obstinado em sua perversidade, e que de bom grado dá seu consentimento ou aprovação, com isso não estará enaltecendo o vício, em vez da autoridade, e o envolvendo de soberano poder?” (João Calvino, O Livro dos Salmos, São Paulo: Edições Parakletos, 1999, v. 1, (Sl 15.1), p. 293).

[13] João Calvino, As Institutas, IV.1.12. Em outro lugar: “Onde se professava o Cristianismo, se adorava um único Deus, se praticavam os Sacramentos e se exercia algum gênero de ministério, ali permaneciam as marcas da Igreja. Nem sempre encontramos nas igrejas tal pureza como era de se desejar. Ainda a mais pura tem suas máculas, e algumas têm não só umas poucas manchas aqui e ali, mas são quase que completamente deformadas. Não devemos ficar tão desconcertados pelo ensino e vida de alguma sociedade que, se não ficamos satisfeitos com tudo o que se procede ali, então prontamente negamos ser ela uma igreja” (João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 1.2), p. 25).

[14] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 2, (Sl 50.4), p. 401.

[15] João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 15.1), p. 287-289.

[16] J. Calvino, As Institutas, IV.1.15. Em outro lugar Calvino diz: “Deus só é corretamente servido quando sua lei for obedecida. Não se deixa a cada um a liberdade de codificar um sistema de religião ao sabor de sua própria inclinação, senão que o padrão de piedade deve ser tomado da Palavra de Deus” (João Calvino, O Livro dos Salmos, v. 1, (Sl 1.1), p. 53).

[17]Cf. John Calvin, Calvin’s Commentaries, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House Company, 1996, (Reprinted), v. 15, (Ag 2.1-5), p. 351.

[18]John Piper; D.A Carson, O Pastor Mestre e O Mestre Pastor, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2011, p. 42.

[19]João Calvino, Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, (Gl 5.15), p. 165.

[20] João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 2.22), p. 244.

[21]João Calvino, As Institutas, IV.2.5. Calvino entendia que “onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos de que Deus não está reinando ali” (J. Calvino,  Exposição de 1 Coríntios, (1Co 14.33), p. 436). George comenta com acerto, que “Calvino não estava disposto a comprometer pontos essenciais em favor de uma paz falsa, mas ele tentou chamar a igreja de volta à verdadeira base de sua unidade em Jesus Cristo” (Timothy George, Teologia dos Reformadores, p. 182-183).

[22] João Calvino, Efésios, (Ef 4.12), p. 125.

[23]John Calvin, To the Brethren of Wezel, “Letter,” John Calvin Collection, (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 1998), nº 346, p. 32-34.

[24] J. Calvino, Exposição de 1 Coríntios, (1Co 14.33), p. 437.

[25]Melanchthon mesmo sendo luterano, e amigo pessoal de Lutero, desfrutou também de boa amizade com Calvino, mantendo com este ampla correspondência. Nos dizeres de Schaff, Melanchthon “permaneceu como um homem de paz entre dois homens de guerra” (Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 8, p. 260). O seu principal trabalho teológico foi Loci Communes (abril de 1521). Este tratado foi a primeira obra de teologia sistemática protestante do período da Reforma, marcando época portanto, na história da teologia. Nele Melanchthon segue a ordem da Epístola aos Romanos. (Ver: Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 7, 368-370).

[26]Bullinger foi amigo, discípulo e sucessor de Zuínglio (1484-1531), tendo escrito cerca de 150 obras, entre elas, A Segunda Confissão Helvética (1562-1566).

[27] Cranmer, na carta a Calvino diz: “Como nada mais tende a separar as Igrejas de Deus que as heresias e diferenças sobre as doutrinas de religião, assim nada mais eficazmente os une, e fortalece a obra de Cristo mais poderosamente, que a doutrina incorrupta do evangelho, e união em opiniões reconhecidas. Eu tenho frequentemente desejado, e agora desejo que esses homens instruídos e piedosos que superam outros em erudição e julgamento, constituíssem uma assembleia em um lugar conveniente, onde se realizasse uma consulta mútua, e comparando as suas opiniões, eles poderiam discutir todas as principais doutrinas da igreja…. Nossos adversários estão agora organizando o seu concílio em Trento, no qual eles podem estabelecer os seus erros. E devemos nós negligenciar convocar um sínodo piedoso que nos possibilite refutar os erros deles, e purificar e propagar a verdadeira doutrina?” (Thomas Cranmer to Calvin, “Letter,” John Calvin Collection, (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 1998), 16).

[28]Cranmer era teólogo e estadista; a sua preocupação com Trento era pertinente e a história já demonstrou amplamente esse fato.

Os jesuítas foram a força motriz do Concílio de Trento, sendo de fato os teólogos do Papa. Como os bispos geralmente não dispunham de grande conhecimento teológico, mesmo titulados em Direito Canônico, eles se valiam de teólogos – em geral pertencentes às ordens religiosas –, que os assessoravam, sendo alguns teólogos enviados diretamente pelo Papa. É nessa condição, de modo especial, que destacam-se os jesuítas, entre eles, Diego Lainez (1512-1565), Afonso Salmerón (1515-1585) – estes dois sugeridos por Loyola –, Claude Le Jay (1504-1552), Pedro Canísio (1521-1597) e Otto von Truchsess (1514-1573), que passaram, alguns deles, a desempenhar no Concílio um “papel teológico de primeira linha” (Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo, org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo: Paulus, 1995, p. 332).

[29]Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980, p. 132-133.

[30] João Calvino, As Pastorais, (Tt 1.5), p. 306.

[31]John MacArthur, Jr., Princípios para uma Cosmovisão bíblica, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003, p. 53.

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