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O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Confrontos – Alguns apontamentos (27) - Hermisten Maia

O Pensamento Grego e a Igreja Cristã: Encontros e Confrontos – Alguns apontamentos (27)

5.1.3. A Sabedoria do Espírito em nossa cotidianidade (Continuação)

Como escreveu Pearcey: “A questão importante é o que aceitamos como premissas básicas, pois são elas que moldam tudo o que vem depois”.[1] Há o perigo de, sem nos darmos conta, formar a nossa cosmovisão baseados em um mosaico de peças promíscuas, contraditórias e excludentes.[2]

O homem não é a medida de todas as coisas como queria Protágoras (c. 480-410 a.C.)[3] e os Renascentistas ao revisitarem a sua frase.[4] No entanto, isto não significa a admissão de falta de um referencial, antes, na afirmação de que Jesus Cristo é a medida, o cânon da verdade e, portanto, de toda avaliação que fizermos da realidade que nos circunda.

Os bereanos tinham um padrão de verdade. Eles criam na sua existência e acessibilidade. Examinaram o que Paulo dizia à luz das Escrituras, ou seja: o Antigo Testamento. Se não tivermos um referencial teórico claro, como poderemos analisar de modo coerente a realidade? Sem referências, tudo é possível dentro de um quadro interpretativo forjado conforme as circunstâncias e meus interesses. Todo absoluto envolve antíteses.

Talvez, mesmo para nós cristãos, esteja faltando hoje, ainda que não de hoje, um pensamento cristão,uma mente cativa a Cristo que nos propicie o desenvolvimento de uma cosmovisão cristã.[5]

Cosmovisão é um compromisso de fé e prática. Por isso, o nosso trabalho pastoral consiste na aplicação de nossa fé – criticamente avaliada a partir das Escrituras – às condições concretas de nossa existência. A fé é chamada a se materializar nos desafios que se configuram diante de nós em nossa história de vida. E, como diz Lloyd-Jones (1899-1981): “A fé cristã não é algo que se manifeste à superfície da vida de um homem, não é meramente uma espécie de camada de verniz. Não, mas é algo que está sucedendo no âmago mesmo de sua personalidade”.[6]

Por conseguinte, o ministério pastoral é um serviço que prestamos a Deus por meio da igreja, do povo que Ele mesmo nos concedeu o privilégio de pastorear. Em fidelidade a nossa vocação não podemos perder de vista o nosso propósito: servimos a Deus dentro de nossas limitações e expectativas. A graça de Deus tão necessária é abundante e, por isso, suficiente.

     Tomemos a orientação de Paulo: “Pondera (noe/w) (= atentar, compreender, pensar, entender) o que acabo de dizer, porque o Senhor (ku/rioj) te dará compreensão (su/nesij) (= entendimento, inteligência, discernimento) em todas as coisas” (2Tm 2.7).

O que Paulo instrui a Timóteo é no sentido de que ele reflita sobre o que o Apóstolo lhe escreveu buscando a compreensão no Senhor. Pensamento e oração caminham juntos. “Um ministro que ora está no caminho de ter um ministério bem sucedido”.[7] Contrariamente, a ausência de oração determinará de forma trágica a morte de toda a sua vitalidade espiritual.[8]

A piedade e sua praticidade

Não podemos excluir Deus de nossas pesquisas. A piedade para tudo é proveitosa (1Tm 4.8). Não permitamos que a nossa fé nos afaste de uma pesquisa séria.[9] A nossa fé deve ser o transpirar de nossa teologia. “A fé cristã não é uma fé apática, uma fé de cérebros mortos, mas uma fé viva, inquiridora. Como Anselmo afirmou, a nossa fé é uma fé que busca entendimento”, resume Craig.[10]

A nossa fé nunca pode ser algo ocioso.[11] Devemos, portanto, pensar sobre o pensar rogando a Deus a sua iluminação. As nossas mãos devem ser agentes daquilo que, por graça temos percebido. Deus mesmo, por graça, nos dará o discernimento sobre todas as coisas. Pense sobre isso. Ore, persevere em orar a respeito.  Aos ministros de modo especial: Pregue a Palavra com fidelidade, profundidade, integridade e simplicidade.[12] Cumpra a sua vocação. Ouça o Espírito falando por meio da sua Palavra. Viva esta Palavra. Ensine à Igreja a Palavra do Espírito. Assim Deus será glorificado. Ele mesmo, o Senhor da Glória, haverá de abençoá-los suprindo todas e cada uma de suas necessidades.

São Paulo, 27 de novembro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, p. 44.

[2]Veja-se: Nancy Pearcey, Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, p. 48.

[3]Apud Platão, Teeteto, 152a: In: Teeteto-Crátilo, 2. ed. Belém: Universidade Federal do Pará, 1988, p 15. Citado também em Platão, Crátilo, 385e. Aristóteles, diz: “O princípio (…) expresso por Protágoras, que afirmava ser o homem a medida de todas as coisas (…) outra coisa não é senão que aquilo que parece a cada um também o é certamente. Mas, se isto é verdade, conclui-se que a mesma cousa é e não é ao mesmo tempo e que é boa e má ao mesmo tempo, e, assim, desta maneira, reúne em si todos os opostos, porque amiúde uma cousa parece bela a uns e feia a outros, e deve valer como medida o que parece a cada um” (Metafísica, XI, 6. 1 062. Veja-se também, Platão, Eutidemo, 286). Platão diferentemente de Protágoras, entendia que a medida de todas as coisas estava em Deus. “Aos nossos olhos a divindade será ‘a medida de todas as coisas’ no mais alto grau” (Platão, As Leis, Bauru, SP.: EDIPRO, 1999, IV, 716c. p. 189).

[4] “Vivemos em uma cultura que procura nos convencer de que o homem é a medida de todas as coisas ‒ cada um é o próprio capitão de seu destino e o senhor de sua alma” (W. G. Tullian Tchividjian, Fora de Moda, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 44).

[5] “Nossas igrejas estão cheias de pessoas que são espiritualmente nascidas de novo, mas que ainda pensam como não cristãs” (William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 14).

[6] David M. Lloyd-Jones, Estudos no Sermão do Monte, São Paulo: Editora Fiel, 1984, p. 89.

[7] John Shaw, The Character of a Pastor According to God’s Considered, Morgan, Pa.: Soli Deo Gloria, 1992, p. 10. Apud Alistair Begg, Pregando para a Glória de Deus, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2014, p. 63.

[8] “A oração é a conversa da alma com Deus. (…) Um homem sem oração é necessária e totalmente irreligioso. Não pode haver vida sem atividade. Assim como o corpo está morto quando cessa sua atividade, assim a alma que não se dirige em suas ações a Deus, que vive como se não houvesse Deus, está espiritualmente morta” (Charles Hodge, Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans,1976 (Reprinted),v. 3, p. 692).

[9] “Torne sua vida ‒ especialmente sua vida de estudos ‒ uma vida de constante comunhão com Deus em oração. O aroma de Deus não permanece por muito tempo sobre uma pessoa que não se demora em sua presença (…). Somos chamados ao ministério da Palavra e da oração, porque sem oração o Deus de nossos estudos será o Deus que não assusta, que não inspira, oriundo de uma prática acadêmica ardilosa” (John Piper, A Supremacia de Deus na Pregação, São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 57).

[10]William L. Craig, Apologética Cristã para Questões difíceis da vida, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 29. De igual modo: Garrett J. DeWeese; J.P. Moreland, Filosofia Concisa, São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 158.

[11]Veja-se: João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 134.

[12] “O uso de uma linguagem mais difícil pode ser a forma correta em determinadas situações, mas não é a forma correta na pregação. Pregações são feitas verbalmente. Têm como objetivo o ser compreendido. Se, ocasionalmente, é necessário o uso de palavras incomuns, elas são explicadas. Pregadores que não usam palavras do dia-a-dia em suas mensagens não estão ministrando como o seu Mestre” (Stuart Olyot, Ministrando como o Mestre: Aprendendo com os métodos de Jesus, São José dos Campos, SP.: Fiel, © 2005, 2010 (Reimpressão), p. 12). “A pregação de hoje deve ser feita em uma linguagem de comunicação social; caso contrário, haverá um obstáculo ao entendimento” (Francis A. Schaeffer, A Arte e a Bíblia, Viçosa, MG.: Editora Ultimato, 2010, p. 63).

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