O Espírito, o Natal e a Ressurreição
O Espírito Santo esteve presente e atuante em todo o Ministério terreno de Cristo (Veja-se: At 10.38-39), sendo Ele mesmo Quem revelou aos profetas o nascimento e obra do Messias (Is 53.1-12/1Pe 1.10-12/2Pe 1.21) e pregou a mensagem de arrependimento por meio de Noé (1Pe 3.18-19/2Pe 2.5). O Espírito, como dizia Basílio (330-379), era o companheiro inseparável do Filho em todos os seus atos; vida e morte. Na vida de Cristo não há alusão nem evidência de um crescimento da presença e direção do Espírito. Em Cristo vemos a plenitude do Espírito (Is 11.1ss; 42.1ss; 61.1ss). Nele, temos, pela primeira vez, a manifestação do poder do Espírito da “nova aliança” de forma completa e perfeita.
1. No seu nascimento (Mt 1.18,20; Lc 1.35)
O nascimento de Cristo foi uma obra sobrenatural do Espírito Santo. Ele veio sobre Maria a revestindo com o Seu poder preservador. O Espírito formou o corpo e qualificou a alma de Cristo para a sua obra. Este é um dos mistérios insondáveis da Palavra de Deus; no entanto, é este fato – miraculoso e incompreensível às nossas mentes finitas –, que dá sentido a todo o Novo Testamento. O Logos eterno tomou uma natureza humana naturalmente incapaz de qualquer ação santa sem o poder do Espírito Santo; daí a necessidade da ação santificadora e preservadora do Espírito. Na encarnação, o Espírito preservou a Jesus Cristo da mancha do pecado original que é a herança de todo ser humano, fazendo com que Ele tivesse uma natureza imaculada. O Espírito conservou a santidade e a impecabilidade daquele que nasceria. Se assim não fosse, Cristo não poderia se oferecer pelo Seu povo, apresentando um perfeito sacrifício vicário, sem mácula e de valor eterno (2Co 5.21; Hb 7.26,27; 1Pe 1.18-21; 3.18).
2. No seu batismo
No batismo não houve nenhuma mudança metafísica no ser de Cristo, nem Ele passou a ter uma relação nova com o Pai; entretanto, neste ato histórico, vemos a manifestação da Trindade num só propósito: a salvação do Seu povo.
Jesus Cristo foi ungido desde toda a eternidade; há referências no Antigo Testamento que falam da Sua habitação do Espírito, indicando desta forma, a sua unção, a sua capacitação eterna para o cumprimento da sua obra (Is 11.2; 42.1; 61.1). Todavia, historicamente, Ele foi ungido por ocasião da geração e santificação do “Filho de Deus” em Maria (Lc 1.35) e, também, no batismo (Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.22; Jo 1.32; 3.34; At 10.38). A demonstração histórica foi a representação visível, no tempo, daquilo que é eterno. Jesus, o Cristo, esteve eternamente capacitado para ser o Salvador dos eleitos; e agora, encarnado recebe esta confirmação do Pai e do Espírito: a salvação é obra da Trindade; por isso, todas as três Pessoas estão empenhadas na execução deste Pacto salvador. O Filho se dispõe a salvar o Seu povo – assumindo a forma de servo até à morte (Fp 2.5-11) –, o Espírito O fortalece e o Pai manifesta verbalmente a Sua aprovação e prazer. (Cf. Lc 4.16-21).
3. Na sua tentação (Lc 4.1,14)
O Espírito guiou [“impeliu” (Mc 1.12)] Jesus ao deserto para ser tentado, permanecendo com Ele durante todos os quarenta dias (Lc 4.1,2). O relato de Lucas nos dá entender que Jesus foi tentado desde a sua chegada. A tentação faz parte do seu amadurecimento para o Ministério que o Pai lhe confiara. O primeiro Adão sucumbiu à tentação, desobedecendo a Deus; Jesus Cristo, o último Adão deve ser tentado para poder levar sobre Si o pecado dos eleitos. A tentação foi crucial para o seu Ministério. Se Cristo não vencesse o presunçoso tentador, jamais poderia ser o Salvador daqueles que estavam sob o “domínio” de Satanás. É relevante observar, que o seu ministério público teve início após este episódio, começando com um sermão (Lc 4.16-21/Is 61.1-2).
4. No seu confronto com Satanás
Jesus realizou milagres no poder do Espírito. O Reino de Deus é o Reino de Cristo – o governo triunfante de Cristo sobre todas as coisas, visíveis e invisíveis – e, este Reino se faz presente por meio da obra de Cristo, libertando os homens do domínio de Satanás e dos poderes do mal, desmantelando a cidadela de Satanás (Mt 12.28,29). O pavor dos demônios diante de Cristo, aponta para o fato da chegada poderosa e vitoriosa do Reino (Mt 8.29). Falar no Reino é apontar para a concretização do propósito de Deus em Cristo, libertando os homens do poder de satanás, conduzindo-os à liberdade concedida por Cristo, o Senhor.
5. Na sua obra sacrificial
A obra sacrificial de Cristo foi cumprida de forma completa e com o sentimento adequado pela operação do Espírito (Hb 9.14). Cristo, em total harmonia com o Espírito, se ofereceu a si mesmo, tendo plena consciência das implicações dessa oferta: a dor, a vergonha, a humilhação, o peso da ira de Deus, o abandono. Ele sabia que a cruz era a Sua rota obrigatória. Os seus sofrimentos foram as dores do parto do nosso novo nascimento. Jamais poderemos avaliar corretamente a profundidade e a extensão dos seus sofrimentos. No entanto, em todo o seu sofrimento, Ele pôde usufruir do consolo do Espírito que sempre estivera plenamente nele.
O Espírito que esteve em Cristo durante todo o Seu Ministério terreno, O capacitou a apresentar-se voluntariamente (Gl 1.4/Jo 10.11,15,17,18) como sacerdote e vítima: o ofertante e a oferta – para resgatar os Seus (Hb 9.23-28).
6. Na sua ressurreição
O NT. declara que a ressurreição de Cristo foi obra do Trino Deus: Obra do Pai (Gl 1.1; Ef 1.17-20), do Filho (Jo 2.18-22; 10.17,18) e do Espírito Santo (1Pe 3.18/Rm 8.11). O mesmo Espírito que gerou em Maria a Pessoa Divino-Humana de Cristo, O acompanhando e fortalecendo em todo o Seu Ministério, agiu decisivamente em Sua ressurreição, a qual assinala a vitória de Deus sobre o pecado, a morte e Satanás. O Espírito que atuou em Cristo no Seu estado de humilhação é o mesmo na Sua exaltação.
Concluindo, observamos que o Ministério de Cristo foi marcado pela plenitude do Espírito (Jo 3.34/Lc 4.14). Ele foi guiado, apoiado e consolado em cada etapa de seu ministério.
Por ocasião do Natal, glorifiquemos ao Deus Triúno, que esteve totalmente envolvido nesse Evento e continua atuante na aplicação de seus efeitos na vida da humanidade.
São Paulo, 15/16 de dezembro de 2018.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
Os textos tem como sempre mostrado erudiçâo e devoção maravilhosas. Deus muito abençoe. No curso de Simbolos de Fe que darei proximo. Ano penso em utilizar os seus artigos