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O Choro Bem-Aventurado: Uma emoção Contracultural (Mt 5.4) (6) - Hermisten Maia

O Choro Bem-Aventurado: Uma emoção Contracultural (Mt 5.4) (6)

 

9) Uma mulher pecadora, talvez prostituta, arrependida de seus pecados, valendo-se de um misto de coragem e humildade, vai a um jantar para o qual não fora convidada, não para se alimentar, antes, para ungir os pés de Jesus sob forte emoção:

36 Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. 37 E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; 38 e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. 39 Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. 40 Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. 41 Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. 42 Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? 43 Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. 44 E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. 45 Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. 46 Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. 47 Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. 48 Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. (Lc 7.36-48).

  3) Saudade

1) José, movido por vários sentimentos, inclusive saudade, quando reencontra seu irmão, Benjamin, se emociona e chora:

29Levantando José os olhos, viu a Benjamim, seu irmão, filho de sua mãe, e disse: É este o vosso irmão mais novo, de quem me falastes? E acrescentou: Deus te conceda graça, meu filho. 30 José se apressou e procurou onde chorar, porque se movera no seu íntimo, para com seu irmão; entrou na câmara e chorou ali. 31 Depois, lavou o rosto e saiu; conteve-se e disse: Servi a refeição. (Gn 43.29-31).

 

Em outra ocasião, diante do temor de seus irmãos de que se vingasse da maldade que lhe fizeram, José chora novamente:

 

15 Vendo os irmãos de José que seu pai já era morto, disseram: É o caso de José nos perseguir e nos retribuir certamente o mal todo que lhe fizemos. 16 Portanto, mandaram dizer a José: Teu pai ordenou, antes da sua morte, dizendo: 17 Assim direis a José: Perdoa, pois, a transgressão de teus irmãos e o seu pecado, porque te fizeram mal; agora, pois, te rogamos que perdoes a transgressão dos servos do Deus de teu pai. José chorou enquanto lhe falavam. (Gn 50.15-17).

 

 2) Jesus Cristo, no processo de despedida de seus discípulos, anunciou-lhes momentos de perseguição e dor. Ele mesmo se angustia ao falar do traidor: Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá” (Jo 13.21/Jo 11.33). Todas essas coisas, sem compreender bem o significado,[1] se junta na mente dos discípulos fazendo-os entristecer:

 

Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis. 2 Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus. 3 Isto farão porque não conhecem o Pai, nem a mim. 4 Ora, estas coisas vos tenho dito para que, quando a hora chegar, vos recordeis de que eu vo-las disse. Não vo-las disse desde o princípio, porque eu estava convosco. 5 Mas, agora, vou para junto daquele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais? 6 Pelo contrário, porque vos tenho dito estas coisas, a tristeza encheu o vosso coração. (Jo 16.1-6).

 

A partida de Cristo é motivo de alegria para o mundo e tristeza para a igreja. No entanto, os discípulos devem saber que eles nunca estarão sozinhos e que, quando ele retornar em glória, a alegria de toda a igreja será completa:

 

Em verdade, em verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará; vós ficareis tristes, mas a vossa tristeza se converterá em alegria. 21 A mulher, quando está para dar à luz, tem tristeza, porque a sua hora é chegada; mas, depois de nascido o menino, já não se lembra da aflição, pelo prazer que tem de ter nascido ao mundo um homem. 22 Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar. (Jo 16.20-22).

 

Neste contexto, talvez algumas horas depois, quando Jesus ora no Getsêmani, lemos:

 

40 Chegando ao lugar escolhido, Jesus lhes disse: Orai, para que não entreis em tentação. 41 Ele, por sua vez, se afastou, cerca de um tiro de pedra, e, de joelhos, orava, 42 dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua. 43 Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava. 44 E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra. 45 Levantando-se da oração, foi ter com os discípulos, e os achou dormindo de tristeza, 46 e disse-lhes: Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação. (Lc 22.40-46).

 

3) Paulo, quando se despede de diversos irmãos, declarando, ou deixando a entender pelo que podia deduzir, que eles nunca mais o veriam, gerava sempre tristeza pela saudade antecipada de um mestre e amigo.       Quando se despede dos presbíteros de Éfeso em Mileto, narra Lucas:

 

36 Tendo dito estas coisas, ajoelhando-se, orou com todos eles. 37Então, houve grande pranto entre todos, e, abraçando afetuosamente a Paulo, o beijavam, 38entristecidos especialmente pela palavra que ele dissera: que não mais veriam o seu rosto. E acompanharam-no até ao navio. (At 20.36-38).

 

Em Cesareia, o profeta Ágabo profetiza que Paulo seria preso em Jerusalém. Os irmãos alarmados tentam dissuadi-lo. O clima de tristeza e súplica para que Paulo não fosse à Jerusalém foi duro para ele. No entanto, manteve-se firme dentro do propósito que cria ser a vontade de Deus:

 

12 Quando ouvimos estas palavras, tanto nós como os daquele lugar, rogamos a Paulo que não subisse a Jerusalém. 13 Então, ele respondeu: Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus. 14Como, porém, não o persuadimos, conformados, dissemos: Faça-se a vontade do Senhor! (At 21.12-14).

 

 

Maringá, 01 de fevereiro de 2019.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

*Este artigo faz parte de uma série. Confira aqui a série completa.

 


[1]E eles, muitíssimo contristados, começaram um por um a perguntar-lhe: Porventura, sou eu, Senhor?” (Mt 26.22).

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