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Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões – Patrimônio Responsabilizador: Honremos nossos Pais – - Hermisten Maia

Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões – Patrimônio Responsabilizador: Honremos nossos Pais –

Este artigo é o primeiro de uma série de estudos. Acesse a série completa aqui.

 


 

A Bíblia é a Palavra de Deus ao homem; o Credo é a resposta do homem a Deus. A Bíblia revela a verdade em forma popular de vida e fato; o Credo declara a verdade em forma lógica de doutrina. A Bíblia é para ser crida e obedecida; o Credo é para ser professado e ensinado. – P. Schaff [1].

No Decálogo (…) Deus fala aos homens; na Oração do Senhor, o homem fala com Deus; no Credo, o homem fala com Deus e aos homens. – Herman Witsius [2].

O que temos de fazer é reconhecer que somos, muito mais do que reconhecemos, frágeis filhos da tradição, boa ou má, e precisamos aprender a questionar, à luz das Escrituras, aquilo que até aqui aceitamos sem perguntas. – J.I. Packer [3].

O mundo não funciona apenas com crenças. Mas dificilmente consegue funcionar sem elas. – Clifford Geertz [4].

Deus permitiu aos heréticos fustigarem sua Igreja exatamente para despertar a mente pelo conflito e para levá-la a buscar a Palavra de Deus. – Abraham Kuyper [5].

 

“Não devem os filhos entesourar (qhsauri/zw) (thsaurízõ) [6] para os pais, mas os pais, para os filhos” (2Co 12.14). Paulo entendia que como pai na fé dos crentes coríntios (1Co 4.14-15; 2Co 6.13 [7]; 1Co 3.6,10; 9.1) [8] deveria alimentá-los e fortalecê-los em sua fé. Esta analogia fala-nos, portanto, da responsabilidade do pastor em buscar o suprimento necessário, por intermédio da Palavra, para o progresso espiritual de seu rebanho. Por isso é que “a infidelidade ou negligência de um pastor é fatal à Igreja” [9].

Curiosamente, a nossa palavra patrimônio (Latim: patrimonium) está associada etimologicamente à palavra pai. Recebemos nosso patrimônio de nossos pais. De fato, de modo especial na infância, com raríssimas exceções, dificilmente podemos contribuir para o aumento dos bens de nossos pais; nós apenas os recebemos. No futuro, possivelmente nossos filhos receberão os nossos bens, muito ou pouco; contudo, certamente entesourados por nós e pelos nossos pais… Salomão, inspirado por Deus, escrevera: “A casa e os bens vêm como herança dos pais….” (Pv 19.14a). Também: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais” (Pv 22.28).

O designativo “Pais” foi aplicado aos bispos da Igreja no segundo século. A obra anônima, O Martírio de Policarpo, escrita por uma testemunha ocular do ocorrido, por volta do ano 155 AD, relata que “a turba pagã e judia desejando matar Policarpo, por ser cristão, vociferou: ‘Eis o doutor da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor dos deuses, que com seu ensino, afasta os homens dos sacrifícios e da adoração’” [10] (Destaque meu). Isto indica que na época era comum referir-se aos bispos cristãos como “Pais” (no sentido acima descrito, tinha uma conotação pejorativa, como “pai de uma heresia” ou “pai dos hereges”). O emprego dessa expressão disseminou-se de tal forma que, no quarto século, todos os pastores e mestres que haviam participado do Concílio de Nicéia (325), eram chamados de “Pais da Igreja” [11].

Entre os cristãos, a expressão aplicada aos bispos assume uma conotação carinhosa, indicando também a sua responsabilidade:

O conceito de ‘Padre da Igreja’ evidencia um aspecto da rica figura paterna: o bispo como autêntico transmissor e garante (sic) da verdadeira fé, aquele que vela pela sucessão ininterrupta da fé desde os apóstolos bem como pela continuidade e unidade da fé na comunhão com a igreja. Ele é o fiel mestre da fé, ao qual se pode recorrer nas dúvidas da fé. Essa autoridade na verdade não torna o Padre da Igreja individualmente inerrante em todos os pormenores – ele deve se ater à Sagrada Escritura e à regula fidei da igreja universal – mas, em sintonia com elas, ele é testemunha autêntica da fé e da doutrina da Igreja [12].

Etienne Gilson (1884-1978), seguindo uma compreensão clássica, diz que um “Pai” deveria apresentar quatro características: “ortodoxia doutrinal, santidade de vida, aprovação da Igreja, relativa Antiguidade (até fins do século III aproximadamente)” [13].

Curiosamente, na única carta escrita por Calvino a Lutero (25/01/1545), a qual este, ao que parece, jamais recebeu, Calvino se dirige a Lutero como “meu respeitadíssimo pai”, “respeitadíssimo pai no Senhor” e “meu pai sempre honorável” [14].

Os documentos da Igreja que recebemos, não são infalíveis (nem mesmo naquilo que é consensual), nem jamais pretenderam isso; contudo, são os tesouros históricos e teológicos que nos foram legados. A sua autoridade é relativa [15]. No entanto, a Igreja não pode sobreviver sem a consciência de seu passado, de suas lutas, dificuldades, fracassos e, certamente, por graça, de suas vitórias. Esta consciência deve gerar em nós um espírito de gratidão, humildade e desafio diante da magnitude da Revelação de Deus.

Muitas vezes em nossas lutas presentes somos terrivelmente dominados pela sensação delas serem únicas ou as mais violentas. A história de nossos pais pode ser fonte de grande estímulo, consolo e alerta para nós. Por meio da história de sua vida e testemunho podemos descobrir – às vezes para vergonha nossa –, o quanto nossos irmãos do passado lutaram bravamente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos e da qual somos herdeiros. O nosso presente tende a assumir dentro de alguns contextos o caráter de onipresença, como se fosse um presente contínuo [16], assim, pensamos estar sozinhos em nossa empreitada, nos esquecendo da ação abençoadora e preservadora de Deus ao longo da história que, hoje, cabe ser escrita por nós.

Crer no Deus Triúno é uma declaração de que não estamos sozinhos; o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão conosco; Deus veio a nós criando a nossa fé [17]. E mais: todos estamos irmanados pela mesma fé ao longo da história. O Deus em quem cremos é o meu Deus e o Deus de muitíssimos irmãos que ao longo da história têm vivenciado e testemunhado a mesma fé.

Veith escreve com propriedade:

Os cristãos modernos são os herdeiros de uma grande tradição intelectual cristã. Essa tradição de pensamento ativo e solução prática de problemas é uma aliada vital dos cristãos que lutam contra as tendências intelectuais do mundo contemporâneo. O uso das perspectivas do passado pode fornecer uma perspectiva valiosa sobre as questões atuais. Podemos, assim, livrar-nos da tirania do presente, a suposição de que a maneira que as pessoas pensam hoje é o único modo possível de pensar [18].

Na Reforma Protestante do século XVI, o uso de Catecismos e Confissões foi de grande valia para a educação dos crentes, partindo sempre do princípio da necessidade da fé explícita, de que todos os cristãos devem conhecer a sua fé, sabendo no que creem e porque creem. No Brasil, quando o presbiterianismo foi iniciado (1860) [19], o ensino dos símbolos de Westminster teve papel decisivo na consolidação de sua identidade como Igreja Reformada.

Hoje, em nome de um suposto “pluralismo” pretensamente acadêmico, o que podemos perceber, é um enfraquecimento desta ênfase, mesmo nos Seminários ditos Reformados, acarretando um desfiguramento doutrinário por parte de muitos de seus pastores e, consequentemente, dos membros da igreja. Por trás de todo pluralismo há o mito da neutralidade acadêmica [20], como se fosse possível alguém ensinar sem seus pressupostos que conduzem a sua perspectiva da realidade.

O conhecimento, seja em que nível for, não ocorre num vácuo asséptico conceitual quer seja religioso, quer filosófico, quer cultural [21]. A nossa percepção e ação fundamentam-se em nossos pressupostos [22], os quais são reforçados, transformados, lapidados, ou abandonados em prol de outros, conforme a nossa percepção dos “fatos”. Os pressupostos, com toda a complexidade inerente, se constituem na janela (quadro de referência) por meio da qual vejo a realidade; o difícil é identificar a nossa janela, ainda que sem ela nada enxerguemos [23]. Assim, falar sobre a nossa cosmovisão[24], além de ser difícil verbalizá-la, é paradoxalmente desnecessário. Parece que há um pacto involuntário de silêncio o qual aponta para um suposto conhecimento comum: todos sabemos a nossa cosmovisão. Deste modo, só falamos, se falamos e quando falamos de nossa cosmovisão, é para os outros, os estranhos, não iniciados em nossa forma de pensar.

Sire resume bem isso:

Uma cosmovisão é composta de um conjunto de pressuposições básicas, mais ou menos consistentes umas com as outras, mais ou menos verdadeiras. Em geral, não costumam ser questionadas por nós mesmos, raramente ou nunca são mencionadas por nossos amigos, e são apenas lembradas quando somos desafiados por um estrangeiro de outro universo ideológico.[25]

Tenho observado que se você sustentar uma posição teológica “histórica”, independentemente de sua tradição e de sua argumentação, ela tenderá a ser considerada radical e limitada. Contudo, se você simplesmente se limitar a fazer críticas às tradições teológicas, valendo-se de clichês repetidos e mesmo já abandonados, sem propor nenhuma alternativa bíblica e historicamente viáveis, você será considerado um intelectual profundo, com grande argúcia e capacidade crítica. Talvez até ouça a seu respeito: “aquele cara é meio liberal, mas, é uma capacidade; ele nos faz pensar…”. Esta é uma das falácias do chamado “academicismo” moderno.

A epistemologia antecede à lógica e esta, por mais coerente que seja, se partir de uma premissa equivocada nos conduzirá a conclusões erradas e, portanto, a uma ética com fundamentos duvidosos e inconsistentes. Indo um pouco além, porém, significativamente longe, devemos afirmar com Sire, que a ontologia antecede à epistemologia [26]. Antes do conhecer, há o ser. Se houver um conhecimento universal, porém, equivocado, isso não mudará a essência da coisa. Se todos negassem a existência de Deus, isso não mudaria o fato de Deus ser o que é. O meu conhecimento, certo ou errado, muda a minha relação com o real, porém, não a essência da coisa.

Deve ser dito também que toda verdade é lógica, no entanto, por algo nos parecer lógico, não significa que seja verdadeiro. Portanto, a questão epistemológica antecede à práxis e em grande parte a determina. “Uma cosmovisão contém as respostas de uma dada pessoa às questões principais da vida, quase todas com significante conteúdo filosófico. É a infraestrutura conceitual, padrões ou arranjos das crenças dessa pessoa” [27].

Contudo, como nos aprofundar no campo intelectual se abandonamos as questões epistemológicas? As palavras de Machen (1881-1937) no início do século XX não se tornam ainda mais eloquentes nos dias de hoje?: “A igreja está hoje perecendo por falta de pensamento, não por excesso do mesmo” [28].

No início do século XIX, ouvia-se o clamor de determinados grupos independentes nos Estados Unidos, que diziam o seguinte: “Nenhum credo senão a Bíblia” [29]. Atitude similar ainda hoje é observada em grupos ou pessoas, dentro de denominações chamadas históricas, que manifestam de forma clara o seu desprezo para com os Credos da Igreja ou, de modo velado, não se interessando por eles, como se os Credos fossem apenas uma série de pronunciamentos antiquados, sem nenhuma relevância para a igreja contemporânea ou como se eles pretendessem se constituir numa declaração de fé que rivalizasse com as Escrituras Sagradas, devendo, portanto, ser rejeitados por não estarem de acordo com o espírito da Reforma que, corretamente, enfatizou “Sola Scriptura”.

Quando tratamos deste tema, as questões que logo vêm à baila são: Estariam tais grupos ou pessoas errados? Por outro lado, as denominações que têm as suas Confissões de Fé estariam incorrendo em erros? Neste caso, os Credos e as Confissões não estariam sendo colocados no mesmo nível das Escrituras, contrariando, assim, um dos princípios da Reforma, que diz: “Sola Scriptura”?

Tais questões parecem-nos de grande relevância e pertinência; cremos poder respondê-las ao longo dos possíveis sucessivos textos; todavia, consideramos oportuno realçar preliminarmente, que “Lutero e os reformadores não queriam dizer por Sola Scriptura que a Bíblia é a única autoridade da igreja. Pelo contrário, queriam dizer que a Bíblia é a única autoridade infalível dentro da Igreja” [30].

A autoridade dos Credos era indiscutivelmente considerada pelos reformadores – tendo inclusive Lutero e Calvino elaborado Catecismos para a Igreja –; contudo, somente as Escrituras são incondicionalmente autoritativas. Um juízo adequado envolve a justa medida; portanto, nem subestimar, nem superestimar. Por isso, os documentos da Igreja devem ser lidos com reverência e proveito dentro dos limites de sua riqueza e falibilidade [31].

Ao iniciar este estudo devemos fazê-lo com espírito de gratidão, tendo como desafio nos apropriar das contribuições de nossos pais (tradição) e, em submissão ao mesmo Espírito, partindo das Escrituras e deste patrimônio riquíssimo buscar respostas para as indagações e questionamentos contemporâneos.

“Ouvimos, ó Deus, com os nossos próprios ouvidos: Nossos pais nos têm contado….” (Sl 44.1). Como bons filhos devemos atender ao Mandamento de Deus honrando os nossos Pais.

São Paulo, 13/14 de novembro de 2018.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


 

[1] P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. revised and enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1977, v. 2, p. 3.

[2] Herman Witsius, Sacred Dissertations on The Apostles’ Creeds, Escondido, California: The den Dulk Christian Foundation, 1993 (Reprinted), v. 1, p. 15.

[3] J.I. Packer, O Conforto do Conservadorismo: In: Michael Horton, ed. Religião de Poder, São Paulo: Cultura Cristã, 1998, p. 236.

[4] Clifford Geertz, Nova Luz Sobre a Antropologia, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001, p. 155.

[5] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 57.

[6] *Mt 6.19,20; Lc 12.21; Rm 2.5; 1Co 16.2; 2Co 12.14; Tg 5.3; 2Pe 3.7. Para um estudo pormenorizado da palavra, vejam-se: F. Hauck, qesauro/j: In: G. Friedrich; Gerhard Kittel, eds. Theological Dictionary of the New Testament, 8. ed. Grand Rapids, Michigan: WM. B. Eerdmans Publishing Co., (reprinted) 1982, v. 3, p. 136-138; J. Eichler; C. Brown, Posses: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 3, p. 590-597.

[7] “14 Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados. 15 Porque, ainda que tivésseis milhares de preceptores (paidagwgo/j) em Cristo, não teríeis, contudo, muitos pais (path/r); pois eu, pelo evangelho, vos gerei (genna/w) em Cristo Jesus” (1Co 4.14-15). “Ora, como justa retribuição (falo-vos como a filhos (te/knon)), dilatai-vos também vós” (2Co 6.13).

[8] Irineu (c. 120-202) usa a mesma expressão, dizendo: “Quem foi instruído por outro por meio da palavra é chamado filho de quem o instruiu e este pai daquele” (Irineu, Irineu de Lião, São Paulo: Paulus, 1995, IV.41.2. p. 513). Do mesmo modo Agostinho (Veja-se: Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, 1997, v. 1, (Sl 44), p. 768). Vejam-se outras referências ao emprego da expressão in: A. Hamman, Pai (Padre) – Padres da Igreja: In: Ângelo Di Berardino, org. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs, Petrópolis, RJ.; São Paulo: Vozes; Paulinas, 2002, p. 1059-1060; B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 18-20.

[9] João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.16), p. 126.

[10] O Martírio de Policarpo, XII.2. In: H. Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE., 1967, p. 39. Para um estudo crítico deste documento, inclusive no que se refere à data do martírio, veja-se: J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 2. ed. Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers. © 1989, v. 1, p. 646-722. Para uma visão abreviada desta discussão, ver: J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 10. ed. Grand Rapids, Michigan: Baker, 1978, p. 103-106.

[11] Agostinho (354-430) parece ter sido o primeiro a ampliar o conceito, incluindo São Jerônimo, um presbítero, entre os Pais (Cf. B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 19). Seguindo o exemplo de Agostinho, Vicente de Lérins em 434, aplicou o termo Pai a diversos escritores eclesiásticos sem nenhuma distinção hierárquica. (Ver: Vicente de Lérins, Commonitorium, 31 e 33. In: Philip Schaff; Henry Wace, eds. Nicene and Post-Nicene Fathers of Christian Church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (reprinted). (Second Series), 1978, v. 11, p. 155 e 156).

[12] Hubertus R. Drobner, Manual de Patrologia, Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 11-12.

[13] E. Gilson, A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1995, “Introdução”, p. XXI. Do mesmo modo: Hubertus R. Drobner, Manual de Patrologia, p. 12; B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, p. 20.

[14] João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 53 e 54. Ambos jamais se encontraram. Lutero leu, pelo menos, as primeiras obras de Calvino. Em 14 de outubro de 1539, quando Calvino estava em Estrasburgo, Lutero escreveu a Martin Bucer (1491-1551). Referindo-se aos escritos de Calvino, disse: “Tenho lido (seus livros) com singular prazer” (Citado em: Philip Schaff, History of the Christian Church, Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1996, v. 8, p. 272).

[15] Vejam-se: Confissão Gaulesa, Cap. V; François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 228-234 (com valiosos documentos); Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 13.

[16] Dentro de outro contexto e abordagem, o historiador britânico contemporâneo, Eric Hobsbawn (1917-2012), num de seus livros, analisando a nossa presente era, diz que “quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem” (A Era dos Extremos, São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 13).

[17] Veja-se: Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 16-17.

[18] Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 97.

[19] Como sabemos o Presbiterianismo brasileiro comemora o seu aniversário em 12 de agosto, tendo como marco a chegada de Ashbel G. Simonton (1833-1867) no Rio de Janeiro, em 12/08/1859. Todavia, usei o ano de 1860, não com o intuito de polemizar a respeito – aliás, porque considero de inteira irrelevância uma discussão deste tipo –, mas sim, porque foi em 22/04/1860 que ele começou uma Escola Dominical em sua casa, sendo este o seu primeiro trabalho evangélico realizado em português. O nosso sistema não é episcopal que entende que onde está o bispo está a Igreja… (Veja-se: mais detalhes in Hermisten M.P. Costa, Os Primó

[20] A “neutralidade” é impossível tal qual a “objetividade” completa, no entanto, deve ser buscada. Gilberto Freyre expressou bem isto, ao dizer: “A perfeição objetiva nas Ciências do homem ou nos Estudos Sociais talvez não exista. Mas o afã de objetividade pode existir. É a marca do historiador intelectualmente honesto. E sua ausência, o sinal do intelectualismo desonesto” (Gilberto Freyre, na Apresentação da obra de Davi Gueiros Vieira, O Protestantismo, A Maç

[21] Nancy R. Pearcey; Charles B. Thaxton, A Alma da Ciência, São Paulo: Cultura Cristã, 2005, p. 9-12; 294.

[22] As pressuposições ainda determinam nossos destinos, mesmo a despeito de alguma inconsistência no caminho” (R.K. McGregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 15). Dito de forma poética: “Com as ideias, pois, vemos as coisas e na atitude natural da mente não nos damos conta daquelas, do mesmo modo que o olho, ao olhar não se vê a si mesmo. Dito de outro modo, pensar é o afã de captar mediante ideias a realidade; o movimento espontâneo da mente vai dos conceitos ao mundo” (José Ortega y Gasset, A Desumanização da Arte, 6. ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 64).

[23] “Seria atenuar os fatos dizer que a cosmovisão ou visão de mundo é um tópico importante. Diria que compreender como são formadas as cosmovisões e como guiam ou limitam o pensamento é o passo essencial para entender tudo o mais. Compreender isso é algo como tentar ver o cristalino do próprio olho. Em geral, não vemos nossa própria cosmovisão, mas vemos tudo olhando por ela. Em outras palavras, é a janela pela qual percebemos o mundo e determinamos, quase sempre subconscientemente, o que é real e importante, ou irreal e sem importância” (Phillip E. Johnson no Prefácio à obra de Nancy Pearcey, A Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de Seu Cativeiro Cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2006, p. 11).

[24] “Em essência, é um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou inteiramente falsas) que sustentamos (consciente ou inconscientemente, consistente ou inconsistentemente) sobre a formação básica do nosso mundo” (James W. Sire, O Universo ao Lado, São Paulo: Hagnos, 2004, p. 21).

[25] James W. Sire, O Universo ao Lado, São Paulo: Hagnos, 2004, p. 21-22.

[26] James W. Sire, Dando nome ao elefante: Cosmovisão como um conceito, Brasília, DF.: Monergismo, 2012, p. 77-109.

[27] Ronald H. Nash, Questões Últimas da Vida: uma introdução à Filosofia, p. 13. “Modo pelo qual a pessoa vê ou interpreta a realidade. (…) É a estrutura por meio da qual a pessoa entende os dados da vida. Uma cosmovisão influencia muito a maneira em que a pessoa vê Deus, origens, mal, natureza humana, valores e destino” (Cosmovisão: Norman Geisler, Enciclopédia de Apologética: respostas aos críticos da fé cristã, São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 188).

[28] J.G. Machen, Cristianismo y Cultura, Barcelona: Asociación Cultural de Estudios de la Literatura Reformada, 1974, p. 19.

[29] Cf. M.A. Noll, Confissões de Fé: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1988-1990, v. 1, p. 340. Este tipo de declaração também tornou-se comum pelo menos, no início do século XX, quando alguns fundamentalistas além de repetirem a afirmação supra, também bradavam: “Nenhum ‘CREDO’, senão Cristo” (Vejam-se:. R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo: La Santa Iglesia, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 100; L. Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., c. 1973, p. 22; Gordon H. Clark, Em Defesa da Teologia, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 41). Entre o final dos anos 50 e início dos anos 60, Lloyd-Jones disse com tristeza: “No presente século há marcante aversão por credos, confissões e por definições precisas. O cristianismo tornou-se um vago e indefinido espírito de boa vontade e filantropia” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1994, p. 213). Como nos chama a atenção Dabney, tais pessoas deveriam rejeitar também a pregação, visto que somente os autógrafos originais foram inspirados, não as traduções (Veja-se: Robert L. Dabney, The Doctrinal Contents of the Confession: its Fundamental and Regulative ideas and the necessity and Value of Creeds, Greenville, South Carolina: Greenvile Presbyterian Theological Seminary, 1993 (Reprinted), p. 17). Também, não deveríamos cantar: “Cantar hinos é da mesma forma uma recitação em conjunto com música; e nenhum hino de que me recordo contém tanta teologia sã, de modo tão coerente, cláusula por cláusula, quanto os Credos apostólico ou niceno” (Carl R. Trueman, O imperativo confessional, Brasília, DF.: Editora Monergismo, 2012, p. 210).

[30] R. C. Sproul, Sola Scriptura: Crucial ao Evangelicalismo: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 122.

[31] Veja-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 234.

 

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