Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (33) – A Igreja Presbiteriana do Brasil e os Símbolos de Fé (6)
Licenciatura e Ordenação
Retomando a nossa linha principal, destacamos que após a Licenciatura de Carvalhosa, Torres e Trajano, o Presbitério do Rio de Janeiro decide que os referidos Licenciados se preparem para a próxima reunião do Presbitério (1871) com vistas à sua Ordenação ao Sagrado Ministério, estudando os capítulos 1 a 14 da Confissão de Fé (Westminster), a fim de serem “examinados minuciosamente”. Recomendou-se também que os candidatos “estudassem particularmente sobre estes assuntos Hodge’s Commentary on the Confession of Faith e Hodge’s Outhines of Theology”.[1]
Em 1895 é publicada a tradução feita por Schneider (1832-1910) da obra de A.A. Hodge (1823-1886) (Esboços de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, 620p). Por esta época – o livro não indica a data –, apareceu também outra obra traduzida por Schneider, escrita pelo pai de A.A. Hodge, Charles Hodge, O Caminho da Vida, New York, Sociedade Americana de Tractados (s.d.), 300p. A outra obra de A.A. Hodge indicada pelo Presbitério, só seria traduzida para o português no final do século XX .[2]
Estes trabalhos representam a fina teologia de Princeton que aqui foi implantada, modelando a nossa teologia. Sigo aqui Boanerges Ribeiro (1919-2013):
A Teologia de Princeton modelou a prédica, a polêmica e a ação pastoral dos introdutores presbiterianos da Reforma no Brasil.[3]
Creio que se pode afirmar que nosso núcleo inicial de reformadores, com variantes individuais inevitáveis, foi modelado pela teologia de Princeton.[4]
De fato, a matriz teológica do presbiterianismo nacional, foi de Princeton, sintetizando a teologia de Turretini (1623-1687)[5] e a experiência religiosa (puritana-pietista). A autoridade das Escrituras considerada como Palavra de Deus foi sustentada como algo axiomático. Assim, a pregação e a distribuição de Bíblias estavam no centro de seus trabalhos. Toda orientação da vida cristã partia de princípios extraídos da Bíblia; em todas as questões buscava-se respaldo bíblico, considerando-a a fonte para todo o pensar e agir protestante
Retornando ao método de tutela, inadequado e provisório, ele foi utilizado desde então para a formação de pastores, permanecendo até 1892 quando seria organizado o novo Seminário, agora em Friburgo.[6] No entanto, neste período, o Presbitério manifesta a sua preocupação com o currículo adotado neste novo sistema. Em 1878, o “Presbitério adotou um plano curricular de estudos, que uniformizaria esse preparo individual, e impediria que o ministério presbiteriano se tornasse heterogêneo”.[7]
Décadas depois, o pastor e historiador V.T. Lessa (1874-1939), comentando o período da licenciatura de Cerqueira Leite em relação à época em que ele próprio escrevia (1938), diz:
Naquele tempo havia mais rigor. Sua licenciatura durou o espaço de três anos. O Rev. Trajano esperou cinco. Para cada ano eram marcados estudos especiais. Em nossos dias um ano é tido como muita cousa. São frequentes os casos de meses. Até mesmo é dispensada, às vezes, a licenciatura.[8]
Maringá, 15 de janeiro de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Ata do Presbitério do Rio de Janeiro, Sessão de 29/08/1870.
[2] Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999, 596p.
[3] Boanerges Ribeiro, Igreja Evangélica e República Brasileira (1889-1930), São Paulo: O Semeador, 1991, p. 201.
[4] Boanerges Ribeiro, Igreja Evangélica e República Brasileira (1889-1930), p. 203. Bavinck (1854-1921) assim resume a Teologia de Princeton: “A assim chamada teologia de Princeton está, em grande parte, na reprodução do Calvinismo do século 17 como expresso na Confissão de Westminster e no Consensus Helveticus e elaborada especialmente por T. Turretin, em sua Theologia Elenctica” (Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 1, p. 202).
[5] A influência de Turretini tornar-se-ia também evidente não apenas em Princeton, mas também em outros teólogos presbiterianos do século XIX, de diferentes escolas, tais como Robert L. Dabney (1820-1898), professor de Teologia no Union Seminary de Richmond [Lectures in Systematic Theology, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1985] e W.G.T. Shedd (1820-1894), professor de Teologia do Union Seminary de New York [W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, 2. ed. Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980]. O próprio A.H. Strong (1835-1921), o grande teólogo batista do século XIX, usa e cita Turretini umas dez vezes, referindo-se a ele como um “claro e vigoroso teólogo” (Augustus H. Strong, Systematic Theology, 35. ed. Philadelphia: The Judson Press, 1993, p. 46).
[6] Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p. 263; Boanerges Ribeiro, A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da Autonomia ao Cisma, p. 212.
[7] Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p. 263. O Currículo foi publicado na Imprensa Evangélica, 17/01/1878, p. 22, sob o título: “Estudos para os candidatos ao Ministério Evangélico”. Este currículo consta em anexo no livro de Boanerges Ribeiro, Protestantismo e Cultura Brasileira, p. 355-356.
[8]Vicente T. Lessa, Annaes da 1ª Egreja Presbyteriana de São Paulo, p. 141.