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Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (17) – A Reforma e os seus Credos (2) - Hermisten Maia

Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (17) – A Reforma e os seus Credos (2)

Este artigo é continuação do: Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (16) – A Reforma e os seus Credos (1)

Acesse aqui esta série de estudos completa


O primeiro trabalho a receber o título de “Catecismo“, foi o do humanista e reformador luterano Andreas Althamer (c. 1500-1539) em 1528.[1] Porém, os mais influentes no século XVI, foram os de Lutero (1483-1546): O Catecismo Maior (abril de 1529) e principalmente, O Catecismo Menor (maio de 1529), ambos escritos em alemão. No prefácio do Catecismo Menor, Lutero declara os motivos que o levaram a redigir este Catecismo e, apresenta também sugestões de como ensiná-lo à Congregação. No decorrer dos sete capítulos, ele quase sempre inicia dizendo: “Como o chefe de família deve ensiná-lo à sua casa” ou: “Como o chefe de família deve ensiná-lo com toda a simplicidade à sua casa” e expressões similares.

 

Transcreverei apenas o que Lutero disse a respeito das suas motivações:

 

A lamentável e mísera necessidade experimentada recentemente, quando também eu fui visitador,[2] é que me obrigou e impulsionou a preparar este catecismo ou doutrina cristã nesta forma breve, simples e singela. Meu Deus, quanta miséria não vi! O homem comum simplesmente não sabe nada da doutrina cristã, especialmente nas aldeias. E, infelizmente, muitos pastores são de todo incompetentes e incapazes para a obra do ensino. (…) Não sabem nem o Pai-Nosso, nem o Credo, nem os Dez Mandamentos.[3]

 

Durante o inverno de 1536-1537 Calvino elaborou em francês um Catecismo, não sendo constituído em forma de perguntas e respostas, escrito de modo que julgou acessível a toda Igreja. O seu objetivo era puramente didático. Esta obra foi intitulada: Instrução e Confissão de Fé, Segundo o Uso da Igreja de Genebra,[4] sendo traduzida para o latim em 1538. Posteriormente, quando Calvino regressou de Estrasburgo ele fez uma revisão desse Catecismo – tornando a sua teologia mais acessível aos seus destinatários: as crianças,[5] especialmente aquelas entre 10 e 15 anos[6] –, e a ampliou consideravelmente, mudando inclusive a sua forma, passando então, a ser constituída de perguntas e respostas, contendo 373 questões.[7] Esta nova edição foi publicada entre o fim de 1541 e o início de 1542, tornando-se juntamente com a Instituição um sucesso editorial.[8] Em 1545,[9] Calvino traduziu o Catecismo para o latim visando dar um alcance maior aos seus ensinamentos, contribuindo deste modo para a maior unidade entre as Igrejas Reformadas.[10] A partir de 1561, este Catecismo ganhou maior importância, visto que desde então todo ministro da Igreja deveria jurar fidelidade aos ensinamentos nele expressos e comprometer-se a ensiná-los.[11] Calvino entendia que a Igreja não permaneceria sem o ensino sistemático por intermédio de Catecismo o qual deveria ser ministrado às crianças numa linguagem adequada a idade delas. O ensino do Catecismo contribuiria para preservar a unidade da Igreja e prevenir contra a invenção de doutrinas fictícias engendradas por pessoas presunçosas.[12]

 

Quanto às Confissões, elas basicamente não foram feitas como um texto para a instrução na fé Cristã, já que esta era a função dos Catecismos.[13] Elas poderiam ser produzidas por homens individualmente, para o seu uso privado (A Segunda Confissão Helvética); por um Concílio de uma Igreja em particular (Cânones de Dort); por um indivíduo que age como representante de sua Igreja (Confissão de Augsburgo); por um grupo de teólogos convocados pelo Estado (Confissão de Westminster) ou escrita como uma defesa de sua fé em meio a uma terrível perseguição (A Confissão dos Valdenses)[14] etc. Com isto, estamos dizendo, que não havia uma regra fixa para a elaboração de uma Confissão; os contextos eram variados e, apesar de haver motivações comuns a todas elas, existiam circunstâncias especiais, que conduziam a determinadas ênfases, especialmente no que se refere às questões relativas ao governo e à igreja romana. Isto traz consigo, o problema da unificação das Confissões. Por que não unificá-las?!, é uma pergunta pertinente. De fato, esta preocupação existiu.  No próximo post falarei um pouco sobre isso.

 

 

 

São Paulo, 5 de dezembro de 2018.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 

 


 

[1]Cf. D.F. Wright, Catecismos: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1990-1993, v. 1, p. 250.

[2]Lutero viajou pela Saxônia Eleitoral e por Meissen, entre 22/10/1528 e 09/01/1529.

[3]Catecismo Menor, In: Os Catecismos, Martinho Lutero, Porto Alegre/São Leopoldo, RS. Concórdia/Sinodal, 1983, p. 363.

[4]Este Catecismo (Em português: Instrução na Fé, Goiânia: Logos Editora, 2004) consistiu num resumo da primeira edição das Institutas (1536) (Cf. John H. Leith, em prefácio à tradução da obra de Calvino e Paul T. Fuhrmann em “prefácio histórico” à mesma obra, Instruction in Faith (1537), Louisville, Kentucky: Westminster/John Knox Press, (1992), p. 10 e 16; Cf. Tomas M. Lindsay, La Reforma y su Desarrollo Social, p. 101; John T. McNeill, The History and Character of Calvinism, New York: Oxford University Press, 1954, p. 140. Veja-se também, p. 204). Esta foi a primeira “exposição sistemática do pensamento calvinista na língua francesa” (A.H. Freundt Jr., Catecismo de Genebra: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,v. 1, p. 246).

[4] Marc Venard, O Concílio Lateranense V e o Tridentino. In: Giuseppe Alberigo org. História dos Concílios Ecumênicos, São Paulo: Paulus, 1995, p. 339.

[5] Cf. Tomas M. Lindsay, La Reforma y Su Desarrollo Social, Barcelona: CLIE., (s.d.), p. 100.

[6] Cf. Thomas F. Torrance, (Translated and edited with an Introduction), The Scholl of Faith: the catechisms of the reformed church, London: James Clarke & Co., 1959, p. 3-4.

[7] Este Catecismo pode ser assim esboçado:

I – Fé (1-130)

Introdução (1-18)

Segue a exposição do Credo Apostólico, da seguinte forma:

  1. a) Deus Pai (19-29)
  2. b) Deus Filho (30-87)
  3. c) Deus Espírito Santo (88-91)
  4. d) A Igreja (92-130)

II – Os Dez Mandamentos (131-232)

III – A Oração (233-295)

IV – A Palavra e os Sacramentos (296-373)

  1. a) A Palavra e o Ministro (296-308)
  2. b) Os Sacramentos (309-373)

– Definição e Significado (309-323)

– Batismo (324-339)

– Ceia do Senhor (340-373)

[8]Febvre, diz que, “de 1550-1564 (ano da morte de Calvino), serão publicadas 256 edições, das quais 160 em Genebra. A Institution chrétienne é, então, sozinha, objeto de 25 reedições, nove latinas e dezesseis francesas das quais a maioria provém dos prelos genebrinos; e, mais ainda talvez, o Catéchisme par demandes et réponses que Calvino publica em 1541….” (Lucien Febvre; Henry-Jean Martin, O Aparecimento do Livro, p. 442-443). Wendel nos diz que a primeira edição da Instituição esgotou-se em menos de um ano (François Wendel, Calvin, New York: Harper & Row, Publishers, 1963, p. 113; Justo L. Gonzalez, A Era dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1986 (Reimpressão), p. 111). (Vejam-se também, T. George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 177-178; Philip Benedict, Christ’s Churches Purely Reformed: A Social History of Calvinism, New Haven: Yale University Press, 2002, p. 90-93)..

[9] A dedicatória de Calvino é de 02/12/1545. (Veja-se: In: John Calvin, Tracts and Treatises on the Doctrine and Worship of The Church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, 1958, v. 2, p. 36).

[10] Cf. Theodoro de Beza, A Vida e a Morte de João Calvino, Campinas, SP.: Luz para o Caminho, 2006, p. 34.

[11]Cf. Catecismo de la Iglesia de Ginebra, In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: La Aurora, 1962, p. 7-8.

[12]Ver: Calvin to Somerset, Letter 21. In: Letters of John Calvin, Selected from the Bonnet Edition, Edinburgh, The Banner of Truth Trust, 1980, p. 96-97.

[13]Cf. George S. Hendry, La Confesion de Fe de Westminster, para el día de hoy, Bogotá: CCPAL, 1966 p. 14.

[14] A Confissão dos Valdenses – que não faz parte de nossa abordagem – é, em parte um resumo da Confissão Gaulesa (P. Schaff, COC., v. 3, p. 757. Veja-se um quadro comparativo das duas, feito por Alberto Revel, In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: Editorial “La Aurora”, 1962, p. 195). Ela foi composta provavelmente por Jean Leger (1615-?) e possivelmente sistematizada por seu tio Antoine Leger, professor da Academia de Calvino em Genebra. Foi publicada num período de forte perseguição religiosa na Itália, quando os Valdenses foram caluniados, martirizados, esbulhados, exilados, etc. A edição Italiana da Confissão intitulava-se: “Confissão de fé das Igrejas Reformadas, Católicas e Apostólicas de Piemonte, confirmada pelo testemunho explícito da Sagrada Escritura”.

O texto francês, diz: “Breve Confissão de Fé das Igrejas Reformadas de Piemonte” e, embaixo, acrescentava: “Publicada em seu Manifesto à ocasião do horrendo massacre do ano de 1655”.

Ao que parece, esta Confissão só viria a ser aprovada oficialmente, no século XIX. (Vejam-se: J. Alberto Soggin em texto introdutório à Confissão de Fé da Igreja Evangélica Valdense, In: Catecismos de la Iglesia Reformada, Buenos Aires: Editorial “La Aurora”, 1962, p. 189-196; P. Schaff, COC., v. 3, p. 757).

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