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Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (12) – Credos e Concílios: Credo Atanasiano (2) - Hermisten Maia

Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (12) – Credos e Concílios: Credo Atanasiano (2)

Este artigo é continuação do: Introdução ao Estudo dos Credos e Confissões (11) – Credos e Concílios: Credo Atanasiano (1)

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2. Credo Atanasiano

Atanasio
Atanásio

Também conhecido como “Symbolum Quicunque”, porque esta é a sua primeira palavra em latim: “Quicunque vult salvus esse” (Todo aquele que quiser ser salvo…”). Este Credo, que reflete a teologia dos quatro primeiros sínodos ecumênicos, tem sentenças breves que são “artisticamente arranjadas e ritmicamente expressadas. Ele é um credo musical ou salmo dogmático”.[1] Segundo a tradição, ele teria sido escrito por Atanásio (295-373), Bispo de Alexandria (328-373), conhecido como “Pai da Ortodoxia”. Segundo a mesma tradição, Atanásio o elaborara durante o seu exílio em Roma, tendo-o oferecido ao papa Julius como sua confissão de fé.[2] Todavia, esta tradição tem sido rejeitada por muitos estudiosos desde o século XVII, quando o holandês Gerhard Jan Vossius (1577-1649) apresentou em 1642 as suas conclusões que contrariavam a referida crença, o mesmo fazendo James Usher (1581-1656), em 1647.[3]

A teoria que parece ser a mais aceita hoje é a de que este Credo foi escrito por volta do ano 500, no sul da Gália ou África do Norte[4], ou até mesmo em dois lugares e momentos diferentes.[5] Apesar de várias hipóteses quanto à sua autoria (Ambrósio, Hilário de Arles, Virgílio de Tapsus, Vicente de Lérins, Paulinus de Aquileja, entre outros),[6] ninguém conseguiu provar de modo incontestável a identidade do seu autor.

A ênfase deste Credo é a defesa da Cristologia e da doutrina da Trindade conforme foram definidas nos Concílios de Nicéia (325), Constantinopla (381) e Calcedônia (451), refletindo visivelmente a teologia de Agostinho (354-430).[7]

Ele foi amplamente considerado na Idade Média: na Igreja latina era quase que diariamente usado nas devoções matinais[8] e, ao que parece, também tinha funções catequéticas.[9] Os Reformadores o apreciaram bastante (tanto Lutero como Calvino[10]); as Confissões Luteranas (Augsburgo e Fórmula de Concórdia) e Reformadas (Trinta e Nove Artigos, Primeira e Segunda Confissão Helvética, Belga, Gaulesa), fazem referência a ele. Neste ponto, a Confissão de Westminster se constitui numa exceção, já que não o menciona.

Atualmente o Credo Atanasiano é usado liturgicamente com mais frequência pelas Igrejas Romana e Anglicana. Segue a sua transcrição:

  1. Todo aquele que quiser ser salvo: é-lhe necessário, primeiro que tudo, que receba a fé católica:
  2. A qual é preciso que cada um guarde perfeita e inviolada ou terá com certeza de perecer para sempre.
  3. A fé católica é esta: que adoremos um só Deus em trindade, e trindade em unidade.
  4. Nem confundindo as Pessoas, nem separando a Substância.
  5. Porque é uma Pessoa do Pai: outra do Filho: e outra do Espírito Santo.
  6. Mas a Divindade do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, é uma: a Glória igual e majestade co-eterna.
  7. Aquilo que o Pai é, o mesmo é o Filho, e o Espírito Santo.
  8. O Pai incriado: o Filho incriado: o Espírito Santo incriado.
  9. O Pai imenso: o Filho imenso: o Espírito Santo imenso.
  10. O Pai eterno: o Filho eterno: o Espírito Santo eterno.
  11. E contudo, não são três eternos: mas um só eterno.
  12. Como também não são três incriados: nem três imensos, porém um só incriado; e um só imenso.
  13. Do mesmo modo o Pai é onipotente: o Filho é onipotente: e o Espírito Santo onipotente.
  14. E contudo, não há três onipotentes: mas um só onipotente.
  15. Assim o Pai é Deus: o Filho é Deus: e o Espírito Santo é Deus.
  16. E contudo não há três deuses: mas um só Deus.
  17. Assim o Pai é Senhor: o Filho é Senhor: o Espírito Santo é Senhor.
  18. E contudo não há três Senhores: mas um só Senhor.
  19. Porque assim como somos obrigados pela verdade Cristã: a confessar que cada Pessoa é por si mesma Deus e Senhor.
  20. Assim também somos proibidos pela religião católica: de dizer: há três Deuses, ou três Senhores.
  21. O Pai não foi feito de ninguém: nem criado, nem gerado.
  22. O Filho é só do Pai: não é feito, nem criado: mas gerado.
  23. O Espírito Santo é do Pai e do Filho: não feito, nem criado, nem gerado: porém procedendo.
  24. Por isso há um só Pai, não três Pais: um Filho, não três Filhos: um Espírito Santo, não três Espíritos Santos.
  25. E nesta Trindade nenhum é o primeiro ou o último: maior ou menor.
  26. Mas todas as três Pessoas são co-eternas, e co-iguais.
  27. Semelhante em todas as coisas, como supracitado: a Unidade na Trindade, e a Trindade na Unidade, deve ser adorada.
  28. Portanto quem quiser ser salvo, deve pensar assim a respeito da Trindade.
  29. Mas é necessário para a salvação eterna: que também se creia fielmente na encarnação de nosso Senhor Jesus Cristo.
  30. É, portanto, verdadeira fé que creiamos e confessemos que nosso Senhor Jesus Cristo e Filho de Deus, é Deus e homem;
  31. Deus, da Substância do Pai; gerado antes dos mundos: e Homem, da Substância de sua Mãe, nascido no mundo.
  32. Perfeito Deus: e perfeito Homem, subsistindo em uma alma racional e carne humana.
  33. Igual ao Pai segundo a sua Divindade: e menor do que o Pai segundo a sua humanidade.
  34. O qual, ainda que seja Deus e homem, não é dois, e sim um só Cristo.
  35. Um só; não por conversão da sua Divindade em carne; mas sim pela assunção em Deus da sua Humanidade.
  36. Um só; não por confusão de Substância: mas sim, pela unidade da Pessoa.
  37. Porque assim como uma alma racional e carne são um só homem: assim também Deus e Homem são um só Cristo;
  38. O qual sofreu por nossa salvação: desceu ao inferno, ao terceiro dia ressurgiu dos mortos.
  39. Ascendeu aos céus: assentando-se à direita de Deus Pai Onipotente.
  40. De onde virá para julgar os vivos e os mortos.
  41. À cuja vinda todos os homens ressurgirão com seus corpos;
  42. E darão conta de suas próprias obras.
  43. E os que tiverem feito o bem entrarão na vida eterna; e os que tiverem feito o mal, para o fogo eterno.
  44. Esta é a fé católica: a menos que um homem creia fiel e firmemente, não poderá ser salvo.[11]

 São Paulo, 03 de dezembro de 2018.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa

 


[1]P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 37.

[2] Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 35.

[3] Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 35; J.F. Johnson, Credo Atanasiano: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 364. Kelly diz que Vossius e Usher “inauguraram a era moderna de estudos sobre os credos” (J.N. D. Kelly, Primitivos Credos Cristianos, Salamanca: Secretariado Trinitario, 1980, p. 19).

[4] Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 36; Johnson, Credo Atanasiano: In: Walter A. Elwell, ed Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,v. 1, p. 364; James Hastings, ed., Dictionary of the Bible, New York: Charles Scribner’s Sons, (edition revised F.C. Grant and H.H. Rowley), 1963, p. 188; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, Lisboa: Barata & Sanches, 1895, p. 103; L. Boff, A Trindade e a Sociedade, 3. ed. Petrópolis, RJ.: Vozes, 1987, p. 91-92; .P.C. Hanson, Confissões e Símbolos de Fé: In: Ângelo Di Berardino, org. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs, p. 324b.

[5] Conforme sugere Charles A. Briggs, Theological Symbolics, New York: Charles Scribners’s Sons, 1914, p. 100.

[6] Vejam-se: P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 36; Johnson, Credo Atanasiano: In: Walter A. Elwell, ed Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã,v. 1, p. 364; Charles A. Briggs, Theological Symbolics, p. 100ss.

[7]Cf. J.N.D. Kelly, Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e Desenvolvimento, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 206; P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 36ss; A.A. Hodge, Esboços de Theologia, p. 103. (Veja-se, conforme já indicamos supra: Agostinho, A Trindade, São Paulo: Paulus, 1994).

[8]Cf. P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 1, p. 40.

[9]Johnson, Credo Atanasiano: In: Walter A. Elwell, ed Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 364.

[10]Compare: T.M. Lindsay, La Reforma y Su Desarrolo Social, Barcelona: CLIE., (1986), p. 102 e L. Berkhof, História das Doutrinas Cristãs, São Paulo: PES., 1992, p. 87; Timothy George, Teologia dos Reformadores, São Paulo: Vida Nova, 1994, p. 198-200.

[11]Este Credo encontra-se publicado em latim e inglês in P. Schaff, The Creeds of Christendom, 6. ed. Revised and Enlarged, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, (1931), v. 2, p. 66-70. Em obra recente de Teologia Sistemática, o Credo Atanasiano, veio publicado em português (Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, p. 997-998).

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