Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (95)
A Igreja de Deus é identificada e caracterizada pela genuína pregação da Palavra.[1] A Igreja na sua proclamação revela quem é: nós somos identificados não simplesmente pelo que dizemos a nosso respeito, mas, principal e fundamentalmente pelo que revelamos em nossos atos.
A Igreja revela-se como povo de Deus no seu testemunho a respeito de Deus e da sua Glória manifestada em Cristo, bem como na declaração do pecado humano e da necessidade de reconciliação com Deus.
A Igreja não é nem cria a mensagem; antes é o meio de proclamação. Todavia, neste ato de proclamação das virtudes de Deus, ela torna patente a sua identidade divina, demonstrando o poder daquilo que ela testemunha, visto ser a Igreja o monumento da graça e misericórdia de Deus, constituído a partir da Palavra criadora de Deus. É justamente por isso, que “a pregação é uma tarefa que somente ela pode realizar”, declara Lloyd-Jones.[2]
Hoeksema (1886-1965) enfatiza:
Somente quando a Palavra de Deus é pregada, de acordo com as Escrituras, ali é ouvida a voz do Bom Pastor, chamando suas ovelhas pelo nome. (…) Quando a Palavra não é pregada, ali Cristo não fala sua Palavra de salvação, e ali não está reunida a Igreja.[3]
O Espírito capacita a Igreja a cumprir o que Jesus lhe ordenou. Isto Ele faz concedendo-lhe poder (At 1.8/4.8-13, 31). Somente o Espírito pode capacitar a Igreja a desempenhar de forma eficaz o seu Ministério.
O texto de At 1.8, resume bem o conteúdo do Livro de Atos:[4] A Igreja testemunha no poder do Espírito de Jesus (At 16.7). “O poder do Espírito Santo é sua capacidade de ligar os homens ao Cristo ressurreto de tal maneira que sejam capacitados a representá-Lo. Não há nenhuma bênção mais sublime”, declara Bruner.[5]
Stott, do mesmo modo, afirma que o Espírito veio sobre Jesus equipando-o para o seu Ministério público, o Espírito deveria vir sobre o Seu povo capacitando-o para o seu serviço.[6] Por isso que, “sem o poder do Espírito Santo a evangelização é impossível”.[7]
No Pentecoste se concretiza historicamente a capacitação da Igreja para a sua missão no mundo. O Pentecoste revela o caráter missionário da Igreja, tornando cada crente uma testemunha de Cristo. “Pentecoste significa evangelismo”.[8] E isto, no poder do Espírito, derramado de forma sobrenatural.
Grudem interpreta:
O dia de Pentecostes foi sem dúvida um momento extraordinário de transição em toda a história da redenção registrada nas Escrituras. Foi um dia singular na história do mundo, porque naquele dia o Espírito Santo começou a atuar entre o povo de Deus com o poder da nova aliança.[9]
Maringá, 10 de julho de 2020.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]Lutero observou que: “Onde, porém, não se anuncia a Palavra, ali a espiritualidade será deteriorada” (Martinho Lutero, Uma Prédica Para que se Mandem os Filhos à Escola (1530): In:Martinho Lutero: Obras Selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.: Sinodal; Concórdia, 1995, v. 5, p. 334).
[2]D.M. Martyn Lloyd-Jones, Pregação e Pregadores, p. 23.
[3]Herman Hoeksema, Reformed Dogmatics, 3. ed. Grand Rapids, Michigan: Reformed Publishing Association, 1976, p. 621.
[4]Outros chamam At 1.8 de “índice” do Livro. (Cf. John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra,São Paulo: ABU., 1994, p. 42).
[5]Frederick D. Bruner, Teologia do Espírito Santo, São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 129.
[6] Veja-se: John R.W. Stott, A Mensagem de Atos: até os confins da terra,São Paulo: ABU., 1994, p. 38.
[7]John R.W. Stott, Crer é também Pensar,São Paulo: ABU., 1984 (2. impressão), p. 49.
[8]R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 221. Do mesmo modo, Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,p. 910.
[9] Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática,p. 641.