Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20

Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20

Warning: strpos() expects parameter 1 to be string, array given in /home/hermisten/www/wp-includes/blocks.php on line 20
Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (73) - Hermisten Maia

Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (73)

5.9. O Espírito como Senhor da vida e Mestre da Oração

Deus criou o homem como um ser inclinado a orar. Se não fosse assim, a faculdade da oração não poderia estar entre seus dons. Nós fomos criados para orar, do contrário nunca teríamos provado sua doçura. (…) Orar é arrastar e empurrar a imagem impressa em direção ao seu Original, que é o Deus triúno. Ser o portador dessa imagem impressa é uma honra maravilhosa concedida ao homem. Embora desfigurada pelo pecado – por meio da regeneração Deus a restaura em nós -, as feições originais dessa imagem são ainda as feições originais do nosso ser humano. Sem essa imagem, nós deixaríamos de ser homens. – Abraham Kuyper (1837-1920).[1]
Quando o Espírito nos testifica que somos filhos de Deus, ele, ao mesmo tempo, imprime esta confiança em nossos corações, para que ousemos invocar a Deus como nosso Pai. – João Calvino (1509-1564).[2]
A oração é, afinal de contas, a mais elevada atividade da alma humana. – David M. Lloyd-Jones. (1899-1981).[3]

A oração é um algo difícil e misterioso. Difícil porque somos fadados a nos dispersar em digressões e devaneios enquanto oramos. Podemos banalizar esse grandioso privilégio com palavrórios inúteis e vazios (Mt 6.5-8).[4] Misterioso porque o Senhor da Glória, o Deus santo e majestoso, estabeleceu esse meio de relacionamento conosco e nos ouve com atenção e amor.

A oração, conforme os preceitos bíblicos, está relacionada com a Providência de Deus. Se por um lado, nós não podemos delimitar a ação de Deus às nossas orações, por outro, devemos estar atentos ao fato de que Deus nos abriu a porta da oração a fim de exercitarmos a nossa fé em paciente submissão. Deus que ordenou os fins, também estabeleceu os meios necessários. Portanto, ambos são inseparáveis.[5] Em muitos casos, ainda que não possamos precisar todos os meios, sabemos que as nossas orações se constituem em meios estabelecidos por Deus dentro da execução de seus propósitos (Jo 16.24; Tg 4.2).

Entendemos que as nossas orações quando feitas por um motivo justo, por meio de Cristo e, partindo de um coração sincero, fazem parte da execução do plano de Deus. “Quando Deus nos dá aquilo que pedimos, é como se essas coisas tivessem nelas a estampa de nossas orações!”.[6]

Os salmistas, entre tantos outros servos de Deus, em suas angústias, diversas vezes se alimentavam na certeza de que Deus ouve as suas orações.

“Tens ouvido ([m;v’) (shama),[7] SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes fortalecerás o coração e lhes acudirás” (Sl 10.17), expressa o salmista de modo confiante a sua fé.  Ainda que sejamos tentados em nossa precipitação a achar que Ele está distante ou muito ocupado, Deus sempre ouve com atenção as nossas súplicas. É o que demonstra Davi em outro Salmo: “Eu disse na minha pressa: estou excluído da tua presença. Não obstante, ouviste ([m;v’) (shama) a minha súplice voz, quando clamei por teu socorro” (Sl 31.22).[8] 

Deus nos deu a sua Palavra e, nos concedeu seus ouvidos para que possamos falar com Ele. A sua Palavra deve ser o estímulo e o conteúdo de nossas orações.

Como Pai nos escuta atentamente quando nos dirigimos a Ele com fé e, até mesmo, por vezes, em nossos desatinos e confusões espirituais.

Lloyd-Jones, conhecido como homem de oração,[9] escreveu algo que pode soar espantoso:

As vezes pensamos que orar é simples, mas não é: os grandes santos de todos os séculos são concordes em dizer que uma das coisas mais difíceis é saber orar. Se algum irmão ou irmã se sente abatido por achar difícil orar, ele ou ela não deve desanimar-se, porque essa é a experiência comum dos santos. A pessoa por quem me lamento é a que não tem nenhuma dificuldade  com a oração; certamente há algo de errado com ela. A oração é a mais elevada realização do santo.[10]

No entanto, a Bíblia retrata algo paradoxal entre alguns piedosos irmãos da igreja de Jerusalém. Tiago é morto a mando de Herodes (At 12.4). Pedro permanece preso. A igreja persevera em sua oração intercessora.  Pedro é miraculosamente liberto (At 12.7-11). Registra Lucas:

12 Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam.  13 Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era;  14 reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão.  15 Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era. Então, disseram: É o seu anjo.  16 Entretanto, Pedro continuava batendo; então, eles abriram, viram-no e ficaram atônitos.  17 Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão…. (At 12.7-11).

Os irmãos preocupados com Pedro, oravam incessantemente ao Senhor. No entanto, quando Pedro foi liberto e os procurou, com exceção da criada Rode que o reconhece, os piedosos irmãos acharam que ela estivesse louca. Num primeiro momento, foi mais fácil crer que ali estava um anjo do que o Senhor os tivesse ouvido libertando o apóstolo. Algo surpreendente: Tenho fé para orar, porém, quando Deus me responde, não sei o que fazer.

Stott (1921-2011), de forma bem humorada mas, sem enfraquecer a seriedade da questão, comenta:

É irônico que o povo que estava orando com fervor e persistência pela libertação de Pedro pudesse considerar louca a pessoa que lhes informava que suas orações haviam sido respondidas! A alegria simples de Rode brilha fortemente contra a escura incredulidade da igreja.[11]

Maringá, 16 de junho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 628.

[2] João Calvino, Romanos, 2. ed. São Paulo: Edições Parakletos, 2001, (Rm 8.16), p. 288.

[3] D.M. Lloyd-Jones, O supremo propósito de Deus: Exposição sobre Efésios 1.1-23, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 313.

[4] Veja-se: Hermisten M.P. Costa, O Pai Nosso: A Oração do Senhor, São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 25-28.

[5] Veja-se: Paul Helm, A Providência de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 196-197.

[6]John Flavel, Se Deus Quiser, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1987, p. 26.

[7] A palavra quando se refere a Deus como aquele que ouve, tem o sentido de ouvir e responder.

[8]8Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade, porque o SENHOR ouviu ([m;v’) (shama) a voz do meu lamento; 9 o SENHOR ouviu ([m;v’) (shama) a minha súplica; o SENHOR acolhe a minha oração” (Sl 6.8-9).

[9] David M. Lloyd-Jones (1899-1981) certamente foi um dos expositores bíblicos mais influentes do século XX. Em certa ocasião, alguns homens comentando a respeito de seus dotes variados, ouviram de sua esposa, Bethan Lloyd-Jones (1898-1991): “Ninguém entenderá o meu marido enquanto não perceber que ele é primeiramente um homem de oração e, depois, um evangelista”  (Citado em Iain H. Murray,  A Vida de Martyn Lloyd-Jones 1899-1981: Uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 334). “Segundo as Escrituras, a oração é um importante e essencial elemento da vida piedosa” (D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 27-28). À frente: “Quanto mais santificada é a pessoa, quanto mais piedosa, mais tempo passa em oração” (p. 32). “Os que conhecem Deus melhor são os que falam mais com Ele” (p. 33).  “Os santos sempre se refugiam na oração” (p. 35).

[10] D.M. Lloyd-Jones, Salvos desde a Eternidade,  São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 1), p. 14.

[11] John R.W. Stott,  A mensagem de Atos: Até os confins da terra, São Paulo: ABU., 1994, p. 237.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *