Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (72)
Na cruz vemos a manifestação gloriosa dos atributos de Deus. “A justiça e o amor se encontraram e se abraçaram. Os santos atributos de Deus são glorificados juntamente na morte do Filho de Deus na cruz”, escreve Lloyd-Jones.[1]
Não haveria para nenhum de nós salvação de nossos pecados sem a justificação. Da mesma forma, existe a justificação porque Jesus Cristo é a nossa justiça; é Ele mesmo quem nos redime (1Co 1.30).[2]
Na cruz temos a reconciliação do santo com o pecador, do perfeitamente justo com o totalmente injusto, do infinito com o finito; do Deus eterno com o homem temporal: “A cruz é o centro da história e a reconciliação de todas as antíteses”, comenta Bavinck.[3]
A cruz enfatiza o Deus santo e majestoso, zeloso por sua glória. A cruz não fez Deus nos amar, antes, o seu amor por nós a produziu e se revelou ali.[4]
Enquanto para nós as circunstâncias servem de pretexto para os nossos atos pecaminosos e os posteriores atenuantes, para Deus tais circunstâncias – sobre as quais tem total domínio: Ele também é o Senhor das circunstâncias – oportunizam a manifestação do que Ele é em sua essência. O pecado não tornou Deus misericordioso, santo ou justo. Ele é eternamente misericordioso, santo e justo. No entanto, o pecado propiciou a Deus, por sua livre graça, revelar-se desta forma para conosco.
Isaías diz que “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele (Jesus Cristo) a iniquidade de nós todos” (Is 53.6).
A ironia do texto está em declarar que o culpado saiu ileso, totalmente absolvido. O Servo levou sobre si a culpa de muitos, declarando então, pelo seu próprio sofrimento, que os ofensores já não são mais legalmente responsáveis por suas transgressões passadas.[5]
“O misericordioso empresta a honra própria ao decaído e toma sobre si a sua vergonha”, destaca Bonhoeffer (1906-1945).[6]
O nosso Senhor e Pastor é santo. Ele não tolera o pecado. No entanto, de forma inexplicável Ele nos ama com amor eterno e, por seu amor misericordioso propiciou de forma santa e perfeita o nosso perdão a e reconciliação completa com Ele.
Deus como essencialmente santo reivindica e estabelece o padrão de santidade para o seu povo (Lv 19.2; 1Pe 1.15).
A fé cristã tem como padrão nada mais do que o próprio Jesus Cristo, o Santo, o Deus encarnado. (Rm 8.29).[7]
Se Deus de fato é o nosso Pastor, aquele que nos guia, sigamos os seus passos em santidade e obediência. “Santidade sempre é a resposta de gratidão do pecador salvo pela graça recebida”, enfatiza Packer.[8]
Maringá,11 de junho de 2020.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] David Martyn Lloyd-Jones, Uma nação sob a ira de Deus: estudos em Isaías 5, 2. ed. Rio de Janeiro: Textus, 2004, p. 222.
[2]Ver: John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 19.
[3]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 48.
[4]Veja-se: D.M. Lloyd-Jones, Deus o Pai, Deus o Filho,São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1997 (Grandes Doutrinas Bíblicas, v. 1), p. 426.
[5] Veja-se: Robert B. Chisholm Jr., Perdão e salvação em Isaías 53: In: Darrell L. Bock; Mitch Glaser, O Servo sofredor, São Paulo: Cultura Cristã, 2015, p. 161-176.
[6] Dietrich Bonhoeffer, Discipulado, 2. ed. São Leopoldo, RS.: Sinodal, 1984, p. 61.
[7]“O maior desejo de Deus é ter santos no céu que sejam semelhantes ao Seu próprio Filho” (Russell P. Shedd, “Alegrai-vos no Senhor”: uma exposição de Filipenses, São Paulo: Vida Nova, © 1984 (Reimpressão: 1993), p. 19).
[8]J.I. Packer, O que é santidade e por que ela é importante?: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger., Vitória sobre a Tentação,2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 32.