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Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (68) - Hermisten Maia

Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (68)

5.8 A Santidade de Deus: reverência, confiança e santificação  (Continuação)

O salmista convoca o povo à adoração considerando a beleza e esplendor da santidade de Deus: “Tributai ao SENHOR a glória devida ao seu nome, adorai o SENHOR na beleza (hr’d’h]) (hadarah) (= esplendor)[1] da santidade (vd,qo) (qodesh)(Sl 29.2). Outra vez: “Adorai o SENHOR na beleza (hr’d’h]) (hadarah) (= esplendor) da sua santidade (vd,qo) (qodesh); tremei diante dele, todas as terras” (Sl 96.9).

O poder de Deus é santo (não é tirânico). A justiça de Deus é perfeita (Não é crueldade) a sua Misericórdia fundamenta-se em sua justiça (não é mero sentimento circunstancial).[2]

Repetição como ênfase: Santo, Santo, Santo!

A repetição e a recapitulação são reconhecidas como metodologias importantes de ensino.[3] Uma das grandes ênfases das Escrituras, diz respeito à educação do povo de Deus. O Senhor fala insistentemente com o povo para que preserve a sua Palavra, guardando-a (praticando) e ensinando aos seus descendentes.

Um dos recursos da literatura hebraica para enfatizar um conceito ou ensinamento, era a repetição de um ensinamento ou palavra. O método da “repetição” (}n$ = “repetir”) (Shãnâ) (Dt 6.6ss.) estabelecido por Deus perpassa a todos os outros.[4]  

Desse modo, pronunciar uma palavra três vezes é conferir um grau superlativo e completo à mensagem: Quando nos deparamos com o livro de Isaias, durante a visão do profeta, encontramos no canto alegre e, talvez, antifônico, de adoração e louvor por parte dos Serafins, essa gloriosa ênfase:  E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória(Is 6.3).

Sproul (1939-2017) observa que nenhum dos atributos de Deus é assim dito três vezes; as Escrituras não dizem que Ele é amor, amor, amor ou, misericórdia, misericórdia, misericórdia ou justiça, justiça, justiça. Mas Deus é santo, santo, santo.[5]

Motyer (1924-2016) apresenta uma interpretação de Is 6.3: “A santidade é a verdade suprema em relação a Deus, e sua santidade está em si mesma muito acima do pensamento humano de maneira que é necessário inventar um “superlativo” para expressá-la”[6]

Desse modo, os serafins declaram em louvor que Deus é superlativamente santo; completamente santo.

Fora de Deus não existe santidade. Toda santidade é relacional e derivada de Deus.  Por isso, podemos dizer que toda santidade nas Escrituras é teorreferente. E mais: somente Deus pode santificar todas as coisas (Ex 31.13; Lv 20.8; 21.8; 15,23; 22.9,16,32; Ez 20.12; 37.28)

Como temos enfatizado, Deus é transcendente e pessoal. É o Deus santo, mas, que se relaciona conosco (Os 11.9).[7] Deus é santo em si e se relaciona de forma santa com o seu povo o santificando.

É por isso que podemos ter a certeza de que Ele cumprirá as suas promessas.  Essa é a certeza de Davi em grande desassossego: “Contudo, tu és santo (vAdq’) (qadosh), entronizado entre os louvores de Israel.  4 Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste.  5 A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos” (Sl 22.3-5).

E o seu cântico em salmo de ação de graças:  20 Nossa alma espera no SENHOR, nosso auxílio e escudo.  21 Nele, o nosso coração se alegra, pois confiamos no seu santo (vAdq’) (qadosh) nome” (Sl 33.20-21[HC1] ).

O que traz paz à nossa alma? O que nos conduz à alegria. O salmista se alegrava em poder confiar em Deus, o seu pastor que o guia em segurança.

Maringá, 7 de junho de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Vejam-se as discussões quanto à origem e melhor tradução da palavra em: C. John Collins, hdr: In: Willem A. VanGemeren, org., Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 1, p. 987-990; Victor P. Hamilton, hadar: In: Laird Harris, et. al., eds. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1998, p. 340-342; Derek Kidner, Salmos 1-72: introdução e comentário, São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1980, (Sl 29.2), p. 145.

[2] Veja-se: Joel R. Beeke; Mark Jones, Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 125. “A santidade é, sem dúvida, o mais importante de todos os atributos de Deus” (John MacArthur, Deus: Face a face com sua majestade, São José dos Campos, SP.: Fiel, 2013, p. 47).

[3] Veja-se entre outros: John Milton Gregory, As sete leis do ensino. 3. ed. Rio de Janeiro: JUERP., 1977, p. 65-72.

[4]Não deixa de ser elucidativo, que o Shemá (“ouve”) (É a primeira palavra que aparece em Dt 6.4, derivada do verbo ((m$) (Shãma’), “ouvir”, envolvendo normalmente a ideia de ouvir com afeição, entender, obedecer), o “credo judeu” – que consistia na leitura de Dt 6.4-9; 11.13-21 e Nm 15.37-41) –, fosse repetido três vezes ao dia. Lloyd-Jones entende corretamente a importância da repetição, quando diz: “A quintessência do bom ensinar é a repetição” (D. Martyn Lloyd-Jones, As Insondáveis Riquezas de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992, p. 25).  A Lei de Deus envolvia toda a vida do educando; todas as suas necessidades e para sempre; desde a juventude até a velhice: “do berço à sepultura”. Toda a educação cristã começa pela unicidade e essencialidade de Deus. Há somente um Deus; este fato deve ser repetido e assimilado pelos educandos.

[5] R.C. Sproul, A santidade de Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 1997, p. 35-36.

[6] Alec J. Motyer, O comentário de Isaías, São Paulo: Shedd, 2016, p. 100.

[7] “Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo (vAdq’) (qadosh) no meio de ti; não voltarei em ira” (Os 11.9).

One thought on “Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (68)

  • 14 de junho de 2020 em 14:55
    Permalink

    Louvado seja Deus que encontrei esta página! Suas mensagens são uma benção. Estarei lendo esses devocionais todos os dias. Deus te abençõe!

    Eliane

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