Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (65)
5.8 A Santidade de Deus: reverência, confiança e santificação
Creio que nenhum cristão tenha dúvida a respeito da santidade de Deus. Sabemos que Deus é absolutamente santo.
Porém, um problema que ocorre conosco é quando premissas teológicas verdadeiras terminam apenas em formulações teológicas as quais não se relacionam com a nossa vida. As mantemos distantes porque no fundo, as vemos apenas como abstrações. Desse modo, a nossa fé não consegue ultrapassar essa parede de contenção criada entre uma fé abstrata e a fé concreta, que, por meio de um discernimento bíblico, orienta a nossa vida, nos fortalece em nossas fraquezas, consola em nossas aflições, anima em nosso desânimo e nos corrige em nossos pecados.
A fé cristã não se propõe apenas a conhecer aspectos do caráter de Deus conforme Ele graciosamente nos deu a conhecer, mas, a vivenciar essa realidade em todos os momentos de nossa vida. Uma fé que não se materialize na concretude da vida, não é a genuína fé cristã.
É preciso que reflitamos a respeito das implicações daquilo que cremos biblicamente. Quero destacar aqui a certeza de que o Deus a quem servimos e que nos chama à santidade, é absolutamente santo. Devemos ampliar biblicamente a nossa compreensão a respeito da santidade de Deus e destacar alguns aspectos dessa verdade relacionados à nossa vida aqui e agora.
Santidade de Deus e louvor
A santidade de Deus é um convite à adoração e louvor. O salmista cantando as maravilhas de Deus, conclama o povo a juntamente com ele, adorar a Deus considerando a santidade do Senhor: “Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés, porque ele é santo (vAdq’) (qadosh)” (Sl 99.5). Novamente: “Exaltai ao SENHOR, nosso Deus, e prostrai-vos ante o seu santo monte, porque santo (vd,qo)(qodesh) é o SENHOR, nosso Deus” (Sl 99.9).[1]
Santidade, majestade e glória
A palavra santo é de difícil interpretação. A sua origem está relacionada a cortar e separar. A ideia que talvez prevaleça é de algo acima. Deus como absolutamente santo está acima de todas as coisas. Por isso, Ele é santo em si mesmo pelo próprio fato de ser Deus. Dizer que Deus é santo é dizer que Deus é Deus.[2]
Não há relação que possamos fazer por nós mesmos para descrever, mensurar, ou mesmo, comparar à santidade de Deus. Podemos nos valer daquelas relações que Ele mesmo faz estabelecendo uma conexão a fim de que possamos entender, limitada, porém, genuinamente, aspectos de sua Glória.
Por isso, quando a Palavra se refere a Deus, relaciona-se com a sua Majestade. Ele não se confunde com a sua criação. Ele a transcende qualitativamente em todos os modos. Ele está acima de tudo o que existe. E tudo existe é sustentado por Deus.
“A santidade de Deus, dessa forma, se torna uma expressão da perfeição do seu ser, a qual transcende toda as criaturas”, comenta Naude.[3] Somente Ele é absolutamente santo; não há nem haverá outro.[4]
A glória de Deus é uma expressão de sua santidade. Deus é santo e a visibilidade de sua santidade é chamada de glória.
Piper, provavelmente inspirado em Motyer (1924-2016),[5] escreve:
A glória de Deus é a manifestação de sua santidade. A santidade de Deus é a perfeição incomparável de sua natureza divina. Sua glória é a exibição dessa santidade. (…) A santidade de Deus é sua glória oculta. A glória de Deus é a sua santidade revelada.[6]
Por não haver conexão entre a nossa mente e a compreensão de santidade, jamais o homem poderia pensar em um Deus santo.
Mas, isso é assunto para o próximo post
Maringá, 7 de junho de 2020
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] O salmista exalta também a Deus considerando a sua salvação: “Vive o SENHOR, e bendita seja a minha rocha! Exaltado seja o Deus da minha salvação” (Sl 18.46/Sl 30.1/Sl 118.28). O salmista sabe que a nossa exaltação ao nome de Deus nada mais é do que o reconhecimento de que Ele é exaltado. Por isso a sua súplica: “Exalta-te, SENHOR, na tua força! Nós cantaremos e louvaremos o teu poder” (Sl 21.13/ Sl 113.4)
[2] Cf. John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 60-61.
[3]Jackie A. Naude, Qds: In: Willem A., VanGemeren, org. Novo Dicionário Internacional de Teologia e Exegese do Antigo Testamento, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, v. 3, p. 876.
[4] “Sua santidade é sua essência divina totalmente única, transcendente, pura, a qual, em sua singularidade, tem valor infinito. Ela determina tudo quanto ele é e faz e não é determinada por ninguém. A sua santidade é o que ele é como Deus, o que ninguém mais é nem nunca será” (John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 61).
[5]“A santidade é a glória escondida de Deus; a glória é a santidade onipresente de Deus” (Alec J. Motyer, O comentário de Isaías, São Paulo: Shedd, 2016, p. 101).
[6]John Piper, Na sala do trono: In: Kathleen B. Nielson; D.A. Carson, orgs. Este é o nosso Deus, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 61,62.