Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (59)
5.7. A Santificação e a responsabilidade do crente (Continuação)
A santificação envolve necessariamente a nossa participação, procurando, por meio da Palavra, ser guiado pelo Espírito Santo (Gl 5.16; Rm 8.6-16) em todas as esferas de nossa vida: pensar, sentir, falar e realizar.[1] Deus opera poderosamente em nós o querer e o realizar (Fp 2.12-13).
A Palavra de Deus estabelece uma relação intrínseca entre a nossa responsabilidade de santificação e a nossa eleição. Paulo saúda a Igreja de Corinto demonstrando a posição e a responsabilidade da Igreja: “À Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Co 1.2). Aos romanos, escreve: “A todos os amados de Deus, que estais em Roma, chamados para serdes santos”(Rm 1.7).
Instruindo os tessalonicenses, Paulo outra vez nos chama a atenção para nossa responsabilidade, mostrando que a eleição para a salvação se efetua na história em santificação: “Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade”(2Ts 2.13).
Portanto, devemos usar de todos os meios que Deus nos fornece para o nosso aperfeiçoamento. Por isso, as insistentes recomendações bíblicas para que cresçamos, desenvolvamos a nossa fé. Eis alguns exemplos:
Aos filipenses que, mesmo sendo uma igreja exemplar em muitos aspectos, tinha algumas rusgas internas, Paulo, após considerar o exemplo de Cristo e a necessidade de segui-lo, instrui: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.12b-13).
À jovem e perseguida igreja de Tessalônica, roga e exorta: “Finalmente, irmãos, nós vos rogamos e exortamos no Senhor Jesus que, como de nós recebestes, quanto à maneira por que deveis viver e agradar a Deus, e efetivamente estais fazendo, continueis, progredindo cada vez mais” (1Ts 4.1). Outra vez: “Contudo vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais” (1Ts 4.10).
Às igrejas perseguidas, Pedro as exorta a desejar intensamente, por graça, crescer espiritualmente: “Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para a salvação” (1Pe 2.2). “Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18).
Como podemos perceber, estes textos nos falam da importância da nossa atividade em nossa santificação: Deus nos oferece todos os recursos para o nosso crescimento, dá-nos uma nova disposição e requer o uso consciente, responsável e submisso do que Ele nos tem oferecido (Vejam-se: Rm 12.1-3; Gl 5.13-16, 25,26; Hb 12.14; 1Pe 1.13-15; 2Pe 1.3-11).[2]
Packer resume: “A palavra [santo] implica tanto devoção quanto assimilação. Devoção no sentido de viver uma vida de serviço a Deus; assimilação, no sentido de imitação, conformidade e serviço da forma como próprio Deus serve”.[3]
É o Espírito quem nos conduz à conformidade da imagem de Cristo, que é o nosso modelo por excelência, a meta definitiva de todo povo de Deus. “Aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”(Rm 8.29).
[1] “A santidade precisa ser visível em nossa vida a sós com Deus, na intimidade de nosso lar, na competitividade de nosso trabalho, nas alegrias da amizade e no empenho de nosso culto no dia do Senhor” (Joel R. Beeke; Mark Jones, orgs. Teologia Puritana: Doutrina para a vida, São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 755).
[2] “A santificação envolve a concentração do pensamento, do interesse, do coração, mente, vontade e propósito, em direção à soberana vocação de Deus em Cristo Jesus e ao desempenho da totalidade de nosso ser no uso daqueles meios que Deus instituiu com o fim de atingir essa destinação” (John Murray, Redenção: Consumada e Aplicada, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1993, p. 166). Do mesmo modo assevera Packer: “A santidade envolve tanto a fé como o esforço pessoal, de nada adiantando o esforço sem a fé, ou fé sem esforço” (J.I. Packer, Vocábulos de Deus, São Paulo: Fiel, 1994, p. 163).
[3] J.I. Packer, O que é santidade e por que ela é importante?: In: Bruce H. Wilkinson, ed. ger. Vitória sobre a Tentação,2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999, p. 31.