Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (115)
7.4. A Igreja é constituída e preservada por Deus (Continuação)
E)kklhsi/a, no grego antigo, significava uma assembleia de cidadãos convocados pelo pregoeiro; a assembleia legislativa. (At 19.32,39,40). A palavra e)kklhsi/a, é formada por duas outras: e)k (“fora de”) & kale/w (“chamar”, “convocar”), significando: “Chamar para fora”. e)kklhsi/a ocorre cerca de 114 vezes no Novo Testamento.
Tomando o sentido etimológico de e)kklhsi/a, podemos dizer que “Deus em Cristo chama os homens ‘para fora’ do mundo“.[1] A Igreja é constituída por aqueles que estavam mortos, mas que receberam vida – regeneração –, pelo Espírito.[2] Portanto, o ponto em comum entre todos os cristãos, é o fato de termos sido chamados por Deus: a Igreja se reúne porque Deus a convocou; e ela também o faz, para ouvir a voz do seu Senhor.[3](At 10.33). “Quando o Espírito aplica esta Palavra ao coração, a pessoa obtém a fé para a salvação, a fé na Pessoa de Jesus Cristo e nos feitos da redenção que se centram nele”, comenta Hendriksen (1900-1982).[4]
“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
Creio que aqui há uma promessa que envolve conquista e preservação. Dentro desse semitismo, “as portas do inferno (da morte) não prevalecerão”, temos algumas possibilidades de interpretação. Parece-me que o sentido primário não é necessariamente de que as portas do inferno avançarão contra a igreja, ou, nem que as portas da morte iriam dominar ou separar a igreja, mas, que as portas do inferno (da morte) não resistirão à igreja em seu avanço na pregação do Evangelho libertando os homens do poder de satanás − a sua casa será invadida (Mc 3.27)[5] − para o Reino de Deus. Ninguém poderá deter a igreja em sua caminhada de fé (conquista). Também creio que há o aspecto defensivo (preservação).
As portas da morte não vencerão a igreja a despeito de todas as armadilhas de satanás. Jesus, o Cristo, mesmo sofrendo e morrendo pelas mãos dos anciãos, ressuscitaria (Mt 16.21)[6] e continuará preservando o seu povo.
Temos uma promessa com grande teor escatológico: Por meio da igreja que o Senhor edifica, o império das trevas não resistirá o poder do Evangelho anunciado. O Senhor consumará a sua obra. A Igreja será guardada e preservada intacta (Rm 1.16/Cl 1.13/1Co 15.24/Ef 5.25-27; Jd 24-25).[7]
Em síntese, a Igreja nesta vida se deparará sempre com as investidas do diabo que tentará bloquear o seu avanço e, se possível, destruí-la, mas, o Deus fiel a sustentará.
Portanto, é Deus mesmo é quem forma a sua Igreja. O próprio Senhor Jesus declara: “Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).
Maringá, 30 de julho de 2020.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1]Karl L. Schmidt, Igreja: In: Gerhard Kittel, ed. A Igreja no Novo Testamento, São Paulo: ASTE, 1965, p. 31.
[2]Veja-se: Archibald A. Hodge, Confissão de Fé Westminster Comentada por A.A. Hodge, São Paulo: Editora os Puritanos, 1999,p. 422.
[3] Veja-se: William Barclay, Palavras Chaves do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1988 (reimpressão), p. 46.
[4]G. Hendriksen, El Evangelio Segun San Juan, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1981, (Jo 17.20), p. 636.
[5]“Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa” (Mc 3.27).
[6]“Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia” (Mt 16.21).
[7]“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego” (Rm 1.16). “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13). “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder” (1Co 15.24). “25Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.25-27). “24 Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, 25 ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém!” (Jd 24-25).