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Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (117) - Hermisten Maia

Eu lhes tenho dado a tua Palavra (Jo 17.1-26) (117)

7.5. A natureza da unidade da Igreja

Cristo orou para que pudéssemos ser um como ele é com o Pai. Não há negociações na trindade, somente acordo perfeito baseado na verdade. Essa é a unidade pela qual devemos lutar. – R.C. Sproul (1939-2017).[1]

As Escrituras enfatizam a unidade da igreja justamente porque ela deve refletir a unidade espiritual verdadeira já existente entre nós e Cristo. É neste sentido que Paulo escreve aos coríntios aludindo ao chamamento comum, de todo povo de Deus, à santidade: “À Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Co 1.2).

Todos os crentes estão unidos pela fé comum em Jesus Cristo, tendo sido selados pelo mesmo Espírito que atua em nós, tornando-nos em seu Templo (1Co 3.16; 6.19; Ef 1.13). Participar da Igreja é participar da unidade e da comunhão do Espírito (2Co 13.13; Fp 2.1), tendo acesso ao Pai (Ef 2.18). Esta comunidade tem como lema de vida o amor que caracteriza a Igreja de Cristo.[2]

Bavinck explica:

Desde o primeiro momento de sua regeneração, o crente é, independentemente de sua vontade e de sua própria realização, incorporado a um grande conjunto, em uma rica comunhão. Ele se torna membro de uma nova nação e cidadão de um reino espiritual, cujo rei é glorioso na multidão de seu povo (Pv 14.28).[3]

A harmonia multifacetada da Igreja está no fato de que toda a diversidade cumpre o seu papel específico dentro do Corpo vivo de Cristo. Esta é uma das facetas da Obra do Espírito nela (1Co 12.4,12,13,14,25/Ef 4.3). Na Igreja, há a igualdade e a diferença convivendo conjuntamente. Todos estamos unidos pela fé comum e obediência ao cabeça – Cristo Jesus.

Stott resume:

A igreja é uma, porque o Espírito habita em todos os crentes. A igreja é multifacetada, porque o Espírito distribui diferentes dons aos crentes. De forma que o dom do Espírito (que Deus nos dá) cria a unidade da igreja, e os dons do Espírito (que o Espírito dá) diversifica o ministério da igreja.[4]

Conforme estamos estudando, Jesus ora para que o seu povo permanecesse unido. (Jo 17.20-23).

No entanto, em nossa precipitação interpretativa, é muito comum pensarmos em termos de unidade externa, aparente, sem nenhum significado espiritual. Esta seria apenas uma caricatura daquela pela qual o Senhor ora.

A unidade não pode ser uma expressão apenas para consumo externo, como uma espécie de troca de olhares amorosos entre casais, quando estão em público, desejando expressar um sentimento já esmaecido. A unidade da igreja deve ser algo mais profundo, porque a sua importância e abrangência são de grande relevância, e não pode ser simplesmente desprezada ou olhada com superficialidade.

Bruce (1910-1990) comenta que, “a unidade pela qual Ele ora é uma unidade de amor, na verdade trata-se da participação deles na unidade de amor que existe eternamente entre o Pai e o Filho”.[5]

A unidade externa da igreja, alvo de tantas controvérsias em momentos diferentes da cristandade, só terá algum valor se refletir a unidade espiritual cujo padrão é a Trindade santa.

Lloyd-Jones, alicerçado na Escritura e com a experiência de alguém que lutou com essa questão em seu país em meados da década de 1960,[6] tocou em algo essencial: “A Bíblia não se interessa por unidade exterior. A unidade essencial que a Bíblia busca é a do Espírito. É esta relação pura entre as diversas partes do corpo que realmente importa”.[7]

Analisaremos a partir do próximo post, alguns aspectos dessa unidade.

Maringá, 10 de agosto de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1]R.C. Sproul, Só uma sobre a Terra: In: John MacArthur, et. al. Avante, Soldados de Cristo: uma reafirmação bíblica da Igreja, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 141.

[2]Veja-se: H. Emil Brunner, O Equívoco da Igreja,São Paulo: Novo Século, 2000, p. 59.

[3]Herman Bavinck, Teologia Sistemática, Santa Bárbara D’Oeste, SP.: SOCEP., 2001, p. 564

[4] John Stott.Batismo e Plenitude do Espírito Santo, 2. ed. (ampliada), São Paulo: Vida Nova, 1986, p. 64.

[5] F.F. Bruce, João: Introdução e Comentário,São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1987, p. 285.

[6]Veja-se: Iain H. Murray, A Vida Martyn Lloyd-Jones 1899-1981 – uma biografia, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2014, p. 361-422.

[7]D.M. Lloyd-Jones, Santificados Mediante a Verdade, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, (Certeza Espiritual, v. 3), 2006, p. 29. Veja-se também: D.M. Lloyd-Jones, Crescendo no Espírito, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2006 (Certeza Espiritual: v. 4), p. 150-167.

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