“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (17)
3) No Enviado de Deus vemos o modelo de obediência perfeita
Em Cristo, portanto, temos o modelo de obediência que o Pai requer de nós. A obediência de Cristo é um testemunho de que o Pai lhe enviou: “….as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço testemunham a meu respeito de que o Pai me enviou (a)poste/llw)” (Jo 5.36). “…. o enviado (a)poste/llw) de Deus fala as palavras dele….” (Jo 3.34).
4) É impossível crer no Pai sem crer no Enviado
“A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado (a)poste/llw)” (Jo 6.29). Ninguém de fato pode alegar ter fé em Deus, sem crer em Jesus Cristo.
“E Jesus clamou, dizendo: Quem crê em mim crê, não em mim, mas naquele que me enviou” (Jo 12.44). “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim” (Jo 14.1).[1]
Sem Jesus Cristo, o Pai continuaria inacessível a nós.[2]
Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. (Lc 10.22).
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se vós me tivésseis conhecido, conheceríeis também a meu Pai. Desde agora o conheceis e o tendes visto. (Jo 14.6-7).
Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem. (1Tm 2.5).
Uma fé supostamente depositada no “Pai” sem a aceitação do Filho como Senhor e Salvador, não é a genuína fé bíblica: Ninguém poderá crer em Deus sem fé em Jesus Cristo. Ninguém pode ter a Deus como Pai sem Jesus Cristo como irmão primogênito e Senhor (Rm 8.29).[3] “O objetivo final de nossa fé é Deus mesmo; mas vemos a sua glória através de Cristo, o qual é o caminho divinamente designado para revelar a glória de Deus”, comenta Owen (1616-1683).[4]
Esta fé não é um sentimento vago a respeito de algo ou alguém, antes é resultado de um genuíno conhecimento de quem é Jesus Cristo. Ele é o Senhor. Crer em Deus até os demônios creem e tremem (*fri/ssw) (= tremer de medo) (Tg 2.19). Todavia, o texto nos fala de uma fé no “Senhor Jesus”. (16).
Bavinck (1854-1921) assim se expressou:
A fé não justifica por meio de sua própria essência, nem age por ela mesma ser justa, mas por seu conteúdo, porque é fé em Cristo, que é nossa justiça. Se a fé justificasse por si mesma, o objeto desta fé (isto é, Cristo) perderia totalmente seu valor. Mas a fé que justifica é precisamente a fé que tem Cristo como seu objeto e conteúdo.[5]
5) Rejeitar o Enviado equivale a rejeitar quem O enviou
Os discípulos por crerem no Filho creram também no Pai. Eles receberam o Enviado e quem o enviou. Em Jesus vemos o Pai em sua manifestação máxima. O próprio Senhor afirma: “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita; quem, porém, me rejeitar rejeita aquele que me enviou (a)poste/llw)”(Lc 10.16).
6) A verdadeira paternidade de Deus
Somente em Cristo podemos ter uma relação pessoal com o Pai e, somente pelo Pai reconhecemos o Filho, o Enviado.
Aos judeus, tão ciosos de sua filiação genética de Abraão, e de sua filiação divina, Jesus lhes expõe o seu engano.“Replicou-lhes Jesus: Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou (a)poste/llw)” (Jo 8.42).
A nossa filiação divina tem como ingrediente fundamental a aceitação do Filho. Os filhos de Deus são os que creem em Cristo (Gl 3.26).
Algumas aplicações
a) A vida eterna está diretamente relacionada ao crer em Cristo, enviado do Pai: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (a)poste/llw)” (Jo 17.3). Não há vida eterna sem a fé em Cristo, o enviado de Deus.
b) A Missão da Igreja inspira-se na missão conferida pelo Pai ao Filho. A oração de Cristo em favor da igreja é para que esta, no cumprimento de sua tarefa, seja um instrumento divino para que o mundo creia:
18 Assim como tu me enviaste (a)poste/llw) ao mundo, também eu os enviei (a)poste/llw) ao mundo. 19 E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade. 20 Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra; 21 a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia (pisteu/w) que tu me enviaste (a)poste/llw). (Jo 17.18-21).
Após a ressurreição, Jesus Cristo estabelece a conexão entre a sua vinda e a missão de seus discípulos que lhes seria outorgada:“Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou (a)poste/llw), eu também vos envio” (Jo 20.21).
c) Na unidade da Igreja o Filho seria reconhecido pelo mundo como aquele que é amado e enviado do Pai:
22 Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; 23 eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça (ginw/skw) que tu me enviaste (a)poste/llw) e os amaste, como também amaste a mim.(Jo 17.22-23).
d) A história é regida por Deus que age por intermédio dos meios ordinários e extraordinários para cumprir o seu propósito glorioso. Jesus Cristo, o enviado de Deus, é o próprio Deus que confere sentido à história e à nossa existência. No final, na consumação da história, nós seremos glorificados nele e Ele será glorificado em nós e por nós (Jo 17.10/2Ts 1.10-12).
e) Não podemos ter uma fé vaga a respeito de quem é Jesus Cristo. A pergunta que continua a ressoar e cuja resposta faz toda a diferença se somos ou não cristãos é: “Mas vós …. quem dizeis que eu sou?”(Mt 16.15).
Maringá, 15 de fevereiro de 2020.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] Vejam-se também: Jo 5.24; Mc 11.22; At 20.21; Rm 3.22, 26; 4.24; Gl 2.20; 1Pe 1.21; 1Jo 3.23.
[2]“A personalidade de Deus, para os cristãos, é manifesta na personalidade de Jesus, à parte de quem não sabemos nada sobre Deus (Jo 14.7)” (Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 42).
[3]“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).
[4]John Owen, A Glória de Cristo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1989, p. 23. “Por meio da fé, Cristo nos é comunicado, através de quem chegamos a Deus, e através de quem usufruímos os benefícios da adoção” (João Calvino, Efésios, (Ef 1.8), p. 30).
[5]Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 4, p. 214.