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“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (12) - Hermisten Maia

“Eu lhes tenho dado a tua Palavra” (Jo 17.1-26) (12)

c) Rejeitar a Palavra de Cristo é o mesmo que rejeitar o próprio Cristo. O nosso julgamento será à luz desta Palavra

“Quem me rejeita (a)qete/w) (negar,[1]aniquilar,[2] anular,[3] revogar)[4] e não recebe (lamba/nw) as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia”(Jo 12.48).

A rejeição a Cristo já estabelece o julgamento. O não receber envolve o receber outra palavra, outra direção oposta. Não há sínteses possíveis aqui.

Quem rejeita o Filho, do mesmo modo, renega o Pai: “Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar (a)qete/w) a mim me rejeita (a)qete/w); quem, porém, me rejeitar (a)qete/w) rejeita (a)qete/w) aquele que me enviou” (Lc 10.16).

Paulo, consciente da procedência de sua mensagem, insiste no ponto de que rejeitar a mensagem por ele anunciada, é o mesmo que rejeitar a Deus, o seu Autor (1Ts 4.8);[5] ela deve ser entendida como a Palavra de Deus para nós.[6] (Voltaremos a tratar sobre esse ponto).

3.2.3. Aquele que recebe o servo de Cristo, O recebe. Quem recebe a Cristo, recebe o Pai.

 “Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe (lamba/nw) aquele que eu enviar, a mim me recebe (lamba/nw); e quem me recebe (lamba/nw) recebe (lamba/nw) aquele que me enviou” (Jo 13.20).

            Como é impossível ir ao Pai sem o Filho, e, da mesma forma, é impossível honrar o Pai rejeitando o Filho, receber a Cristo, o eterno Filho de Deus, significa receber também o Pai.

            De forma extensiva, vemos a dignidade, humildade e responsabilidade dos enviados por Cristo. Humildade, porque a fonte de sua autoridade e respeitabilidade, está em Cristo. Dignidade, porque foi enviado pelo próprio Senhor de todas as coisas, que graciosamente compartilha com seus servos a responsabilidade de anunciar o Evangelho (Ef 3.8)[7] e Responsabilidade, pela tarefa que temos de, como embaixadores de Cristo, representá-lo em nossa proclamação e testemunho, com fidelidade e integralidade, na certeza de que Deus agirá, conforme a sua boa vontade.

            O princípio estabelecido é bem resumido por Robertson:

Nunca confie em seus próprios poderes de persuasão como um modo de salvar os pecadores. Nunca espere até se sentir confiante para falar de Cristo. É em Deus e em sua verdade que as pessoas creem. Você deve continuar sendo apenas o instrumento.[8]

            Por isso, a aceitação da mensagem, é a aceitação do  próprio Cristo (Mt 10.40). Os vasos são modestos, porém, o seu conteúdo é de extremo valor: a Palavra do Senhor.

Algumas Aplicações

  1. A Igreja não tem poder para fazer com que as pessoas recebam e guardem a Palavra. Contudo, é sua missão facultar esta oportunidade por meio da pregação fiel da Palavra.
  2. A proclamação da Palavra faz parte do propósito eterno de Deus. Os escolhidos de Deus, confiados a Cristo, foram chamados por intermédio da Palavra transmitida por Cristo.
  3. A Missão da Igreja não termina na proclamação referente à salvação, antes, continua no ensino: A educação cristã é missão essencial da Igreja: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os (dida/skw)a guardar(thre/w) todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt 28.19-20).
  4. Revelamos o nosso amor a Deus por meio de nosso apego à Palavra como norma de todo o nosso pensar e agir.
  5. Há uma relação inseparável: O Pai, o Filho, o Espírito e a Palavra. Ninguém conhecerá o Pai se não for por meio de Cristo, o Logos eterno (a Palavra encarnada) que nos dá a Palavra de Deus. Por isso, ninguém pode dizer que crê em Deus e não crê em Jesus ou que crê em Deus, mas não aceita a Palavra.
  6. O que caracteriza o cristão não é simplesmente os seus bons sentimentos e intenções, mas, ter uma relação direta com Deus por meio da recepção da Palavra: “O essencial é estar definitivamente relacionado com esta mensagem, com esta palavra – “(eles) guardaram a Tua Palavra”.[9]
  7. O desafio para nós cristãos é guardar, nos agarrar à Palavra em todos os nossos caminhos, sustentando, zelando e perseverando nela até o fim.
  8. A Palavra de Deus, meditada e guardada no coração, é preventiva contra o pecado:“Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl 119.11).
  9. A nossa relação com a Palavra deve ser de recebê-la e guardá-la integralmente, visto ser toda ela inspirada por Deus (2Tm 3.16). Não guardamos apenas partículas que circunstancialmente podem ser úteis para os nossos interesses duvidosos. Portanto, toda a Palavra de Deus é um tesouro precioso para o servo de Deus.[10]

Maringá, 10 de fevereiro de 2020.

Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa


[1] Mc 6.26.

[2] 1Co 1.19.

[3] Gl 2.21; 1Tm 5.12.

[4] Gl 3.15.

[5] “Dessarte, quem rejeita (a)qete/w) estas coisas não rejeita (a)qete/w) o homem, e sim a Deus, que também vos dá o seu Espírito Santo” (1Ts 4.8).

[6] Veja-se: J. Calvino, As Institutas, I.9.3. “Quando os homens falam, não o devem fazer em seus próprios nomes, nem formular nada que seja de sua vã imaginação e de seu cérebro, mas têm que fielmente apresentar aquilo que Deus lhes determinou e deu em incumbência. (…) Se alguém se introduz para falar no próprio nome, nada há nesse, senão precipitação, pois toma sobre si o que pertence a Deus somente” (João Calvino, Sermões em Efésios, Brasília, DF.: Monergismo, 2009, p. 25).

[7]8A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo 9 e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, 10 para que, pela igreja, a multiforme sabedoria (sofi/a) de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, 11 segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, 12 pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele (Ef 3.8-12).

[8]O. Palmer Robertson, Jonas – um estudo sobre compaixão, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 48. Conrad Pellikan (1478-1556), um dos tradutores da Bíblia de Zurique (1529), comentando At 16.4, escreveu: “…. ninguém pode ter fé na Palavra por suas próprias forças, Mas somente pelo dom do Espírito Santo. Portanto, ao ouvir as promessas do evangelho, não tenhamos esperança no poder da carne, mas oremos para que o Senhor abra nossos corações, conceda-nos o dom do Espírito, coloque em nós a fé e nos preencha com a obra da justiça” (Esther Chung Kim; Todd R. Hains, Comentário Bíblico da Reforma – Atos, São Paulo: Cultura Cristã, 2016, p. 275).

[9]D.M. Lloyd-Jones, Seguros Mesmo no Mundo, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 2005 (Certeza Espiritual: v. 2), p. 80.

[10] Veja-se: C.H. Spurgeon, The Treasury of David,Peabody, Massachusetts: Hendrickson  Publishers, (s.d), v. 3, (Sl 119.11), p. 159.

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