Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (48)
Lloyd-Jones (1899-1981) comenta: [1]
Somente maridos e mulheres cheios do Espírito, é que terão uma verdadeira ideia do que um esposo deve ser e do que uma esposa deve ser, e em que deve consistir o relacionamento entre ambos. É o único meio pelo qual obter paz, unidade e concórdia, em vez de desunião, briga e separação, com tudo que resulta desses males.
Paulo é enfático: “Ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta (e)ktre/fw) (nutrir, sustentar) e dela cuida (qa/lpw) (aquecer, acalentar,[2] cuidar com afeição e carinho, acariciar[3]), como também Cristo[4] o faz com a igreja” (Ef 5.29).
Outro ponto destacado por Paulo associado ao enchimento do Espírito, é que os pais deveriam educar os filhos dentro dos princípios bíblicos. Não devemos nos esquecer de que a Bíblia também é a verdade no campo educacional. Ela deve ser a norma de todo o nosso pensar e agir. O propósito da educação bíblica é nos conduzir à maturidade, conforme a imagem de Cristo.[5]
Como pais, temos também a responsabilidade de não provocar a ira de nossos filhos com um comportamento que reflita o equívoco de predileções, falta de apoio, menosprezo, provocações, ironias, excesso de proteção etc.[6] (Cl 3.21; Gn 25.28; 37.3,4; 2Sm 14.13,28; 1Rs 1.6; Hb 12.9-11). A palavra “criai-os” (e)ktre/fw)[7](Ef 6.4) em contraposição à “ira”, indica que devemos criá-los ternamente, com brandura e amor, sem contudo, excluir a disciplina (paidei/a) e admoestação (nouqesi/a)[8] no Senhor.
Calvino recomenda aos pais: “Tratem-nos com a brandura e a bondade adequadas à personalidade de cada um deles”.[9] Notemos que o caráter de toda a educação e disciplina de nossos filhos – por meio de palavras e atos – é no Senhor. “O que caracteriza a criação cristã não é o método educacional, mas, sim, o propósito que se visa com ele”.[10] A educação cristã visa conduzir a criança ao Senhor.
A admoestação (nouqesi/a) apresenta a ideia de educar por meio da palavra, usando deste recurso para aconselhá-lo, estimulá-lo e encorajá-lo quando for o caso e, também, se necessário, fazer uso do mesmo meio para censurar, reprovar e repreender com firmeza (Compare: 1Sm 2.24/1Sm 3.13). Paulo diz que passou três anos em Éfeso não deixando incessantemente de “admoestar (nouqete/w),[11] com lágrimas, a cada um” (At 20.31).
A disciplina (paidei/a) é uma palavra mais ampla, abrangendo a educação não apenas verbal mas, também, por intermédio de atos que podem envolver rigidez com o objetivo de corrigir e ensinar.[12] Notemos, que a disciplina sendo mais abrangente – envolvendo a instrução e correção –, vinha primeiro. Já a admoestação parece ser após a execução da tarefa. Primeiro instruímos; depois, se necessário, exortamos e repreendemos ou, encorajamos conforme o comportamento do educando e as circunstâncias.
No Antigo Testamento, Eli foi repreendido por Deus porque os seus filhos que transgrediam a Lei (1Sm 2.22-25), não foram admoestados por ele: “Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele não os repreendeu (nouqete/w)” (1Sm 3.13). Salomão por sua vez, instrui: “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina (LXX: paidei/a) a afastará dela” (Pv 22.15).
Calvino (1509-1564) comenta:
O tratamento bondoso e liberal conserva a reverência dos filhos para com seus pais, e aumenta a prontidão e a alegria de sua obediência, enquanto que uma severidade austera e inclemente suscita sua obstinação e destrói seu respeito.
Mais à frente continua:
Deus não quer que os pais sejam excessivamente brandos com seus filhos, ao ponto de corrompê-los, poupando-os demais. Que sua bondade seja temperada, a fim de conservá-los na disciplina do Senhor, e corrigi-los também quando se desviarem. Essa idade requer frequente admoestação e firmeza com as rédeas, no caso de se soltarem.[13]
A Palavra é a fonte de onde parte todo o ensino cristão. Paulo, inspirado por Deus, escreve: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16-17).
O “proveitoso”, tem a ver com o objetivo de Deus para o Seu povo: que tenha uma vida piedosa e santa; seja maduro (perfeito).[14]
A maneira de o diácono governar a sua casa é um sintoma da sua capacitação ou não para exercer o seu ofício. Juntamente com sua família, ele deve se constituir num exemplo de vida cristã.
Portanto, podemos tomar como exemplo desse bom governo familiar o que Paulo prescreveu aos efésios (Ef 5.25-31; 6.4). Quem segue aquele padrão, certamente estará governando bem a sua família.
Maringá, 22 de agosto de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
[1] D.M. Lloyd-Jones, Vida no Espírito, p. 21.
[2] Conferir, entre outros: William F. Arndt; F. Wilbur Gingrich A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago: The University of Chicago Press, 1957, p. 351
[3] 1Ts 2.7.
[4] Aqui há uma variante textual que em nada modifica o sentido ou a teologia do texto. Em muitos manuscritos aparece a palavra Ku/rioj.
[5] Veja-se: Perry G. Downs, Introdução à Educação Cristã: Ensino e Crescimento, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, p. 17.
[6] Hendriksen faz uma lista de erros comuns cometidos pelos pais. Veja-se: William Hendriksen, Exposição de Efésios, (Ef 6.4), p. 325-326.
[7] Ocorre apenas duas vezes no NT., unicamente em Efésios: 5.29 e 6.4. A palavra apresenta a ideia de alimentar, sustentar, nutrir, educar. Calvino diz que este verbo “inquestionavelmente comunica a ideia de gentileza e afabilidade” (João Calvino, Efésios, (Ef 6.4), p. 181).
[8] Ocorre três vezes no NT.: 1Co 10.11; Ef 6.4; Tt 3.10.
[9]João Calvino, As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, v. 1, (III.68), p. 207. Em outro lugar e de forma mais genérica, escreveu: “A prudência, pois, aconselha que adequemos nossas instruções ao estado existencial de cada pessoa” (João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998 (Tt 2.10), p. 333).
[10] F. Selter, Exortar: In: Colin Brown, ed. ger. Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1982, v. 2, p, 176.
[11] * At 20.31; Rm 15.14; 1Co 4.14; Cl 1.28; 3.16; 1Ts 5.12,14; 2Ts 3.15. A prática da admoestação deve ser natural entre os crentes visando à sua correção (Rm 15.4; 1Ts 5.14; 2Ts 3.15) e aperfeiçoamento (Cl 1.28); no entanto ela deve ser feita com amor (1Co 4.14; 2Ts 3.15) e sabedoria (Cl 3.16). Considerando que esta é também uma tarefa dos líderes da igreja, aqueles que se esforçam neste serviço devem ser estimados pela igreja (1Ts 5.12).
[12] Platão (427-347 a.C.) faz também a combinação de Paidei/a com Nouqesi/a, sendo traduzidas por “ensinamento e admoestação” (Platão, A República, 399b. Fundação Calouste Gulbenkian p. 128). Veja-se: Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, 7. ed. London: Macmillan and Co. 1871, § xxxii, p. 104-108.
[13] João Calvino, Efésios, (Ef 6.4), p. 181.
[14] J. Calvino, As Pastorais, (2Tm 3.16-17), p. 264.