Diáconos e Presbíteros: Servos de Deus no Corpo de Cristo (11)
A graça da fé e do serviço
A Igreja é a comunidade formada pelo próprio Deus, sendo constituída por pessoas que tiveram e têm, pela graça de Deus, a fé salvadora depositada unicamente em Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, a igreja é constituída pelo povo que foi chamado para servir.
Na Igreja vemos a graça da salvação e a graciosidade do serviço. Servir é graça (2Co 8.4).[1] A resposta cristã à graça de Deus, é uma fé Cristocêntrica, que se concretiza em gratidão e serviço.
O mistério maravilhoso e insondável, é que a nossa resposta também é graça. Por isso, podemos afirmar que o lema da Reforma Somente pela Graça, significa dizer que toda honra e glória pertencem a Deus.[2] Esta é uma das maravilhosas doutrinas das Escrituras.[3]
“No Novo Testamento, ninguém vinha à Igreja simplesmente para ser salvo e feliz, mas para ter o privilégio de servir ao Senhor. E nós deveríamos ter diante de nós, o benefício que recebemos de servir e trabalhar na Igreja”, acentua com precisão Karl Barth (1886-1968).[4]
Todos os crentes recebem do Senhor talentos para servir nessa igreja. À luz do Novo Testamento, é inconcebível a existência de um cristão sem algum dom da graça.[5]Por sua vez, os dons recebidos têm muito a ver com as habilidades com as quais nascemos, mas, que na realidade, foram dadas também por Deus. Portanto, ensina Calvino, “Sejam quais forem os dons que possuamos, não devemos ensoberbecer-nos por causa deles, visto que eles nos põem sob as mais profundas obrigações para com Deus”.[6]
O que quero enfatizar, é que a raiz da palavra graça, é a mesma da palavra dom, no grego xa/rij, daí podermos falar da Igreja, como uma comunidade carismática, visto ser ela constituída daqueles que receberam a graça da fé e o dom para servir.
Mas, o que significa graça?[7] Graça, de forma mais ampla, incluído o conceito de misericórdia, pode ser definida como um favor imerecido, manifestado livre e continuamente por Deus aos pecadores que se encontravam em um estado de depravação e miséria espirituais, merecendo o justo castigo pelos seus pecados.[8] (Rm 4.4/Rm 11.6; Ef 2.8,9).[9]
No capítulo 4 da Epístola aos Efésios, Paulo trata de modo especial da unidade da Igreja dentro da variedade de funções. Assim, está implícita a figura tão cara a Paulo, a da Igreja como Corpo de Cristo, mostrando que o segredo do bom funcionamento do corpo é a utilização adequada de todas as suas partes.
Organicamente, cada membro, por mais insignificante que nos possa parecer, tem um papel importante a desempenhar dentro do equilíbrio do todo. Certamente, existem diferenças de beleza e elegância entre nossos órgãos, todavia, todos são essenciais.
Do mesmo modo, na Igreja de Cristo, ainda que haja diferenças entre nós, e não sejamos considerados pelos homens como dignos de algum valor, o fato é que todos somos essenciais no serviço do Reino: Devemos frisar, no entanto, que não somos ontologicamente essenciais; antes, Deus, por graça nos tornou essenciais no seu Reino e, por isso, agora o somos.
Maringá, 15 de junho de 2019.
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
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[1]“Pedindo-nos, com muitos rogos, a graça (xa/rij) de participarem da assistência aos santos” (2Co 8.4).
[2] Vejam-se: James M. Boice, Fundamentos da Fé Cristã: Um manual de teologia ao alcance de todos, Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2011, p. 449; D.M. Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1996, p. 125, 127.
[3] Veja-se: C.H. Spurgeon, El Tesoro de David, Barcelona: Libros CLIE, 1989, v. 1, (Sl 3.8), p. 27.
[4] Karl Barth, The Faith of the Church: A commentary on the Apostle’s Creed according to Calvin’s Catechism, Great Britain: Fontana Books, 1960, p. 116.
[5] Veja-se: H.-H. Esser, Graça: In: Colin Brown, ed. ger. O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1981-1983, v. 2, p. 322.
[6] João Calvino, Efésios, (Ef 4.7), p. 113.
[7] Trato desse assunto de forma mais abrangente em meu livro: A Soberania de Deus e a Responsabilidade humana, Goiânia, GO.: Cruz, 2016.
[8] Vejam-se outras definições em: A.W. Pink, Os Atributos de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 69; Idem., Deus é Soberano, São Paulo: Fiel, 1977, p. 24; A. Booth, Somente pela Graça, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1986, p. 31; João Calvino, Exposição de Romanos, (Rm 5.15), p. 193; R.P. Shedd, Andai Nele, São Paulo: ABU., 1979, p. 15; W. Hendriksen, 1 y 2 TimoteoTito, Grand Rapids, Michigan: S.L.C., 1979, (Tt 2.11), p. 419; L. Berkhof, Teologia Sistemática, p. 74; W. Barclay, El Pensamiento de San Pablo, Buenos Aires: La Aurora, 1978, p. 154; L. Boettner, Predestinación, Grand Rapids, Michigan: S.L.C., (s.d.), p. 258; D.M. Lloyd-Jones, Por que Prosperam os Ímpios, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1983, p. 103; J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, p. 120; Tom Wells, Fé: Dom de Deus, São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1985, p. 101; Samuel Falcão, Predestinação, São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981, p.100-101; James Moffatt, Grace in the New Testament, New York: Ray Long & Richard R. Smith. Ind., 1932, p. 5; Wayne A. Grudem, Teologia Sistemática, São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 146, 147; John Gill, “A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity,” The Collected Writings of: John Gill, (CD-ROM), (Albany, OR: Ages Software, 2000), I.13, p. 195-196; John MacArthur, O Evangelho Segundo os Apóstolos, São José dos Campos, SP.: Editora Fiel, 2011, p. 72.
[9]“Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida” (Rm 4.4). “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm 11.6). “8Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9não de obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8,9).