Deus transcendente e pessoal: O Deus conosco
Todos os povos ou puxam Deus panteisticamente para baixo, na direção daquilo que é criado, ou o elevam deisticamente, colocando-o infinitamente acima da criatura. Em nenhum dos casos se chega a uma verdadeira comunhão, a uma aliança, a uma religião genuína. No entanto, a Escritura insiste em ambos: Deus é infinitamente grande e condescendentemente bom; Ele é soberano, mas também é Pai; Ele é Criador, mas também é Protótipo. Em uma palavra, Ele é o Deus da aliança. − Herman Bavinck.¹
As Escrituras não tratam a Deus panteística nem deisticamente como normalmente ocorre com o pensamento pagão ao longo da história. Antes, nos mostra tal qual ele se revela.
Esta revelação encontra eco em nós pelo fato de Deus o fazer em categorias compreensíveis à nossa mente, já que Ele se “acomoda” à nossa compreensão.
A despeito do pecado, continuamos sendo a imagem de Deus, carregando conosco o senso do divino, sendo, portanto, incuravelmente religioso. Além disso, temos o seu Espírito que nos ilumina para podermos ter uma compreensão verdadeira das Escrituras.
As Escrituras não gastam tempo discutindo sobre as “provas da existência de Deus”, antes, nos apresentam um Deus que fala e age. Muito do seu agir é agenciado por sua palavra que cria, recria e transforma (Gn 1.1; 2.4).
Por meio de Isaías, Deus faz registrar: “Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e vivificar o coração dos contritos” (Is 57.15).
A Palavra de Deus nos ensina que Deus não pode estar limitado pelo universo, que é sua criação: Deus é infinito e, por isso, é imenso e eterno, transcendendo de forma perfeita todas as limitações espaciais e temporais, que são próprias da criatura, não do Criador, entretanto, Deus está presente em todas as suas criaturas e em todos os lugares. Com isso não queremos dizer que Deus esteja presente no mesmo sentido em todas as suas criaturas. Deus está em todo ser de acordo com a natureza deles; assim, afirmamos que Deus habita de uma forma no homem e de outra no mundo orgânico, de outro no mundo inorgânico, etc. A forma como Deus está em nós, no seu povo, é diferente da forma como Ele habita nos incrédulos. Deus está presente agindo soberanamente numa interminável variedade de maneiras.
Desta forma, afirmamos a transcendência de Deus, negando com isso o panteísmo; e, afirmamos a imanência de Deus, partindo de um fato real: a Revelação de Deus, negando, portanto, o deísmo.
A fé cristã crê que a criação de todas as coisas o foi pela vontade livre, que nos é inacessível, e soberana de Deus. Ao mesmo tempo, crê que esse mesmo Deus sustenta a realidade, se revela, e se relaciona pessoalmente conosco.
O Deus criador não abandona a sua criação. Deus continua presente. Por isso, ele continuará dirigindo o nosso país e a nossa vida. Que isso nos encoraje e console. Amém.
São Paulo, 08 de novembro de 2018.
Rev. Hermisten M.P. Costa
¹ Herman Bavinck, Dogmática Reformada, São Paulo: Cultura Cristã, 2012, v. 2, p. 580.